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Chamaria a fevereiro um mês artístico, incluindo géneros (como Mathcore, Glitch Pop, Shot Gazing ou Neo-Rap) sobre os quais não costumo encontrar muito material de qualidade.

Este mês focou-se sobretudo duas palavras: redenção e arte. Ao longo do artigo vão conseguir perceber o porquê.

[Álbuns essenciais de janeiro]

Alt-J – The Dream

Alt J The Dream

Género: Alternative Rock/Indie Rock

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The Dream é, provavelmente, o álbum mais sólido da carreira dos Alt-J, com alguns vislumbres da irreverência e inventividade apresentada ao mundo em 2011 com o disco de estreia An Awesome Wave. Não estou com isto a tentar injetar elementos comparativos entre os dois álbuns que são muito distintos e nada, nem ninguém, vai conseguir replicar a sonoridade do álbum de estreia (nem os próprios Alt-J, certamente).

Contudo, os pontos têm de ser colocados nos “i’s” e dar o valor que este álbum merece, logo quero realçar a coesão e sobriedade. De certa forma, afasta-se da vaidade que os fez perder o ritmo e parte respeito inteletual após o álbum de estreia. Ao contrário de This Is All Yours, Relaxer e Reduxor, que a cada faixa única e forte tinham cinco extremamente banais que ficaram perdidas no tempo, The Dream é um álbum balanceado e com um propósito ao longo dele todo.

Se já estava feliz por dia 6 de julho ter encontro marcado com eles no NOS Alive, agora estou radiante!

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> U&ME
> Happier When You’re Gone
> The Actor
> Chicago
> Philadelphia

Bad Boy Chiller Crew – Disrespectful

Bad Boy Chiller Crew Disrespectful

Género: Dance/Electronic

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Bad Boy Chiller Crew começou como um brincadeira entre amigos no YouTube com teor cómico e partidas como tema base, mas, no espaço de dois anos, tornaram-se numa banda com contrato assinado.

O álbum de estreia está aí e é diferente… Se não estão a ouvir o álbum enquanto lêem isto, imaginem um grupo de rappers a debitarem numa discoteca ao som de música Dance do início dos anos 2000. Disrespectful é um álbum que não pode ser levado muito a sério, pois para além de ter nascido de uma brincadeira, tem como propósito servir prazeres mortais e enaltecer tempos mais simples e felizes, onde o maior problema na vida de uma pessoa ordinária passava por decidir que roupa vestir para sair à noite.

É um álbum que se desenrola sempre em altas rotações, sem momentos mais parados, por isso se pelo meio quiserem descansar, vai ser a bater pé. Não imagino como será um concerto deste trio de jovens britânicos, mas podem recolher a minha assinatura de pré-reserva do bilhete.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Don’t Worry About Me
> Get Out Of My Head
> Messages
> Always Be My Baby Boy (ft. Becce J)
> Free (ft. Chris Nichols)

Beach House – Once Twice Melody

Beach House Once Twice Melody

Género: Dream Pop/Shoe Gazing

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Once Twice Melody é o novo trabalho dos Beach House e contempla uma estrutura diferente, que divide o álbum em quatro capítulos. Os dois primeiros lançados ainda em 2021, denominados de “Pink Funeral” e “New Romance”, são compostos por quatro faixas cada, enquanto os dois seguintes, “Masquerade” e “Modern Love Stories” contam com cinco faixas. Em conjunto, estendem-se ao longo de 85 minutos de música de A a Z no que toca a emoções como paixão, solidão, intimidade, abandono, crescimento pessoal e nostalgia.

A duração do álbum em conjunção com a sonoridade típica de Beach House, que vai da sensação do conforto de uma tarde soalheira à contemplação cósmica das estrelas mais fascinantes da galáxia, pode oferecer alguma resistência às primeiras duas audições. Caso não desistam, estão de mala aviada para a melhor viagem espacial entre galáxias que os Beach House já ofereceram ao longo dos seus 15 anos de carreira – e ao contrário da Space X e da Blue Origin, que surgiram para servir egos, nesta viagem vão ter tempo para introspeções, enquanto experienciam sensações que fazem a produção musical valer a pena.

Ainda que tenha achado os quatro capítulos equilibrados, saliento o “Masquerade”, onde a poeira estelar que Victoria Legrand e Alex Scally produzem sem qualquer esforço brilha com mais intensidade. Once Twice Melody vai assim colocar os Beach House no lugar para o qual navegaram desde que começaram a sua ilustre carreira: na estrela mais brilhante da galáxia.

Classificação do álbum: ★★★★★

Músicas a ouvir:
> Once Twice Melody (Chapter 1)
> Through Me (Chapter 1)
> New Romance (Chapter 2)
> Only You Know (Chapter 3)
> Another Go Around (Chapter 3)
> Masquerade (Chapter 3)
> Hurts To Love (Chapter 4)
> Modern Love Stories (Chapter 4)

Big Thief – Dragon New Warm Mountain I Believe In You

Big Thief Dragon New Warm Mountian I Believe In You

Género: Indie Rock/Indie Folk

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Depois de U.F.F.O. e Two Hands, ficou a certeza que o som dos Big Thief, bem como o seu espetro musical, estaria definido por esta altura… Não podia estar mais enganado!

Em 2022, os Big Thief chegam com uma nova surpresa, num álbum gravado ao longo de 2020 em quatro sítios distintos, que se estende ao longo de 80 minutos e muda por completo a perceção musical que temos da banda de Brooklyn.

Ainda que a química musical exímia resulte num produto final são e que não para de espantar graças a novas experiências e texturas, este álbum peca por não ter rumo definido, ficando a dúvida se ainda estamos a ouvir o mesmo álbum em determinados momentos.

Não querendo descurar da qualidade musical praticada por Adrianne Lenker e companhia, que é irrepreensível, falta um pouco de objetividade, num álbum com material que, bem alinhado, podia dar origem a dois álbuns excelentes: um ao estilo dos antigos Big Thief, outro com as faixas que seguem a nova sonoridade da banda.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Change
> Certainly
> Little Things
> Red Moon
> No Reason
> Simulation Swarm

Black Country, New Road – Ants From Up There

Black Country New Road Ants From Up There

Género: Post-Rock/Experimental Rock

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Não é de hoje… Black Country, New Road mostraram o que estava para vir com o álbum de estreia, For The First Time, no decorrer do ano passado. Álbum que veio dar uma nova face ao Post Rock, tornando-o mais festivo.

Exatamente um ano volvido, a banda britânica tem mais música para partilhar connosco. Desta vez, sem descurar da identidade que os alavanca para as luzes da ribalta, a banda parece ter desenvolvido nuances na sua abordagem musical que os vai permitir chegar a um público maior e tornarem-se num sucesso global.

Ants From Up There é um álbum emocional e honesto, com remates instrumentais imprevisíveis com a capacidade de criar uma bolha dotada do seu próprio ecossistema, que difere de música para música. Irrepreensível o impacto que a banda cria em apenas dois álbuns.

O melhor? É que, apesar de ser um álbum algo pesado e que não encaixa com determinadas disposições, quando entra, só fica melhor a cada reprodução.

Classificação do álbum: ★★★★★


Músicas a ouvir:

> Chaos Space Marine
> Concorde
> Good Will Hunting
> Haldern
> The Place Where He Inserted The Blade

Hurray for the Riff Raff – Life On Earth

Hurray for the Riff Raff Life On Earth

Género: Americana/Indie Rock

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O despercebido que rodeou a banda de Alynda Segerra durante quase uma década está a desvanecer de álbum para álbum e este é uma autêntica jornada. Pessoalmente, tenho algumas reservas com álbuns que cobrem muito terreno no que toca a géneros musicais distintos, contudo, quando há uma linha condutora transversal a todas as faixas, essas reservas dissipam-se naturalmente.

Life On Earth é um trabalho muito intimista proveniente do “eu” mais profundo de Segerra, que tem uma capacidade lírica fenomenal e, acima de tudo, aborda temáticas que conseguem tocar na alma de quem passou ou está a passar momentos menos bons. Há que salientar que parte do efeito desta produção dos Hurray for the Riff Raff se deve às maravilhosas composições instrumentais.

Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Pierced Arrows
> Pointed at the Sun
> Rhododendron
> Saga

Mitski – Laurel Hell

Mitski Laurel Hell

Género: Synth-Pop/Indie Pop

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Laurel Hell é um daqueles álbuns que se enquadram na categoria de promissores por via dos singles lançados antes do lançamento oficial do álbum em si e depois o disco sofre por não os superar ao longo dele todo, sofrendo com as altas expectativas criadas à priori.

Este álbum de Mitski não é mau, muito pelo contrário. Na verdade, continua a ser um álbum muito bom. No entanto, os dois singles lançados ainda em 2021, “Working For The Knife” e “The Only Heartbreaker” (que constou na minha seleção das melhores músicas do ano) elevaram demasiado a fasquia para um álbum que prometia igualar Be The Cowboy e Puberty 2 (ambos magníficos), acabando por ficar ligeiramente atrás.

Apesar de ter optado por referir o impacto que este álbum teve para mim, com base no historial de presenças que Mitski tem nas minhas seleções de melhores músicas e melhores álbuns do ano, desde que se lá estreou há seis anos, considero Lauren Hell um trabalho à altura da cantora nipo-americana e tem faixas fenomenais como base de sonoridades e ritmos dos anos 80. “Should’ve Been Me” funciona muito bem como pivô, liderando uma lista de músicas dançantes até à pista de dança mais perto de vocês: o chão da divisão em que estiverem, enquanto as ouvem.

No fim do dia, Lauren Hell acaba por soar a triunfo, pois ficamos a conhecer outra faceta da Mitski de “Nobody”, uma mais festiva.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Working For The Knife
> Heat Lightening
> The Only Heartbreaker
> Love Me More
> Should’ve Been Me

Rolo Tomassi – Where Myth Becomes Memory

Rolo Tomassi Where Myth Becomes Memory

Género: Mathcore

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Uma banda que resiste a receber rótulo de género musical base faz questão de lutar contra essa categorização, produzindo música que se enquadra em grindcore, progressive rock, alternative rock, experimental rock, post-metal, post-hardcore e screamo, surgindo por vezes uma mistura de vários. Assim tem sido em todos os álbuns que têm lançado até hoje, sendo que o melhor género para enquadrar a banda nesta panóplia de complexidade é mesmo Mathcore.

Neste álbum, os Rolo Tomassi conseguem manter a qualidade que se verificou no álbum anterior, pautado pela simbiose entre a voz angelical de Eva Korman e os gritos agressivos de James Spence, trilhando caminho e, por sua vez, trazendo reconhecimento da banda no universo Metal, Rock e Hardcore.

O som é único, calculado e expansivo, mas o segredo do sucesso está na bipolaridade dos vocais da banda, por vezes durante a mesma faixa.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Almost Always
> Cloaked
> Closer
> Drip

Saba – Few Good Things

Saba Few Good Things

Género: Neo-Rap/Hip-Hop

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Desde tenra idade que Saba está ligado à música, tendo aprendendo a tocar piado aos sete anos e cresceu a acompanhar o seu pai (conhecido com Chandlar) em estúdio, o que o levou a experimentar softwares de criação de beats. Como tal, a sua carreira teve um início muito orgânico e genuíno, distribuindo mixtapes pela escola que frequentava, de forma a ganhar ímpeto. Aos 16, começou a ganhar confiança e carisma nos open mics onde atuava para a comunidade local, no bairro de Wicker Park (Chicago). Foi com essa mesma idade que se graduou (GPA 3.5) e ingressou no Columbia College Chicago, tendo desistido prematuramente e dedicado a sua atenção para a produção de música.

As produções de Saba são espelhadas pela sua educação e percurso artístico com os géneros Soul, R&B e Jazz como bases e os rappers Lupe Fiasco, Kanye West e Bone Thugs-n-Harmony como ídolos, tendo inclusive uma faixa com feature de um dos membros da banda, Krayzie Bone.

Em 2018, ao segundo álbum de estúdio, ascendeu a um nível transcendente com apenas 24 anos, tendo produzido um dos melhores álbuns de 2018 (com BUSY/SIRENS na minha seleção de melhores músicas desse mesmo ano).

Este ano regressa com um álbum menos polido, mas que respeita a integridade artística do rapper de Chicago, com colaborações bem conseguidas e dotado de sonoridades que transpiram o positivismo característico de Saba em forma de celebração aos triunfos e alegrias da vida.

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> One Way or Every N***a With a Budget
> Come My Way (ft. Krayzie Bone)
> Still (ft. 6LACK & Smino)
> If I Had a Dollar (ft. Benjamin Earl Turner)

Sally Shapiro – Sad Cities

Sally Shapiro Sad Cities

Género: Synth-Pop/Electronic

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Dentro do universo de Shally Shapiro, este é, sem dúvida, o regresso mais triunfante que Johan Agebjörn poderia desejar.

Os três primeiros álbuns da artista sueca, último dos quais lançado há quase 10 anos, repetiam-se entre eles sem nada de novo ou de surpreendente para oferecer à comunidade. Sad Cities, como o nome pode dar a entender, não é tão leviano como os trabalhos anteriores e, de certa forma, funcionou a favor de Agebjörn.

Fica, no entanto, a sensação que Agebjörn ainda não se encontrou no universo musical, pela composição musical um pouco confusa. As boas notícias é que está certamente mais perto do que alguma vez esteve.

Classificação do álbum: ★★★½

Músicas a ouvir:
> Forget About You
> Believe In Me
> Fadding Away

The Reds, Pinks and Purples – Summer at Land’s End

The Reds Pinks and Purples Summer at Lands End

Género: Indie Pop/Indie Rock

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Álbum belíssimo onde a guitarra ecoa, dando uma vida extra aos instrumentais que o compõem. Summer at Land’s End é uma produção que facilmente poderá agradar a uma maioria, contudo, tem mais ímpeto quando ouvido na íntegra. A atmosfera criada ao longo do álbum tem a capacidade de transportar o ouvinte para espaços desconhecidos do seu subconsciente, promovendo um género de meditação de auto-reconhecimento.

Apesar de ser um álbum algo triste (focado em reflexões sobre tensão e conflito) no que toca a escrita, é curioso como é possível encontrar conforto nele, muito graças à tranquilidade em que essa escrita está envolta. E assim, Glenn Donaldson e companhia continuam a estabelecer-se com bases sólidas. Venha o próximo!

Classificação do álbum: ★★★★

Músicas a ouvir:
> Don’t Come Home Too Soon
> Let’s Pretend We’re Not In Love
> New Light
> Pour The Light In

Yeule – Glitch Princess

Yeule Glitch Princess

Género: Art Pop/Glitch Pop

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Mais do que ouvir álbuns que transmitem emoções através de letras dedicadas, são os álbuns que refletem uma visão através da composição instrumental que me cativam mais, e Glitch Princess é esse álbum.

Natasha Yelin Chang (também conhecida por Nat Ćmiel), nascida e criada na Singapura, começou desde cedo a ligação à música, aprendendo a tocar piano aos seis anos. Posteriormente encontrou na guitarra e bateria um novo desafio, passando de tocar Waltz para as soundtrack de Final Fantasy ou Kingdom of Hearts. Antes de ingressar na Central Saint Martins, onde adquiriu graus em “Fashion Communication and Womenswear” e “Fine Arts”, fez ainda parte de uma banda de jazz chamada Riot Diet. Posto isto, já é possível ter uma noção que formação musical e educação não é algo que careça a Natasha.

Em paralelo com parte do que referi acima, a artista começou carreira a solo em 2014, sob o pseudónimo de Yeule, e assim continua até à data de hoje. A sua música não segue uma linha convencional de produção, o que faz dela difícil de assimilar para determinadas pessoas, mas há beleza na arte, ainda mais quando é proveniente de uma visão que define um ser. O combustível de Yeule foi o abrigo que encontrou na Internet, ajudando-a a traduzir sentimentos de solidão e depressão enquanto crescia, influenciando a sua música a um nível surpreendente.

Glitch Princess é uma produção perturbadora, chegando por vezes a ser mórbida. Não obstante, expõe Natasha a nú, sem filtros ou convencionalismos, transparecendo todas as suas fragilidades de forma artística e criativa. Sem querer, é possível encontrar uma sonoridade festiva onde o Glitch Pop dita a orientação do álbum, quando nada do que a acompanha rema no mesmo sentido, antes pelo contrário. O cerne, contudo, é como o que Yeule tem para contar consegue mexer com uma pessoa.

“I like to think I’m doing just fine
I like to search my symptoms online
I liked it when the voices were gone
I liked to be with you all alone

Around my neck, a friendly machine
Pretends to wipe my memory clean
Pretends to make it all go away
Pretends to make me feel quite okay”


Classificação do álbum: ★★★★½

Músicas a ouvir:
> Electric
> Don’t Be So Hard On Your Own Beauty
> Too Dead Inside
> Bites On My Neck
> Friendly Machine

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