The Warning no Lisboa ao Vivo – Do México com Amor e Fúria

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Foi bom e dá vontade que mais destes intercâmbios se verifiquem… e multipliquem.

São três irmãs e têm sido fenómeno sério no panorama musical no país natal, a encher as maiores salas e internacionalmente a fazer tournées com, por exemplo, os Muse ou os Royal Blood. Daniela Villarreal Vélez (vocalista e guitarras), Paulina Villarreal Vélez (bateria) e Alejandra Villarreal Vélez (num baixo especialmente engenhoso) começaram a rockar como The Warning em 2013 ainda na sua meninice (nasceram todas entre 2000 e 2004). Na década entretanto as nativas de Monterrey tornaram-se num fenómeno, desde o tempo em que faziam uma versão de “Enter Sandman” dos Metallica – que fez sucesso no YouTube e gerou admiração pública de Kirk Hammett pela baterista -, até aos originais que têm sido divulgados, em especial o álbum Error, de 2022.

Na sua visita ao Lisboa ao Vivo, a primeira parte ficou a parte das Conquer Divide, banda americana que alguns críticos classificam como metalcore. Há que dizer que foi um concerto esforçado perante uma casa já muito bem composta pelas 21h, mas os problemas estruturais ao nível do som, em particular no que diz respeito aos vocais, tornaram as letras cantadas por Kiarely Castillo especialmente crípticas. Fez sentido e houve simpatia de parte a parte, com as interpretes rapidamente a deslocarem-se até à entrada da sala onde se vende o cada vez mais crítico merchandising, e terem interessados a deslocarem-se até lá.

Vamos ser sinceros, não há saco para intervalos de 30 minutos em concertos onde não há praticamente nenhuma mudança de cenário e as alterações de instrumentos são padrão. Até por isso, e não só por isso, a impaciência já imperava em vários membros do público quando arrancava, pouco depois das 22h, o concerto das The Warning. Há este engulho, mas esse acaba por ser de pequena duração perante a simpatia das três irmãs, que começam logo a atuação com “Sick”, single novinho de 2024 e que fará parte do próximo longo, Keep Me Fed, com publicação prevista daqui a poucos meses. O sotaque americano no inglês dito ao microfone é claro, mas as interjeições no contacto com o público são bem mexicanas, num contacto cuidado de quem sabe que não está em Espanha, e que mesmo perante alguns membros mais entusiastas do público (pelo menos uma bandeira do México foi avistada) a pedir que falem em castelhano, uma abordagem trilingue foi seguida, em que o cuidado por um simpático “obrigado” foi sempre mantido não obstante o calor da proximidade da língua mãe.

É assim que deve ser, o sorriso pelo sentir de proximidade cultural com noção pela identidade própria, num concerto que não é com certeza dominado pelo mercado da saudade, mas mais pela curiosidade global pelo fenómeno. Que, aliás, se percebe bem o motivo ao longo do concerto. As irmãs Villarreal Vélez têm atitude, voz, imagem e capacidade de interpretação num mundo de ajudas eletrónicas e, apesar da tenra idade, já muitos quilómetros de estrada, caminho que não tem substituto para criar uma boa atuação em palco. São, até, uma raridade no cenário atual por estas características, e por simbolizarem a restauração de um rock mais pesado e alternativo ao seu habitat natural sem deixar de o mesmo ter um impacto mediático forte, em especial na sua pátria.

Foi, portanto, um concerto onde depressa se criou conforto de parte a parte, onde o frete não ousou criar habitat, desde a mais baladeira (no início) “Choke”, à mais próxima da lógica emo “Dull Knives”, até à chegada de “More”, que é um gigantesco single. Irresistível na sua capacidade orelhuda e de criar coros cantados pelo público, seguida por outro sucesso, “Money”.

“Disciple” é outra malha onde o metralhar da bateria e a capacidade de cantar refrões garante resposta, e as cantadas na língua mãe “Martirio” e “Narcisista” tiveram aqui um lar que na Europa além Pirenéus se adivinha que não tenham com facilidade. Foi bom e dá vontade que mais destes intercâmbios se verifiquem, e multipliquem.

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