NOS Primavera Sound – Dia 2: O sol brilhou para todos

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Há que chegar ao recinto do NOS Primavera Sound e o 502 tem sido um bom amigo. Ao lado, uns americanos discutem as dificuldades em conseguir trabalhar por conta própria e comparar o custo de vida em Vancouver (diz que é muito caro) com Nova Iorque. Estes dias pelo Porto também são muito isto.

Quando entramos, Courtney Barnett toca “Elevator Operator”, mas é notória a evolução desde os dias em que lançou Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit. Mantendo o mesmo estilo seco, está mais à vontade e com um ar menos sofrido do que no Alive há uns anos. A estrada fez-lhe bem.

Só que temos as quatro baterias de Sons of Kemet XL à espera. E quando se chega lá temos festa, a primeira de que nos lembramos com tuba incluída. Aliás, as baterias acabam por surpreendentemente não dominar o conjunto, com os metais a resistir bem ao abafamento e o mestre Shabaka Hutchings a mostrar a sua mestria no saxofone neste cadinho de influências que alguns definem como turbo-jazz. O Palco Pull & Bear é como o cantinho certo para a pequena e média multidão que se vai aglomerando neste final da tarde do NOS Primavera Sound.

Quando chegamos a Shellac já é noite escura. Faz sentido, o pulmão de ferro do NOS Primavera Sound sempre teve um ar severo. Steve Albini continua chateado com a vida, e os lençóis de Ed Sheeran são hoje o alvo. Parece que não são mudados há muito tempo e que os hábitos de higiene do rapaz são questionáveis. Chovem baquetas quando acabamos no final de sempre, “The End of Radio”. Courtney Barnett e banda assistem atentamente e mandam bocas para o palco. As malhas são irrepreensíveis. Como é obvio, as notícias da morte do rock são exageradas.

São 22h, hora de ponta. Liz Phair já tinha começado, mas Fucked Up costumam começar forte, vamos arriscar por aí. Há pouca gente no público, e quando um grupo de jovens sobe ao palco, quase parecem estar mais pessoas do lado de lá das grades do aqui à nossa beira. Ao melhor estilo do Coro de Santo Amaro de Oeiras, o grupo lê o papel e depois retira-se ordenadamente. Sandy Miranda, a baixista, é de origem portuguesa e cumprimenta alegremente. O punk hardcore da banda está lá e Damian Abraham continua aos pulos como sempre, mas há algumas margens de evolução no som, como foi visível no longa duração Dose Your Dreams. Os Fucked Up parecem estar em transição.

Claro que há curiosidade por tentar perceber o que é J Balvin ao vivo, e é imensa a gente que está no topo da colina a admirar à distância. Lá em baixo também está cheio, e a malta admira as bailarinas a roçar e a bonecada a aparecer. A máquina parece bem oleada, mas continua o mistério de tentar perceber o que é este rapaz tem de diferente de tantos outros do género que andam por aí nas ultimas décadas, e como é que chegou aqui.

O facto de a música latino-americana ser adorada em Espanha, fenómeno que não tem a mesma repercussão por cá, ajuda a explicar esta porta de entrada, e ficamos curiosos sobre como é que o fenómeno iria funcionar por cá num contexto menos internacional, com menos malta que está a mudar-se de Vancouver para Nova Iorque.

Não se duvida que há quem goste, e há quem queira muito gostar, mas estes breves minutos fazem apreciar ainda mais o esforço por existir alguma liberdade na programação do Porto e conseguirmos ter o privilégio de ter um Jorge Ben Jor aqui no no NOS Primavera Sound.

Há uns anos que não ouvíamos os Interpol ao vivo, e com disco fresquinho do prelo, a altura parece boa. Os óculos escuros continuam bem fortes na cara de Paul Banks e a cadência forte e acelerada também. Os ecrãs, que nos últimos anos são de muito melhor qualidade, mostram o público e parecem estar muitos asiáticos na primeira fila (serão Big in Japan, talvez). “CMere” arranca forte, “Length of Love” soa bem e “Evil” é uma grande canção. O portfólio dos Interpol é desigual, mas há muita coisa boa para escolher. Das novas, “The Rover” parece colher junto do público que agora enche por todos os lados o palco Seat.

As jammy jams, como são chamadas por Banks, continuam a ser debitadas e poucos arredam pé. Passam “Slow Hands” e “Obstacle 1”, pena mesma só de não terem acabado com a imorredoira “Pioneer to the Falls”, como se fazia no Incógnito quando a pista estava prestes a fechar.

No bar ouve-se jornalistas ingleses a elogiar o recinto e o límpinho que é, dizem que lá náo é nada assim, em modo auto-depreciativo. De vez em quando sabe bem ouvir estes elogios. Já é uma da madrugada, mas queríamos ainda confirmar se o caso de amor do público com James Blake continua. Claro que sim, e a verdade é que a simplicidade do jovem londrino é desarmante. Encostado à direita do palco, em que a bateria está bem no centro, é provável que boa parte dos espectadores nem o veja. É uma espécie de anti-J Balvin. Se continuarmos assim, com tudo e o seu contrário, o NOS Primavera Sound vai continuar a valer a pena.

Fotos de: Telmo Pinto

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