Chegámos ao fim de mais um ano com dose dupla de álbuns a ouvir, num só artigo (novembro e dezembro), com uma série de preciosidades que merecem atenção, ainda em 2022.
Só tenho a dizer que foram dois meses cheios de peripécias e surpresas. O rapper Nas termina a sua trilogia King’s Disease e Weyes Blood lança o 2º álbum da sua carreira que começou com Titanic Rise. 21 Savage salva Drake do bloqueio criativo e os Brockhampton lançaram dois álbuns de despedida no mesmo dia, em vez de só um, como esperado. Stormzy explora novas sonoridades e RM novos territórios, com o primeiro álbum sem a influência dos BTS. Little Simz não tirou este ano para descansar e tanto SZA como os Phoenix estão de regresso aos discos, com um álbuns muito bons.
Isto e um pouco mais, no que se segue neste artigo de álbuns essenciais de Novembro e Dezembro (mais para baixo).
[Álbuns essenciais de outubro]
▼ ÁLBUNS DE NOVEMBRO ▼
Big Joanie – Back Home
Género: Punk Rock/Experimental
Ouvir no Spotify
O álbum de rock mais experimental e menos regrado que ouvi em 2022 chega perto do final do ano.
Em 2018, os Big Joanie iniciaram carreira com vista a diversificar o género musical, mas não convenceram com o álbum de estreia (Sistahs). Pode-se dizer que, este ano, o caso muda de figura com Back Home e, apesar de sentir que foi lançado num mau timing, impressionou pela positiva, tornado o conjunto um caso a ter em conta para o futuro.
A primeira coisa que me veio à cabeça quando ouvi o início da primeira música foi que a voz não me era estranha, mas não me conseguia lembrar ao certo de onde. Ia o álbum a meio e lembrei-me: isto é uma reencarnação de Shamir.
No geral, fora um par de exceções a meio do alinhamento, o álbum é coeso e algo corajoso, no que toca à exposição do género sobre o qual se debruça.
Isto porque esta sonoridade teve o seu auge já lá vão duas décadas, e a nuance experimental não ajuda em muito a cativar públicos maiores. Por outro lado, a falta de fator surpresa também não guia este álbum para bom porto, ainda que seja uma produção consistente. Em todo o caso, vale a pena dar uma oportunidade às Big Joanie, com Back Home.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Confident Man
> In My Arms
> Happier Still
> Sainted
BROCKHAMPTON – The Family // TM
Género: Hip-Hop/Rap
Ouvir no Spotify – (The Family)
Ouvir no Spotify – (TM)
Um dia antes do lançamento de The Family (conforme anunciado previamente), sob a premissa de ser o célebre álbum final do grupo texano, TM surgiu de surpresa, surtindo um efeito adverso em alguns dos fãs mais ávidos. Sabia-se que era inconsequente por ser o último, mas, ao mesmo tempo, é mais material para explorar.
O contexto por detrás desse efeito adverso que, de certa forma, já chegou à fase de aceitação, é simples… Os últimos cinco anos foram bastante complicados para os Brockhampton, devido a muitos desentendimentos de teor financeiro, que deram origem a atritos mais sérios. Resultado? Uma série de mexidas no grupo, das quais se salienta uma que envolveu um dos membros mais importantes do grupo após alegações graves.
Para além disto, com grupos compostos por vários elementos, é sempre complicado manter toda a gente satisfeita. Se com boy bands de 4/5 elementos há sempre disputas que acabam em separação sempre pela mesma razão – dinheiro -, imaginem num grupo com 13 elementos…
Posto isto, em 2021, o grupo anunciou que ia dissolver-se e cessar a produção musical no final desse mesmo ano, com o lançamento do seu álbum final – álbum esse que foi adiado um ano, permitindo ao conjunto brilhar uma última vez no Coachella, um palco digno para o adeus.
Em relação aos álbuns, dado que foram lançados no mesmo dia, com a mesma finalidade e estão relativamente ao mesmo nível, aproveito para falar dos dois de uma só vez e fazer a devida homenagem a um grupo que tanto ofereceu ao Hip-Hop.
Enquanto TM é mais deslocado a nível de mensagem e que facilmente poderia ser mais um álbum da banda, The Family surge mais em contexto de despedida, com faixas cujas as letras dão a entender aquilo que o álbum representa.
Nenhum dos dois álbuns se pode equiparar a Saturation III (2017) ou a Iridescence (2018), mas alinham na perfeição com aquilo que os Brockhampton representam e sempre tão bem ofereceram – Hip-Hop inventivo com respeito pelas raízes do género e letras com mensagem e propósito.
Não é uma despedida magnânima, mas estou seguro que os Brockhampton saem pela porta por onde entraram: a porta grande.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> All That (The Family)
> 37th (The Family)
> The Ending (The Family)
> Brockhampton (The Family)
> New Shoes (TM)
> Man On The Moon (TM)
> Goodbye (TM)
Cavetown – Worm Food
Género: Bedroom Pop/Indie Pop
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Acima falava do quanto os Big Joanie me faziam lembrar Shamir, em vocais. Agora preciso de constatar o quanto Robin Skinner me faz lembrar Greg Gonzalez dos Cigarettes After Sex. É um tipo de voz ao som da qual ou ficamos num estado zen, ou acabamos irritados, por não estarmos no mood.
Apesar de Skinner ter o mesmo tipo de voz que Gonzalez, não usa e abusa dela, evitando cair na monotonia que os Cigarettes After Sex transmitem com alguma frequência.
Posto isto, é justo dizer que Worm Food é um álbum relaxante (como o Bedroom Pop deve ser), mas com um bom punhado de surpresas, que acabam por mexer um bocado com a dinâmica do mesmo. A começar pela sonoridade algo divertida de “frog”, a passar por “1994” ou “a kind thing to do” (em colaboração com Vic Fuentes e Pierce the Veil), que acabam por mexer um bocado com o ritmo geral do álbum e a terminar com “fall in a love with a girl” ou “geral space” (em colaboração com a fantástica Beabadoobee e Chloe Moriondo, respetivamente), cujas colaborações assentam bastante bem com o que Cavetown tem para oferecer.
O mais interessante em Worm Food (que por si só é morno) é constatar que a “rede” que normalmente se estende a artistas dentro do mesmo género musical já existe no bedroom pop.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> frog
> a kind thing to do (ft. Vic Fuentes)
>1994
> fall in love with a girl (ft. Beabadoobee)
> grey space (ft. Chloe Moriondo)
Drake & 21 Savage – Her Loss
Género: Hip-Hop/Rap
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Lançar álbuns com hits, a um ritmo constante, é uma missão que Drake consegue ir gerindo a um ritmo anual. No entanto, quando falamos em qualidade quer dos álbuns, quer dos singles, este tem vindo a deixar a desejar já desde Scorpion (2018). Depois do fracasso que foi Certified Lover Boy (2021), conseguindo concluir a ilustre missão ser mais desinteressante que DONDA (de Kanye West) com sucesso, este ano vimos o lançamento de Honestly, Nevermind, que sinceramente, não vale muito a pena…
Em novembro, desta vez em colaboração com 21 Savage, Drake lançou mais um álbum – parecem pães quentes – e consegue ser minimamente apelativo, ainda que não esteja ao nível de muitos dos seus trabalhos que começam a ganhar o estatuto de “mais antigos”.
Drake é um artista estranho, porque apesar de parecer ter música para muitos anos, tem pouco critério nas suas seleções finais e ainda menos critério tem em relação ao rumo que quer seguir. Nothing Was The Same (2013), If You’re Reading This It’s Too Late (2015) ou More Life (2017) tinham esse critério, pontos fortes e alguma personalidade que os distinguia uns dos outros. Tinham também ótimo balanço entre o independente e o comercial – e tinham (sobretudo) conteúdo.
Her Loss pende um bocado para o lado menos comercial de Drake, com batidas menos alegres e sedutoras e com letras mais cruas. Não sei se é a influência de 21 Savage, mas, neste álbum, fica aquela sensação de que temos o velho Drake de volta e não o Drake vendido que produz música a pensar apenas nas reproduções no Spotify.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Rich Flex
> On BS
> Circo Loco
> Pussy & Millions (ft. Travis Scott)
First Aid Kit – Palomino
Género: Indie Folk/Country Folk
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Mais de uma década volvida desde que as First Aid Kid se deram a conhecer ao mundo e continuam a ser muito aquilo a que nos habituaram com o seu segundo álbum, The Lion’s Roar (2012).
O ponto positivo é que Johanna e Klara Söderberg não parecem estar muito importadas com isso. A dupla de irmãs suecas entregou-se à harmonia agradável do Folk, com influências de Americana aqui e ali, e agarrou-se a elas com unhas e dentes. Por isso, torna-se difícil oferecerem algo menos característico que as possa colocar em risco de falhar. No entanto, também parece impedi-las de chegar ao próximo nível, o que é um desperdício de potencial.
A profundidade e complexidade das narrativas nunca vão muito para além do habitual, e a escrita não parece ter qualquer tipo de vulnerabilidade (pelo menos que seja autêntica). Em contrapartida, a composição das músicas não falha e as sonoridades das mesmas conseguem quase sempre surpreender e agradar a um ritmo constante.
Parece que as First Aid Kit são um caso sério no que toca a talento, mas não se chateiam muito em tentar espremer dele um álbum digno e realmente célebre. Sabendo a dimensão da audiência dos géneros que abordam, era de aproveitar.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Out of My Head
> Angel
> A Feeling That Never Came
Nas – King’s Disease III
Género: Hip-Hop
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O hiato de álbuns pelo qual Nas passou entre 2012 e 2018 fê-lo cair do trono em que se sentou sozinho durante quase 20 anos. A causa foram o álbum Nassir e o EP The Lost Tapes II que surgiram após esse hiato, cujo som soava forçado e, apesar das letras fazerem lembrar o velho Nas, este parecia estar em modo corpo presente, porque a alma havia desaparecido.
Em 2020, o rapper nova-iorquino começou uma nova “dinastia” sob a designação de King’s Disease – nome que parecia algo alusivo ao que se estava a passar – e, apesar de não ser o seu álbum mais incrível, foi o que colocou o primeiro Grammy de carreira na estante do seu estúdio. A esse álbum sucedeu-se King’s Disease II, que o alinhou com a rota do trono uma vez mais, graças a alguns empurrões de Eminem ou Ms. Lauryn Hill, também.
Um ano depois, temos King’s Disease III, que fecha a trilogia e pode-se dizer que o melhor ficou guardado para o fim.
Para além de ser um álbum 100% a solo, que requer sempre mais inventividade e engenho, a escrita de Nas e o jogo de sampling que foi tendo com Hit-Boy (o 4º álbum com o qual colabora) fez dele o melhor da “série” e, mesmo aceitando que este era um álbum digno de fim de carreira, acredito que o melhor ainda está para vir.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Michael & Quincy
> 30
> Reminisce
> Get Light
Phoenix – Alpha Zulu
Género: Synth Rock/Pop Rock
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É engraçado as voltas que a vida dá, principalmente quando se é artista. Um dia está-se numa varanda com vista para uma paisagem arrebatadora, no topo do mundo, mas um passo em falso e a queda, procedida pelo esquecimento, é quase inevitável.
A banda francesa de Versailles esteve quase, quase, a conseguir chegar ao topo do mundo em 2009, quando lançaram o aclamado Wolfgang Amadeus Phoenix, quando já tinha passado uma década desde United (2000) – álbum que os viu ser pioneiros dentro do panorama do Indie Pop – mas não só falharam em manter o ímpeto durante essa década, como falharam em afirmar-se já em 2013 com Bankrupt! e eclipsaram-se com Ti Amo, já em 2017.
Pessoalmente ouço faixas como “If I Ever Feel Better”, “Lisztomania” e “1901” com alguma frequência, por isso não posso dizer que me tenha esquecido dos Phoenix, mas, depois de tanto desapontamento, já nem equacionava um possível regresso, muito menos um bem sucedido.
A desconfiança rapidamente se transformou em apreço e espanto quando Alpha Zulu rodou a primeira vez no meu carro, numa viagem para o Porto.
Parecia que estava a ser apresentado à banda pela segunda vez e a redescobrir todas as virtudes do Indie Pop. Inevitavelmente acabei, mais uma vez, por ser levado a constatar que há bandas que envelhecem e outras que maturam. O que aconteceu aos Phoenix foi claramente uma maturação extrema, tanto que conseguem ser mais fantásticos que nunca, sem que para isso tenham tentado ser uma versão deles próprios do passado.
Tudo em Alpha Zulu é fresco e revigorante, não ofuscando a nostalgia, mas sem fazer dela um sentimento repetitivo e usado. É um género de nostalgia por equivalência, ao sonho que a maioria dos fãs tiveram, após 2009 – eu incluído.
Tivemos de esperar 13 anos, mas o álbum de carreira da banda francesa chegou. Tarde e a más horas, é certo, mas sinto que, finalmente, os Phoenix chegaram ao topo do monte Olimpo com uma série de melodias exuberantes e, ainda que não tenha a certeza se isto foi algo que algum dia almejaram, tenho a certeza que muitos fãs os projetaram lá.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Alpha Zulu
> Tonight (ft. Ezra Koenig)
> The Only One
> Winter Solstice
Stormzy – This Is What I Mean
Género: R&B/Rap
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Não posso dizer que estava à espera de um álbum deste carácter por parte de Stormzy, muito menos depois do single “Mel Made Me Do It”, mas fico extremamente feliz por perceber o alcance de géneros que tem guardado na manga.
Gravado em Osea Island, durante uma série de encontros musicais com uma equipa composta por muitos músicos e produtores de alto gabarito, This Is What I Mean é tudo aquilo que Stormzy esperava do álbum: uma carta de amor à música, carregada de intimidade.
Pessoalmente, ainda que goste mais da faceta grime do rapper britânico, acho admirável a exploração que este está a fazer, numa auto-descoberta “Frank Oceanista” com afirmações seguras de tudo o que pode ser e tem para oferecer, transcendendo a perceção geral de quem o acompanhou desde o início.
This It What I Mean continua a ter o seu quê de rap, contudo explora novos géneros, tais como R&B, Soul e Afrobeat contemporâneo, o que, para uma primeira experiência, é de um nível admirável. No entanto, nada do que vão encontrar neste álbum está ao nível do que já ouviram antes por parte de Stormzy.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Fire + Water
> Hide & Seek
> Give It To The Water
Weyes Blood – And In The Darkness, Hearts Aglow
Género: Chamber Pop/Soft Rock
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O lugar onde Natalie Mering pertence foi reservado em 2019 com o álbum Titanic Rising a servir de passe de acesso. É inegável o brilho que a mistura entre soft rock e chamber pop deu ao projeto Weyes Blood, e os frutos foram colhidos, sendo um deles o merecido reconhecimento que adveio de uma lista de músicas que cambaleavam entre a expetativa e uma vertente mais sonhadora, numa vontade que vem de dentro em glorificar um passado recente, mas sempre com a intenção de o mudar para melhor, numa melancolia boa.
And In The Darkness, Hearts Aglow é o segundo álbum da trilogia que Mering está a planear completar em breve e, até ver, a qualidade é uma constante, dado que este disco está praticamente ao nível do antecessor, quer em valor de produção, quer em dimensão. O álbum explora temas como o isolamento e a apreensão da sociedade que nos rodeia.
Se me disserem que o 3º álbum vai ser tão bom ou melhor que os dois primeiros, não vou entrar em ceticismo, porque sei o quão brilhante Mering é dentro do seu próprio mundo de produção musical.
E esse é o segredo para desfrutar e apreciar deste tipo de música, compreender o espetro de Weyes Blood e entrar no seu universo. Isto porque tudo o que foi produzido desde Titanic Rising são clássicos instantâneos suportados por uma orquestralidade magistral, que fazem sentido ouvir indefinidamente.
Mering diz e bem: “We are not meant to be our own angels all the time”, mas aceito de bom grado que ela seja o meu, porque sei que, se depender da sua produção musical para me sentir acompanhado e compreendido, estou bem salvaguardado.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> It’s Not Just Me, It’s Everybody
> God Turn Me Into A Flower
> Twin Flame
> The Worst Is Done
Outros álbuns a ouvir:
> Ezra Collective – Where I’m Meant To Be
> Fred… Again – Actual Life 3
> Gold Panda – The Work
> Special Interest – Endure
> Wizkid – More Love, Less Ego
▼ ÁLBUNS DE DEZEMBRO ▼
Little Simz – No Thank You
Género: Hip-Hop/Gospel
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Após tomar 2021 de assalto com Sometimes I Might Be Introvert, que foi um dos melhores álbuns do ano (para mim e para a maior parte da crítica), não se esperava mais música tão cedo, muito menos ao nível da que foi lançada no ano passado. Já a terminar o ano, Simbi presenteia-nos com mais um álbum – No Thank You – e, de facto, é justo não criar grandes expectativas.
Raramente uma produção da artista britânica é inconsequente ou desprovida de qualidade e intenção, mas isso também não significa que seja sempre extremamente atrativa à primeira vista.
No Thank You é um álbum morno em sonoridade, mas escaldante a nível de mensagem. A arte e engenho com que Little Simz usa o dom da palavra para expor verdades inconvenientes, tantas vezes ocultadas com leviandade, é admirável.
Ao longo deste álbum vemos Simbi a debruçar-se sobre o racismo institucional e geracional ou o perigo do impacto da indiferença que as práticas do mundo laboral podem ter nas pessoas. Tudo isto aparece conectado ao longo do álbum com uma finalidade em vista: a crise da saúde mental, que aumenta de dia para dia.
Sometimes I Might Be Introvert era um álbum para se ouvir enquanto se lia aqui e ali, já No Thank You requer ser lido, enquanto se ouve.
A experiência é diferente, menos entusiasmante de facto, mas mais profunda.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Angel
> Silhouette
> No Merci
> X
RM – Indigo
Género: K-Pop/Rap
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O impacto global dos BTS, ao contrário do que muitos pensavam/pensam, não é obra do acaso – há qualidade para além de uma estratégia bem afinada. E o que está a acontecer com os BTS já aconteceu no passado com outras boy bands, das quais saíram carreiras a solo muito interessantes.
Isto viu-se a acontecer em massa após o boom do Pop no final dos anos 90, inícios do século XXI e, mais recentemente, com os One Direction ou Jonas Borthers. Agora, pela ordem natural da vida, o mesmo começa a acontecer com as boy bands/girl bands oriundas da Coreia do Sul já estabelecidas, sendo que o foco recai sobre os BTS em particular – não por serem os melhores, mas por serem os com mais exposição.
Este ano vimos J-Hope a brilhar e agora é a vez de RM, que lhe sucede com o seu álbum de estreia a solo: Indigo. Enquanto J-Hope confiou nele próprio para pegar num género que pouco ou nada tem a ver com a imagem do que são os BTS (e correu extremamente bem), RM optou por um caminho mais fácil. Não só se manteve mais ou menos dentro da linha musical familiar para o próprio e para quem está familiarizado com o género, como se suportou muito em colaborações de forma a oferecer algo aos fãs, que pode ser rotulado de “fresco”.
Dentro do leque de colaborações, saltam à vista as músicas com Erykah Badu e Anderson .Paak (dois nomes grandes), nas quais se pode notar a influência dos artistas na sonoridade das faixas em que participam. No entanto, foram as colaborações com Kim Sawol e a veterana Youjeen que mais me encheram as medidas.
No geral, Indigo não é um álbum que capriche muito e, na sua maioria, é composto por músicas dotadas de melodias e arranjos seguros, de tão agradáveis e fáceis de interiorizar que são. Em contrapartida, também há qualidade e beleza na simplicidade e objetividade e, como tal, é difícil colocar defeitos num álbum tão neutro.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Still Life (ft. Anderson .Paak)
> Forg_tful (ft. Kim Sawol)
> Wild Flower (ft. youjeen)
SZA – S.O.S.
Género: Alternative R&B/Psychedelic Pop
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SZA entrou em rota de colisão com o meu apreço musical quando, em 2017, trouxe Ctrl ao mundo, um álbum de R&B alternativo que marcou a sua estreia e fez dela uma das artistas mais apetecíveis para colaborações a partir daí.
A capa do álbum foi inspirada numa foto semelhante tirada à princesa Diana, em 1997, e a ideia por detrás de a replicar é passar a sensação de isolamento que a princesa sentia na altura, num mundo com o qual a mesma não se identificava, mas que a absorveu e acabou por apagar.
S.O.S. é um daqueles álbuns longos que justificam a sua dimensão de forma contínua. Cada faixa tem a sua identidade, mas todas funcionam muito bem juntas, fazendo 67 minutos passarem a voar como uma brisa ligeira e aprazível.
Uma decisão interessante por parte da artista norte-americana foi ter chutado os singles para último, o que normalmente não acontece, pelo simples motivo dos álbuns não estarem à altura deles.
Curiosamente, neste caso em concreto, considero as novas músicas apresentadas com o lançamento do álbum mais intensas e interessantes do que os singles lançados à priori.
O trabalho de escrita é sensacional, parecendo que tudo o que Solána Rowe faz tem um propósito de ser. A nível de produção temos faixas fora do espectro do R&B a que fomos habituados, das quais o exemplo mais evidente é “F2F”, que usa (e bem) o Pop Rock como base, aludindo para o quão flexível e diversa Rowe consegue ser. Falar da sua amplitude e adaptabilidade vocal é só repetir o que foi dito em 2017: sensacional.
Se tiver de voltar a esperar cinco anos para ouvir um novo álbum de SZA, mas me garantirem que vamos ver outra masterclass musical como em S.O.S., nem pestanejava de tão instantâneo que gritava “ACEITO”.
Tão bom ver SZA a fechar a cortina de 2022 com um dos melhores álbuns do ano – acho que não podia pedir melhor.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> Kill Bill
> Gone Girl
> Ghost In The Machine (ft. Phoebe Bridgers)
> F2F
> Too Late
> Good Days
Outros álbuns a ouvir:
> Sophie Jamieson – Choosing
> White Lung – Premonition