Estamos quase no fim do nosso passeio pela Rota Turística e Gastronómica dos Queijos do Centro do País, mas espera-vos, ainda, o terceiro “diário de bordo”, desta vez pela região de Penela.
Antes de passarmos para o terceiro, e último, dia deste roteiro, devem pôr-se a par do primeiro dia e do segundo também. Após estes três diários de bordo, resta contar-vos um pouco da conversa com as responsáveis pela Rota, mas isso ficará para outra altura.
Rota Turística e Gastronómica dos Queijos da Região Centro – Dia 3, Proença-a-Nova, Penela e Ansião
Amoras Country House Hotel
Acordei em Proença-a-Nova, num dos maravilhosos quartos do Amoras Country House Hotel. Ao pequeno-almoço acompanhou-nos Fernando Almeida, dono do hotel, que nos contou mais sobre o alojamento e a história deste.
Fernando foi engenheiro civil durante mais de 30 anos, mas numa passagem por Proença-a-Nova, em 2017, apaixonou-se por um espaço fechado, onde outrora existira um outro hotel, mas que viria a ser o atual Amoras Country House Hotel. Não resistiu, foi amor à primeira vista, e comprou o edifício, uma mansão do começo do século XX, que se encontrava à venda em hasta pública.
No ano seguinte, em 2018, procedeu à reestruturação da empresa, renovação e redecoração do espaço. O hotel prima pela sustentabilidade e exemplos disso são o funcionamento à base de painéis solares ou o furo que tem no exterior para a água.
O nome do hotel já provem da antiga gerência; contudo, sofreu uma “modernização”. As “Amoras” mantiveram-se, o que levou à curiosidade dos clientes em saber onde estavam as amoras reais. A título de curiosidade, Fernando explicou-nos que inevitavelmente tiveram de ser plantadas amoreiras no jardim do hotel, para fazer jus ao nome que atrai os clientes. Foram também plantados medronheiros e, atualmente, os doces que acompanham o pequeno almoço dos hóspedes é feito das frutas colhidas no próprio hotel.
O Amoras Country House Hotel tem 32 quartos – todos com casa-de-banho privativa, ar condicionado e minibar – e uma suíte; contudo, confessou Fernando, esta não é comercializada. Isto porque a suíte é o seu quarto, quando o hotel se torna, momentaneamente, a sua casa. Os hóspedes podem ainda usufruir de piscina e jacuzzi exteriores.
O hotel tem um restaurante aberto ao público, o Despensa-a-Nova. É aqui que os clientes podem deliciar-se com o Arroz de Cabrito, a especialidade da casa saída diretamente da imaginação do dono. Além disso, o Despensa-a-Nova também aposta em pratos típicos da região, como o Plangaio, feito com o espinhaço do porco e possível de saborear em qualquer altura do ano. Para incorporar o espírito da Rota dos Queijos da melhor forma, Fernando conta que a cozinha criou uma entrada à base de plangaio e queijo, o Brás de Plangaio.
Os preços começam nos 70€ com pequeno almoço. Mas podem informar-se melhor aqui.
Ferraria de São João
O programa do terceiro dia iniciava-se com um passeio pelo Trilho do Rebanho. Mas como o São Pedro não ajudou, ficámo-nos por Ferraria de São João, uma pitoresca aldeia com cerca de 40 habitantes pertencente à freguesia de Cumeeira, concelho de Penela. A Serra da Lousã recebeu-nos com muito nevoeiro e muito frio que, confesso, não estava de todo à espera.
Ferraria de São João está inserida na rede das Aldeias de Xisto, apesar de, como nos foi explicado, não ser edificada em xisto, mas sim em quartzito. Pode não ser rica em património arquitetónico – a arquitetura das casas é obra do “saber fazer” – mas é rica em simpatia e em atividades de lazer. O comité que nos recebeu dividia-se entre representantes da Associação de Moradores da aldeia e guias da GeoNatour. E logo pude confirmar a simpatia das gentes que ali moram.
O sentimento de comunidade é palpável, e um pouco por toda a aldeia – que não é muito grande – existem instalações comunitárias, possíveis de serem utilizadas por qualquer pessoa, como a eira, os moinhos ou os currais. O que nos levou a visitar Ferraria de São João foi o queijo que lá é feito, que apesar de não ser DOP, é um dos motivos de orgulho dos moradores.
Outro motivo de orgulho dos moradores é a “muralha de sobreiros” que rodeia a aldeia num raio de, pelo menos, 100 metros. Trata-se de um ex-libris nascido da vontade e da união das gentes de Ferraria de São João para proteger as suas terras e casas, após o grande incêndio de junho de 2017.
Existem alguns alojamentos na aldeia para receber turistas ou, quem sabe, para um fim-de-semana longe da agitação da cidade. Aconselho a passear pela natureza à volta de Ferraria de São João, ou a pegar na bicicleta e seguir o trilho de BTT que ali começa – há um Centro de BTT na aldeia, e é provável que seja uma das melhores forma de conhecer o território. Mas se preferirem ficar pela aldeia, saibam que existem diversas atividades para ocupar o tempo.
Há workshops dinamizados pela Associação de Moradores nos quais os turistas podem aprender mais sobre o queijo, como é feito, etc… ou ainda sobre a broa que é feita nos fornos comunitários da aldeia. Para se envolverem no espírito da aldeia com qualquer um destes workshops ou para saber mais sobre Ferraria de São João, podem visitar o site da Região de Coimbra.
Castelo de Penela e Restaurante Dom Sesnando
Seguimos caminho até a um dos dois castelos de Penela, onde nos aguardava Mário Duarte, Chefe de Divisão da Cultura da Câmara Municipal de Penela.
O município de Penela está integrado na região do Queijo Rabaçal, e a sua riqueza, como Mário Duarte nos disse, é “a diversidade do meio físico“. Após ficar a conhecer as histórias e lendas do castelo e daquela região, chegou a hora do almoço.
O almoço foi no Restaurante Dom Sesnando, localizado no sopé do castelo por onde me aventurei momentos antes. Da cozinha da Dona Minda, mãe do proprietário Carlos Zuzarte, saíram para a mesa diversas iguarias que em comum, claro está, tinham o Queijo Rabaçal, característico daquela região.
A destacar, sem qualquer dúvida, as entradas: um maravilho Queijo Rabaçal Gratinado com Mel da Lousã e o Folhado de Queijo Rabaçal com Mel e Noz, além do Cheesecake, uma das sobremesas do Dom Sesnando nas quais podemos saborear o produto protagonista deste meu passeio. Como Carlos Zuzarte explicou, a gastronomia local faz parte da identidade do restaurante desde a sua abertura. Por isso, para prato principal, agraciou-nos com uma Chanfana, tão típica da zona.
Queijaria Prado da Sicó
É verdade, estamos a chegar ao fim destes três dias repletos de sabores, saberes e bonitas paisagens. Mas antes ainda há tempo para uma paragem na Queijaria Prado da Sicó, em Santiago da Guarda, Ansião, onde Fátima Carvalho, a proprietária, já está à nossa espera.
Criada em 2010, e alvo de requalificação em 2019, a Prado da Sicó é uma queijaria tradicional, mas virada para a modernização, que emprega cerca de 50 pessoas.
Na fábrica há produção durante todo o ano. Isto porque existe uma estratégia, uma “gestão de tempo dos produtores“, como Fátima Carvalho explicou, que permite que a matéria-prima, o leite, não esgote.
Mas a Prado da Sicó não é apenas uma fábrica. Há também uma loja aberta ao público onde é possível encontrar outros produtos típicos daquela região, como enchidos ou mel. Não são de produção própria, mas sim de produtores locais, numa espécie de intercâmbio para que o típico prevaleça. Na pequena loja esconde-se um pequeno segredo: uma montra com vista direta para a fábrica.
Tem ainda um pequeno restaurante onde são servidas refeições como hambúrgueres, pica pau, bifinhos de novilho com queijo ralado, e outros petiscos. Os visitantes podem ali, após experienciar e assistir ao processo da criação do queijo, provar uma tábua com enchidos ou ainda uma tarte de requeijão, e assim saborear o que acabaram de ver ser feito.
As visitas são através de marcação para o 236678307, e incluem degustação.
E é em Santiago da Guarda que termino a minha visita à região centro do país e a minha degustação dos melhores queijos do país. Agradeço a oportunidade e o convite à InovCluster, empresa criadora do Projeto Rota Turística e Gastronómica dos Queijos da Região Centro.