Jim Jefferies: diretamente da Austrália para um Campo Pequeno repleto de fãs de stand up comedy

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A tour Give’Em What They Want trouxe o australiano pela primeira vez a Portugal num espetáculo com várias camadas de humor.

Jim Jefferies é, por mim, considerado um dos melhores humoristas da atualidade. Um génio a escrever humor negro e a cativar o público. Coincidência ou não, foi o primeiro espetáculo de stand up comedy que analisei, para um blog atualmente já extinto.

Na altura escrevi sobre o special Freedumb, disponível na Netflix, e ainda me lembro como começava o texto: “Como um rockstar. É assim que Jim Jefferies entra em palco“. E posso dizer que esse excerto poderia, também, iniciar a minha crítica ao mais recente solo Give’Em What They Want, que passou pelo Sagres Campo Pequeno no passado dia 12 de maio.

Eu estive lá e quero partilhar com vocês, quer tenham, ou não, estado presentes naquele público em grande parte constituído por estrangeiros. Recordem comigo a estreia de Jim Jefferies em Portugal.

O Sagres Campo Pequeno encheu para ouvir stand up comedy em inglês

Antes de passar à crítica das atuações, tenho que deixar uma nota positiva para o público. Confesso que quando soube da vinda de Jim Jefferies a Portugal – e das confirmações de muitos outros humoristas internacionais nos próximos meses – fiquei receoso. O público de stand up comedy em Portugal não é certo. Ou seja: há humoristas portugueses que veem ser complicado encher uma sala, e ainda há aquela mentalidade de levantar e ir embora a meio da atuação apenas porque não se ter gostado de certa piada.

No Sagres Campo Pequeno tal não aconteceu. A plateia estava quase esgotada, o que é ótimo, porém uma grande fatia do público era estrangeira, que se levantavam constantemente, não para ir embora, mas sim para ir buscar cerveja. Podem não ter sido a melhor companhia, mas, na minha opinião, foram um público excecional.

E agora sim, comecemos pelo início e pelos três humoristas que abriram a noite, com sets de cerca de 10 minutos: Amos Gill, Forrest Shaw – ambos se estrearam em Portugal também – e o português André de Freitas, que anda na estrada com os Comedy Therapy.

Amos Gill – admito que não conhecia – abriu as hostes e arrecadou gargalhada atrás de gargalhada, num set cheio de ritmo. Fiquei fã.

Seguiu-se André de Freitas, que conquistou o público com um texto em inglês – totalmente compreensível, era uma noite falada em vários tons de inglês. Um dos bits do português levou-me a ouvir o podcast que tem com Vasco Elvas, considerando que é o tema de um dos episódios – obviamente que não vou contar mais que isto para não estragar qualquer atuação que ele possa ter no futuro.

O aquecimento fechou com Forrest Shaw – também não conhecia, e vou ter que dar uma segunda oportunidade -, com um humor mais autodepreciativo. Pessoalmente já fui fã desse género de humor, porém, creio que, atualmente, é apenas uma maneira barata de fazer rir as pessoas.

Devem estar a questionar-se o porquê de não fazer uma análise mais aprofundada a cada um dos humoristas. A resposta é simples: os três textos foram muito similares. Apesar das claras diferenças de ritmo e de presença em palco – Gill encheu o palco como se a noite fosse só dele, e a Shaw faltou algum ritmo – as temáticas presentes nos sets dos três humoristas foram parecidas. Podem resumir-se a relações, sexo e falta de relações e de sexo.

Passemos ao main act da noite: Jim Jefferies

Como um rockstar. É assim que Jim Jefferies entra em palco em Give’Em What They Want. Sim, eu disse que poderia iniciar a minha crítica com este excerto, mas ele entra da mesma forma nos últimos specials, à exceção de This Is Me Now, de 2018, onde toda a vertente visual foi bastante diferente.

Neste novo solo, o australiano aposta no mesmo cenário do mais recente special que estreou na Netflix, High n’ Dry. Um simples sofá, um banco e o microfone em cima do palco, suficiente para todo o espetáculo que Jefferies daria ao longo de pouco mais de uma hora.

O início da atuação é em tudo similar a High n’ Dry: um bit sobre a pandemia. As piadas não são as mesmas, o texto é diferente, mas a temática é a mesma. O humorista começa a sua performance de uma forma bastante relacionável e assim ganha logo o público.

Apesar de algumas críticas por parte dos fãs ao último espetáculo, o ritmo característico de Jefferies está presente em 100% de Give’Em What They Want – quem sabe se o nome da tour não é uma resposta precisamente a essas críticas…

A presença em palco também é constante, o que não é novidade. O comediante toma o palco em toda a sua largura, corre de um lado para o outro, e chega a deitar-se no chão numa veia de improviso que serviu para gozar – de forma saudável – com um heckler (aquele típico membro da audiência que se acha mais engraçado que o humorista e grita por cima das palmas e das gargalhadas). Jefferies “destruiu” por completo essa pessoa em cerca de 10 minutos improvisados que arrecadaram um dos maiores aplausos da noite.

O género humor pode não ser tão ácido, ou negro, como outrora, mas o australiano continua no meu top de humoristas internacionais. Está crescido, o Jim. Já não é Jim desbocado. É um Jim casado, com filhos e mais ponderado – tanto que admitiu ter algumas piadas negras escritas mas que se ia abster de as contar, tal era o nível de “acidez”.

Jim Jefferies termina com uma história pessoal, que se passou durante o confinamento. Sem spoilers, pois acredito que o espetáculo possa tornar-se mais um special – não da Netflix porque há um momento de desdém para com a gigante do streaming -, digamos que o humorista quase que poderia ter morto um herói da comédia britânica.

Foi um espetáculo com “várias camadas de humor“, como o próprio disse. Para quem dizia que Jim Jefferies estava frouxo desde que deixou de beber, aconselho vivamente a verem este espetáculo, supondo que possa ficar disponível algum momento no futuro.

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