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Irem Collection Vol. 2 é uma coleção um pouco desequilibrada que é perfeita para os fãs e os saudosistas pelos tempos áureos dos salões de jogos. Eu disse saudosistas? O que queria dizer era “masoquistas”.

A ININ Games continua o seu excelente trabalho de preservação, desta vez ao dar continuidade à revisão do catálogo exemplar da Irem. O estúdio que nos trouxe clássicos como R-Type e Disaster Report apresenta um catálogo extenso de títulos árcade que marcaram os salões de videojogos e influenciaram géneros desde as aventuras em plataformas, jogos de ação e até “run and guns”, perfeito para nos roubarem moedas devido à sua extrema dificuldade. Depois de um primeiro volume dedicado aos shooters espaciais, com títulos como Image Fight e X-Multiply, a ININ Games aposta agora numa sequela para a sua compilação da Irem, com uma retrospetiva a uma das séries mais influenciadoras da Irem, mas, arrisco-me a dizer, cujo impacto não se fez sentir tanto na Europa. Mas é para isso que estas iniciativas servem, dar a conhecer algo antigo a um novo público, e o segundo volume conta com os títulos GunForce, GunForce II, Air Duel e ainda a versão SNES de GunForce, que essa sim, chegou ao Ocidente.

GunForce e GunForce II, também conhecido no Japão como GeoStorm – nunca antes lançado fora dos salões de jogos, o que equivale a uma estreia nas consolas depois de 30 anos –, são os grandes destaques da Irem Collection Vol. 2. Os jogos de ação, também apelidados de run and gun games, centram-se nos confrontos explosivos, nas armas destrutivas, nas montadas robóticas – que servem como método de ataque diferenciado, mas também como uma barreira ou escudo temporários ao protegerem os heróis das balas inimigas – e nas enormes explosões que preenchem o ecrã com projéteis e efeitos visuais tão invasivos que destroem completamente o frame rate de ambos os jogos. A presença de cenários e objetos destrutíveis cria uma sensação de impacto forte e vemos essa representação de dano constantemente nos cenários, demonstrando a mestria e atenção aos detalhes que a Irem depositava nos seus videojogos.

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GunForce II – Irem Collection Vol. 2 (ININ)

Até certo ponto, a série GunForce é uma percursora de Metal Slug e das suas várias sequelas, partilhando muito do seu ADN. Talvez seja mesmo o seu ponto de partida, a sua grande influência, já que a ação é semelhante a nível de caos e dificuldade, tal como a combinação entre a recolha de armas temporárias com a utilização de mechas e outros veículos que podemos utilizar em combate. O design visual é diferente, longe da vertente militar de Metal Slug, com GunForce a assumir-se mais como um jogo de ação e ficção científica com vários robôs, androids e enormes mechas que podemos destruir ao longo dos níveis. Mas até os efeitos sonoros são semelhantes entre ambas as séries, nomeadamente GunForce II e o primeiro Metal Slug, quase como se faltasse apenas um elo de ligação para tornar ambas as sagas inseparáveis. No fundo, é o mesmo tipo de jogo, ainda que GunForce seja menos vertical no seu level design e mais clássico na sua abordagem, com menos surpresas visuais e mecânicas quando comparado à série icónica da SNK.

Metal Slug sempre foi difícil e é uma série capaz de vos levar à falência se não tivessem atenção aos padrões dos inimigos e aos seus tempos de resposta, mas não se equipara à dificuldade que encontramos em GunForce e GunForce II. Sejam as versões árcade ou para a SNES, a série GunForce é absolutamente cruel na sua abordagem ao género e não vos deixará respirar por um segundo. Os inimigos preenchem constantemente os níveis, os seus projéteis são difíceis de ver em campo devido à sua cor e tamanho, e os bosses são tão gigantescos que ocupam grande parte dos cenários ao ponto de tornarem a ação mais claustrofóbica. Não há espaço para muito, a não ser ripostar e rezar para que não sejamos atingidos por um projétil. Com “Continues” limitados, se jogarem no Modo Clássico, GunForce e GunForce II roçam a jogabilidade injusta devido ao nível de desafio, e como são jogos tão divertidos, repletos de elementos destrutíveis e bons controlos – podemos disparar nas oito direções e GunForce II permite-nos controlar a direção dos disparos, mas através de duas armas distintas com rotatividade ligeiramente diferentes, criando diferentes padrões de disparo -, estes picos constantes de dificuldades tornam a experiência mais frustrante para aqueles que não querem perder horas a dominar todos os padrões e posicionamento de inimigos em campo. E sim, isto sou eu a confessar que não consegui avançar muito na campanha de ambos os jogos no Modo Clássico, sem cheats ou continues infinitos.

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Air Duel – Irem Collection Vol. 2 (ININ)

A oferta menos surpreendente do pacote é também a mais segura. Air Duel é um shmup vertical do mais clássico que já joguei, com um UI mínimo e um sistema de escolha de nave diferente. Ao contrário de outros jogos, que só permitem a troca de nave depois de gastarmos um crédito, Air Duel permite que essa alteração aconteça entre níveis, deixando o jogador escolher qual a melhor opção para um determinado nível. Fora este sistema intrigante, Air Duel é do mais puro e destilado shmup possível, sem grandes surpresas. A ação vertical dá-nos bastante espaço para manobrarmos os inúmeros inimigos e projéteis, temos à disposição vários power-ups que aumentam o poder da nave e ainda bombas que limpam o ecrã com uma só utilização. O primeiro nível é uma excelente porta de entrada, muito equilibrado em desafio, ao contrário da dupla GunForce, que atiram tudo o que têm para cima do jogador. Mas no segundo nível, Air Duel solta-se das amarras da decência e aumenta a dificuldade num dos maiores picos de dificuldade que encontrei nos últimos tempos. A movimentação da nave não é tão rápida e certeira para o tipo de ação que o segundo nível e seguintes atiram contra nós – talvez um problema único ao port?

O maior defeito de Irem Collection Volume 2 é o mesmo de tantas outras coleções: o seu preço e valor. Com três jogos únicos, mais as versões Japonesas e as conversões lançadas na SNES, o pacote não é propriamente aliciante para quem não for fã do catálogo da Irem. GunForce e GunForce II são dois títulos de destaque, tão divertidos, como implacáveis, mas não justificam o preço de 24,99€ com que chegam às lojas digitais. A compilação conta com os extras do costume – cheats, save states, rewind, filtros e até um menu personalizado para os jogos todos – e não oferece surpresas de peso, assumindo-se mais como uma continuação do atual modus operandi da ININ no que toca aos relançamentos dos títulos clássicos no seu catálogo. E tal como o primeiro volume, Irem Collection Volume 2 não é obrigatório, mas talvez seja imprescindível para todos os fãs e saudosistas da defunta produtora japonesa.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela PR Hound.

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