Reportagem NOS Alive 2022 (Dia 1) – O regresso ao sítio do costume, mas com menos gente

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Apesar da afluência ser inferior ao normal, os concertos não deixaram a desejar.

Texto de: Alexandre Lopes e Diogo dos Santos

Estávamos em 2020, ainda antes da pandemia lixar os nossos planos, quando o NOS Alive já contava, para esse ano, com nomes como Kendrick Lamar, Taylor Swift, London Grammar, Billie Eilish, Faith No More, Cage The Elephant, Finneas e Anderson .Paak, entre outros. Com o adiamento do cartaz para o ano seguinte, a coisa já mudava bastante, como por exemplo com a inclusão dos Red Hot Chili Peppers, que prometiam levar milhares de festivaleiros ao Passeio Marítimo de Algés.

Mas como o festival também não aconteceu em 2021, o cartaz voltou a alterar bastante até ao seu lineup final para estes dias. Não há Kendrick Lamar, Taylor Swift, Red Hot Chili Peppers, London Grammar, Billie Eilish, Faith No More, Cage The Elephant, Finneas, Anderson .Paak, mas há Florence + The Machine, The War on Drugs, Jungle, Stromae, Metallica, Royal Blood e outros. Pior? Não necessariamente, mas é um cartaz francamente diferente do anunciado em 2020. E os festivaleiros, que guardaram os seus bilhetes desde essa altura ou pediram reembolso, podem não ter respondido à chamada.

Foi essa a sensação com que ficámos quando, ao entrar no recinto, e já depois de apanharmos o shuttle que levava a imprensa ao festival, demos de caras com imenso espaço livre, algo que noutras edições seria impensável. Mas se uns podem estranhar esta falta de mancha humana, outros agradecem. Afinal de contas, há menos atropelos, menos gente, menos confusão. Logo um festival mais confortável. Pelo menos neste primeiro dia.

As marcas continuam lá, os palcos no mesmo sítio, e foi já com os Jungle no Palco NOS que demos início ao nosso serão. Alguns podem achar ingrato meter esta fantástica banda às 19h, quando muitos ainda estão a sair do trabalho e a chegar ao recinto, mas a tropicalidade dos Jungle, banda liderada por Josh Lloyd-Watson e Tom McFarland, assenta que nem uma luva no clima que se proporcionou: uma bela tarde ensolarada.

Sempre a puxarem pelo público, quer fosse a entoar as letras ou a mexer a anca, ver os Jungle num palco daquela dimensão podia fazer com a que banda fosse engolida, mas não foi isso que aconteceu. Ainda que muitos tivessem preferido vê-los numa hora mais tardia, num espaço com menos gente, onde certamente estariam os maiores fãs, a verdade é que ouvir temas como “The Heat”, “Happy Man”, “Time” ou “Busy Earnin’”, a fechar a atuação em beleza, sabe bem em qualquer hora e qualquer lugar, seja no NOS Alive ou num resort enquanto bebemos um cocktail. E mesmo que este concerto não tenha sido particularmente diferente de outros que já deram por cá, ninguém se queixa de mais um outro. Boa música, boa vibe. É o que se quer.

Devido às alterações de lineup de última hora, os Modest Mouse, que deveriam ter atuado à 1h da manhã, subiram a palco na pior hora possível: 20h da noite, hora propícia para aconchegar o estômago, e que fez com que muitos perdessem a atuação da banda, que não dá concertos por aí além em Portugal. Pior: a organização somente anunciou nas redes sociais as alterações de horários e, como muitos preferem fazer descansar o smartphone dentro do recinto do NOS Alive, muitos nem sequer sabiam desta alteração. É pena.

Foi na fila para jantar e enquanto nos alimentávamos que demos uma ou outra olhadela, através da TV, ao espetáculo dos Modest Mouse, mas sem que conseguíssemos prestar atenção. De resto, nem foi preciso um pequeno compasso de espera para vermos ao vivo uma das bandas que mais toca cá por casa: os The War on Drugs.

Adam Granduciel tem nos seus The War on Drugs o projeto de uma vida, projeto esse que fundou com o ex-membro Kurt Vile e com o qual chegou também a colaborar nos The Violators. Mas foi somente com a saída de Kurt Vile, e com o consequente lançamento de Lost in the Dream, terceiro álbum de estúdio e já sem a colaboração deste último, que a banda originária de Philadelphia foi catapultada para o estrelato.

Lost in the Dream, A Deeper Understanding e I Don’t Live Here Anymore são discos que fizeram com que os The War on Drugs se tornassem, no fundo, uma banda mais mainstream, permitindo que a banda alcançasse outras paragens e pudesse começar a tocar para milhares e milhares de pessoas em todo o mundo.

Em Portugal, a banda estreou-se no pequeno, mas mítico, Musicbox, em 2012, ainda antes do certeiro e terceiro disco, que os fez estrear noutros palcos portugueses, como Paredes de Coura, Primavera Sound e o próprio NOS Alive, onde já tinham atuado no palco secundário em 2014. Oito anos depois, os norte-americanos foram promovidos ao palco principal do evento e, ainda que muita gente não estivesse ali por eles, deram um belo concerto.

Com uma ótima qualidade de som, o alinhamento focou-se, lá está, nos mais recentes discos, até porque os hits daí saíram. Falamos de “Red Eyes”, “Under the Pressure” (poderosíssima ao vivo), “Pain”, “Harmonia’s Dream” (infelizmente a menos bem conseguida em versão concerto, pois parece haver uma miscelânea demasiado evidenciada dos vários instrumentos), “Change” e “I Don’t Live Here Anymore”. À semelhança do que aconteceu com Jungle, embora a noite começasse, aos poucos, a cair, ainda não eram muitos os que viam a banda, mas o público começou a compor-se, e a aderir mais ao concerto, à medida que as músicas iam debitando.

Lá está, pedia-se um espaço mais reduzido, uma hora mais adequada, para apreciar as guitarradas e solos épicos de Adam Granduciel e companhia, mas o espetáculo foi conquistando os presentes aos poucos e poucos – e ainda bem que o vento não chateou. Para ser ainda melhor, talvez tirássemos ali uma ou outra canção do alinhamento, substituindo por um tema mais orelhudo. Agora só pedimos mesmo é um concerto em nome próprio, no Coliseu. Tratem lá disso sff.

Ainda o concerto dos The War On Drugs ia a meio e os Fontaines D.C. já começavam a puxar das guitarras no palco Heineken, que se apresentava a abarrotar, talvez devido ao número de pessoas que tinha curiosidade em descobrir mais sobre a banda. Sinceramente, depois de três ótimos álbuns, dos quais Dogrel (2019), o seu aclamado álbum de estreia, A Hero’s Death (2020) e Skinty Fia, lançado em abril deste ano, este era um dos concertos que Portugal precisava de receber, e para grande surpresa, foi o nos Alive a apresentar a banda, quando a minha aposta recairia sobre o Primavera Sound.

A banda irlandesa subiu ao palco com aquele que se viria a provar ser um repertório de luxo com grandes malhas. O que não correspondeu foi o balanceamento do volume no palco Heineken, que estava incrivelmente alto, amplificando-se ainda mais devido ao facto da banda se focar nos géneros Punk Rock/Post Punk e não ter muitas faixas melódicas (pelo menos até Skinty Fia, o seu álbum mais recente).

Ainda assim, a banda irlandesa agitou mentes e corações, mesmo com os The Strokes à porta a roubar grande parte da audiência com que o concerto começou. Com isto, muita gente perdeu um final épico durante “Too Real”, com Carlos O’Connel a puxar pela guitarra com uma garrafa da Super Bock – não devia ser uma garrafa de Heineken? – e Conor Deagan III a tocar baixo sentado na beira do palco, enquanto o vocalista, Grian Chateei ,deambulava pelo palco. “Televised Mind”, “Too Real (claro)”, “I Don’t Belong”, “Jackie Down The Line” e “I Love You” a fechar com estrondo foram as grandes estrelas da noite, num concerto que merecia muito mais.

Já os The Strokes, cabeças de cartaz deste dia inaugural do NOS Alive, eram uma das bandas que constavam no lineup de 2020, que nunca chegou a acontecer, mas foram capazes de reafirmar o compromisso com a promotora. Quanto ao concerto em si, que começou com 20 minutos de atraso, tão característico da banda de Julian Casablancas, certamente que não impressionou ninguém, mas também não foi mau.

Só quem nunca viu um concerto da banda ao vivo pode achar terrível – e são muitos os que criticam a atuação nas redes sociais – o que aconteceu ontem: o já mencionado atraso, alguns enganos, vocalista a esquecer-se das letras, a ser cringe – além de não dizer particularmente nada de incrível, muitas vezes nem se percebia o que dizia -, com um ar de quem bebeu demais… Os The Strokes são isto.

Mas calma que nem tudo é mau. O som, como já se deu a entender, estava em perfeita condições – mas era escusado terem assassinado a “Under Cover of Darkness” naquele tom e tocada de forma mais pausada, com os sons das guitarras bem sofríveis – e a voz de Julian Casablancas… estava surpreendentemente afinada. Não é propriamente comum, diga-se. E sejamos sinceros: os The Strokes não são particularmente brilhantes ao vivo. Até o podem ser (ou já o foram) em estúdio, mas a máquina não está bem oleada para apresentações perante o seu público. E as várias pausas também não ajudaram.

Em todo o caso, esta apresentação no NOS Alive foi bastante razoável, até, tendo em conta o historial algo problemático da banda. Os temas mais conhecidos, como “Reptilia”, “Someday”, “You Only Live Once” ou “Juicebox”, neste caso já no encore, foram bem recebidos, mas alguém se esqueceu de “Last Nite”, que certamente causaria euforia nos fãs da banda.

Por último, a fechar em beleza, Stromae, a provar que a língua não é barreira quando o artista é bom e o show é ainda melhor. No meio de uma produção recheada de aesthetics na qual constavam quatro postos de som nos quais a banda se espalhava, pudemos assistir a um trabalho de projeção de luz e imagem em plataformas móveis absolutamente fenomenal. Do meio disto tudo surgiu o belga de 37 anos, que, por incrível que pareça, conseguiu brilhar e ofuscar toda essa produção muito graças à sua presença única, caricata e forte.

Se, inicialmente, tinha as minhas desconfianças se Portugal estava pronto para o ter como cabeça de cartaz no palco principal do NOS Alive, com a receção calorosa que teve da maioria da audiência, fiquei sem dúvidas nenhumas que Stromae foi o grande headliner da primeira noite.

O espetáculo decorreu de forma fluída, sempre com atenção à estética por detrás das músicas, que contrastam de forma gritante entre ao que soam e à mensagem que passam. E no meio disso tudo esteve Stromae, com uma performance que teve uma aceitação global por ter estado muito acima das expectativas.

Durante a setlist preparada para a noite em Lisboa – Oeiras, vá -, palavra que o belga repetiu inúmeras vezes para felicidade dos portugueses, pudemos ouvir pela primeira vez faixas como a poderosa “L’enfer”, “Fils de joie” ou “Santé” já perto do fim. Pelo meio, “Papaoutai” numa versão estendida agarrou quem não estava tão familiarizado com a generalidade do trabalho do artista. Já perto do fim e com muitos agradecimentos pelo meio, foi “Alors on Dance” numa versão estendida que levou o público ao lugar onde esperavam chegar quando se comprometeram a ficar até aos últimos instantes do concerto.

Escusado será dizer que o entusiasmo foi geral, de tal forma amplificado, que contagiou Stromae. Daí surgiu algo inesperado, um sentimento de gratidão que levou o artista a um ponto em que era ele quem queria que o concerto se estendesse mais. Sem mais músicas para tocar definidas, com um pedido de silêncio ao público, em troca o público pode usufrui de um momento bonito de acapella, que fechou de vez o concerto. 

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