A correr atrás do prejuízo, mas com toda a calma do mundo, descobri muita coisa nova que merece atenção, em agosto.
As novidades? Muito rápido: Ashnikko estreou-se com estrondo, Laura Groves estreou-se em nome próprio, mas sem estrondo, e Vitoria Monét estreou-se em definitivo e o estrondo é já tem nomeação para Grammy’s (yup, plural).
Foi um mês fantástico para o Rock, com boas novas dos The Armed reinventados, a evolução positiva dos Ratboys, o regresso dos Be Your Own Pet e da auto-redescoberta pessoal de Margaret Glaspy.
Jungle e Shamir não estão a passar o seu melhor momento, mas ainda assim continuam com produções cativantes. Genesis Owusu igual a ele próprio (e a Yves Tumor), em mais uma produção de se lhe tirar o chapéu.
Foi um mês de verão com excelente música. Se estes álbuns vos passaram ao lado, vejam o ponto positivo: vai ser um outono com excelente música. Até porque o artigo de setembro já está quase a sair também – como eu disse, correr atrás do prejuízo.
Ashnikko – Weedkiller
Género: Experimental Rap/Industrial Rap
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Sempre gostei de música derivada de Nu-Metal/Industrial, por isso não é surpresa ficar radiante quando há lançamentos de qualidade, dentro desse espetro.
WEEDKILLER, de Ashnikko, que tem como influência principal os Slipknot e M.I.A., é um desses lançamentos, e é também uma estreia poderosa e impressionante, canalizando a raiva numa busca por identidade e autonomia. Não obstante os temas presentes neste álbum serem sombrios, este é absurdamente divertido, marcando uma entrada triunfante na categoria com que se enquadra, mudando o jogo – tal como um grupo limitado de artistas fizeram antes.
Graças a uma narrativa fluída e muito “terra a terra”, Ashnikko cobre várias áreas com aparente facilidade, destacando-se como uma força inovadora num cenário de rap diversificado em constante mudança. Esse rap diversificado é composto por elementos de rap alimentado pela raiva como base, o pop feminista e um rock com tendências emo/góticas, permitindo à artista criar uma identidade distinta.
Segundo consta, este é um projeto que encapsula temas de autonomia corporal, amor queer, humor e fúria. Esses temas ganham vida graças à versatilidade vocal da artista, destacando-se no meio de uma produção rica que explora temas aleatórios como folhagem em decomposição, o sol crepitante ou líderes de IA – parte do álbum ser absurdamente divertido é responsabilidade dos temas nele contido.
WEEDKILLER tem as suas fragilidades, principalmente no que toca à aleatoriedade que às vezes não parece intencional (ou genuína). No entanto, é um álbum de estreia que não só redefine géneros, como mostra a habilidade de Ashnikko em navegar por vários campos musicais. É também uma declaração ousada, que aborda temas relevantes com uma mistura de intensidade, humor e confiança.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> You Make Me Sick!
> Worms
> Cheerleader
> WEEDKILLER
Be Your Own Pet – Mommy
Género: Garage Punk/Alternative Rock
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Este foi o último álbum que selecionei para fazer parte dos essenciais de agosto, mas Mommy é um triunfo de uma banda que depois de dois álbuns em três anos… desapareceu! Foi preciso um longo hiato e 15 anos a seco até sair novo material, mas folgo em saber que este é o resultado.
Dito isto, este é terceiro álbum dos Be Your Own Pet e marca um retorno triunfante, evidenciando a evolução individual dos membros da banda ao longo de mais de uma década separados.
O mais impressionante dentro dessa evolução foi mesmo o facto de terem mantido a vitalidade da juventude que tinham quando começaram, sem trazer bagagem acumulada. Os Be Your Own Pet, liderados por Jemina Pearl, produziram um álbum que pode ser caraterizado como uma experiência emocionante, tanto para os fãs de longa data como para novos ouvintes.
Mommy introduz uma perspetiva musical e lírica mais madura, com faixas dotadas de mensagens explícitas, coesas e inventivas. Essa exploração lírica gira em torno de experiências pessoais e temas como a celebração a excentricidade, a exigência de igualdade e a advogação pela autonomia total do corpo. A insolência adolescente do passado é habilmente equilibrada com uma perspetiva mais experiente, deixando claro que, mesmo trintões, os Be Your Own Pet continuam a ser uma força a ter em conta, pelos seus próprios termos.
Já a nível instrumental, o som maduro e feroz, embrulhado em guitarradas selvagens e sujas e em vocais gritados, lembram produções de outras eras (mais concretamente finais dos anos 90/inícios dos anos 2000).
Aberto oficialmente o segundo capítulo da carreira da banda, os Be Your Own Pet redescobrem a sua confiança, provando que, mesmo como adultos, conseguem ser cativantes com o seu som de rock cru e garage punk enérgico e refinado. Embora “Mommy” possa não fazer jus à energia do primeiro capítulo, pelo menos mostra uma banda que, crescida, evoluiu e reacendeu a sua chama musical – e ainda bem, precisamos de mais bandas assim.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Worship The Whip
> Goodtime!
> Rubberist
> Hand Grenade
Genesis Owusu – Struggler
Género: Hip-Hop/Funk
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O segundo álbum de Genesis Owusu, Struggler, segue uma direção artística arrojada e complexa, mas nada surpreendente, quando temos em conta quem é o artista por detrás dela. À coragem artística do mesmo, junta-se o engenho, pois para além de seguir essa nova direção artística, também a executa com sucesso, dizendo muito sobre sua convicção e criatividade.
Em 2021, com Smiling With No Teeth, referi que o som de Genesis Owusu se assemelhava ao de Yves Tumor. Agora, em 2023, Struggler confirma ainda mais essa minha observação – o que é um ponto positivo – pela singularidade com que ambos os artistas transmitem as suas lutas pessoais.
Este álbum confirma o potencial do jovem artista ganês, agora com 25 anos, tornando mais evidente o seu crescimento exponencial e o ganho de maturidade artística. Neste segundo álbum, o risco assumido traz frutos, solidificando a sua posição como um artista que não será esquecido tão cedo.
Struggler é complexo e exige alguma dedicação por parte dos ouvintes, mas a curva de recompensa/tempo investido é muito positiva, carregando um projeto rico em sabor contextual sem prejudicar experiência auditiva geral. É um ótimo exemplo de como os artistas podem trazer profundidade e complexidade ao seu trabalho sem sacrificar a acessibilidade.
Ainda que este álbum seja mais ligeiro e suave do que o álbum de estreia Smiling With No Teeth, tem nele contido um repertório musical com maior variedade. Owusu navega habilmente pelo espetro da experiência humana com o talento singular que tem, criando um produto inovador e especial, que dá provas da visão artística que tem e define bem a sua identidade musical.
É certo que normalmente os segundos álbuns são traiçoeiros e desafiadores, mas Genesis Owusu passou o teste com sucesso. Ainda que diferente, Struggler pode ser equiparado a Smiling With No Teeth, a nível de qualidade geral. Agora está na hora dos grandes palcos!
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Leaving The Light
> Tied Up!
> Stay Blessed
> Stuck To The Fan
Jungle – Volcano
Género: Dance/Electronic
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Como fã de Jungle de longa data, tenho a dizer que este foi o álbum que mais resistência me ofereceu até me deixar entrar no esquema, porque parece mais um set do que um álbum, pela uniformidade musical ao longo de todo ele – o que é bom e mau.
Colocando os pontos nos “i’s”, é necessário ressalvar que Volcano é uma experiência sonora tropical muito agradável e algo eletrizante, convidando-nos a dançar durante a audição do mesmo. Temos uma exploração mais abrangente e misturas entre géneros e estilos musicais como disco, funk, new wave e até hop-hop, muito bem conseguidas, num trabalho de “corte e cose” ao nível da alta costura, sendo o produto final um pêndulo a baloiçar entre as vibrações soul da década de 70 e ritmos house da década de 80, prestando uma homenagem séria e fiel às suas influências.
Creio que Volcano faz sentido de ser, dado que, a nível sonoro, parece uma extensão de Loving In Stereo (2021), com alguns aprimoramentos, mas também menos riscos e o resultado é não haver nenhum hit icónico. “Back On 74” fecha as seis músicas de abertura, trazendo à memória alguns dos trabalhos mais recentes dos, agora desaparecidos, Portugal. The Man. No entanto, é “You Ain’t No Celebrity” com Roots Manuva – a lenda por detrás da faixa “True Skool” (2006) – que oferece a única reviravolta inesperada num álbum bastante linear.
Linear ou não, não consigo negar que este é o trabalho mais ambicioso de Jungle até à data, e é notável a aprimoração de técnicas de produção e composição sonora ao longo de um ciclo de sons descontraídos, mantendo a energia a fluir.
Se calhar, por não conseguir negar que este é o álbum mais ambicioso da dupla, é que me sinto desapontado. Isto porque enquanto que, a nível de qualidade de produção, os Jungle estão no auge de carreira, a nível de ideias nem por isso. Volcano é excelente e dececionante em simultâneo. As suas virtudes são também fragilidades, fazendo deste um bom álbum para ter a tocar como barulho de fundo para “calar o silêncio”, mas um álbum turvo para se ouvir com atenção, pelo quão repetitivo e pouco inovador é.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Holding On
> Candle Flame (ft. Erick The Architect)
> Back On 74
> You Ain’t No Celebrity (ft. Roots Manuva)
Laura Groves – Radio Red
Género: Avant Pop/Synth Pop
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Esta é uma artista que me passou ao lado por tempo demais, mas estou feliz por a ter, finalmente, no meu radar. Depois de ouvir Radio Red duas ou três vezes, dei uma passagem nos singles que lançou anteriormente e deu para perceber bem que o álbum de estreia em nome próprio não foi uma revolução sonora isolada, mas sim uma continuidade do que tem vindo a produzir desde o seu segundo EP, Committed Language (2015).
Radio Red é o seu primeiro álbum como Laura Groves e é uma delícia poder dar um nome próprio à pessoa por detrás do som que ouvimos – dado que em 2009 lançou o seu primeiro álbum oficial, mas enquanto Blue Roses, que nada tem a ver com a abordagem que temos visto desde 2015.
A linha condutora da carreira de Laura Groves são os sintetizadores que criam uma nostalgia relativa a músicas de outras décadas. No entanto, neste álbum podemos constatar o que acontece quando o foco está a apontar para a sua performance vocal: um Pop cintilante e deslumbrante como uma estrela brilhante no “Sky At Night” (pun intended).
É curioso constatar o quanto um álbum pode mudar a perceção do potencial de um artista. Laura Groves foi durante mais de uma década um projeto em transição, mas sem material suficiente para uma confirmação. Agora, com Radio Red, temos finalmente o marco que torna essa transição oficial, que acaba por desenhar uma trajetória promissora para a artista e deixando-nos mais seguros que o seu próximo álbum vai ser ainda mais incrível, sem quaisquer amarras de conflito de identidade.
O que é que torna Radio Red tão cativante? O facto de ser um álbum expansivo, inquieto e sutilmente volátil, mantendo uma qualidade intrigante que cativa o ouvinte ao longo de toda a experiência.
A grande estrela é “D4N” com a colaboração vocal de Sampha, e destaca-se como uma peça belíssima de neo-soul, mas é em “Sky At Night”, logo a abrir, que Groves demonstra toda capacidade vocal. No geral, as faixas são pautadas por isso mesmo, a harmonia da voz da cantora e dispensam tambores ou batidas, a favor de pianos e efeitos de sintetizadores. Esta decisão joga a favor da profundidade, versatilidade e elegância e acaba por contribuir para o apelo deste álbum.
No fim de contas, Radio Red marca a realização de Laura Groves como artista, num trabalho reconfortante criado com carinho, acentuado por um ritmo uniforme, atenção ao detalhe e uma narrativa coesa. Apesar de ser um album envolvente, falta um pouco mais de brilho, mas a base (que é o mais importante) está lá.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Sky At Night
> D 4 N (ft. Sampha)
> I’m Not Crying
Margaret Glaspy – Echo The Diamond
Género: Alt-Rock/Grunge
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Num álbum de viragem, marcado por um drama emocionante em movimento constante, onde até nos momentos mais calmos os vocais de Margaret Glaspy transbordam certeza e beleza, vemos a artista a redescobrir a fórmula que a tornou tão promissora e entusiasmante, em primeiro lugar.
Esta mudança a nível de conceito e visão artística de Glaspy leva-a a explorar territórios mais extremos e algo taciturnos, complementados pela sua voz poderosa, rasgada e eletrizante – até nas músicas mais acústicas.
E é assim, alinhado com o estilo inseguro, audaz e honesto típico da música rock de Nova Iorque (onde vive), que Glaspy se debruça fielmente sobre Echo The Diamond. Ainda que a sua música seja a “voz principal” e fale com clareza, o título do álbum por si só já dá pistas da intenção da artista quando o produziu, “para brilhar com intensidade” – pistas essas que se materializam no produto final.
Echo The Diamond consiste, assim, em 10 músicas que brilham como fragmentos de vidro, mas impregnadas de temas como amor, luto, coragem, dúvidas existenciais e todas as complexidades que definem a nossa humanidade e a humanidade da artista em concreto. A sonoridade final soa a uma mistura de grunge e alt-rock com uma infusão de folk que faz lembrar Adrianne Lenker, dos Big Thief.
Em suma, Margaret Glaspy parece ter abrandado, reorganizado os seus pensamentos, vontades e prioridades, e optou (e bem) remeter-se à simplicidade, descomplicando o que não precisa de ser ainda mais complicado: a vida. O produto final é ótimo, ideal para um público que valoriza álbuns pensativos, com um suporte instrumental trabalhado e minimalista e vocais que penetram na alma. Echo The Diamond consegue ser extremamente envolvente e vale a pena de uma ponta à outra.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Act Natural
> Get Back
> Memories
> My Eyes
Noname – Sundial
Género: Hip-Hop/Rap
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Telephone (2016) e Room 25 (2018) já tinham marcado pelo que de novo Noname trouxe à indústria musical, e Room 25 (em particular) andou em muitas listas de melhores álbuns do ano. Eis que Sundial volta a revalidar a candidatura de Noname a um dos álbuns do ano.
A espontaneidade de Noname faz com que Sundial tenha imensas virtudes, mas o destaque vai para o compromisso da artista face às ideologias em voga atualmente.
Ao longo do álbum vamos assistindo, na fila da frente, a uma grande variedade de temas e emoções, complementadas por críticas afiadas em contraste com abordagens mais animadas, tornando-o numa experiência deveras cativante. Tão cativante que, após ouvir este disco mais de uma dezena de vezes, ainda tinha dificuldade em selecionar as músicas a ouvir.
Mais duas ou três audições enquanto decompunha as letras e apanhava o que me escapou ao ouvir o álbum como tema da vida, houveram algumas faixas que se destacaram. A primeira que me chamou à atenção foi “gospel?”, muito por contar com a colaboração do fantástico Billy Woods (que lançou um dos melhores álbuns de Rap em 2023) pela forma como debita linhas longo desta faixa, cheia de alma, na qual quase brilha tão intensamente como Noname – o melhor de dois universos na mesma faixa.
A outra faixa que me chamou à atenção é, talvez, a que mais se destaca em Sundial. Refiro-me a “Baloons”. “Baloons” serve como crítica a determinados fãs (a sua maioria caucasiana) na qual se pode ler “Casual white fans, who invented the voyeur? / Fascinated with mourning, they hope the trauma destroy her / Why everybody love a good sad song, a dark album, like? / Tell me that your homie dead, your mama dead / Your brother bled along the street“. Noname alude para o facto de muitos fãs gostarem de ouvir sobre a tragédia negra, enquanto evitam envolver-se ao ponto de conhecer as pessoas, comunidades e culturas. Um tema desafiador sobre o qual Noname não teve meios a medir.
O fluxo lírico de Noname é do mais implacável que há. Até digo mais: Noname é a única rapper no mesmo patamar que Kendrick Lamar neste aspeto, o lírico. Isto porque há outros aspetos a trabalhar, principalmente na força dos refrões e o capricho na sonoridade, mas diria que as colaborações contribuíram positivamente para a expansividade que faltava a Noname nos dois álbuns anteriores.
Em todo caso, a experiência sonora faz jus à escrita riquíssima, com linhas quase filosóficas de questionamento moral e comédia política, tornando cada faixa distinta a nível temático e, por sua vez, resistindo a uma generalização única.
Diria que Sundial é o álbum mais convincente e desafiante de Noname até à data. Este novo projeto da rapper norte-americana (como mais do que provas dadas) demonstra ser uma obra singular de arte americana negra, pautada por a perspicácia intelectual e a simplicidade da vida, independentemente de questões difíceis que nos atormentem. Ainda que aprazível e acessível ao ouvido, Noname optou por evitar seguir o caminho fácil do mainstream e tornou este álbum em mais uma experiência auditiva sensacional e recompensadora.
Classificação do álbum: ★★★★★
Músicas a ouvir:
> black mirror
> balloons (ft. Jay Electronica & Eryn Allen Kane)
> namesake
> gospel (ft. $ilkMoney, billy woods & STOUT)
Ratboys – The Window
Género: Alt-Country/Roots Rock
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Da saga: “bandas incríveis que me passaram despercebidas ao longo dos últimos anos”.
The Window é o álbum mais recente dos Ratboys, mas, com base no que já ouvi da banda (nos entretantos), estamos a testemunhar a jornada de uma banda em rota de colisão com o brilhantismo. Em retrospetiva, pode-se também constatar que tanto a crueza emocional, como o polimento sonoro, não é de hoje – é o trabalho de uma aprimoração constante desse mesmo som, ao longo vários anos. Não sou propriamente um fã de longa data (apesar de ja me considerar fã), mas fiquei com a sensação que este é melhor trabalho dos Ratboys até ao presente, marcado por sonoridades cativantes e um compromisso com a pureza da mensagem de cada música.
Creio que, se há um nível máximo de potencial a atingir, os Ratboys estão lá perto. Deve ser gratificante uma banda perceber que está perto do auge.
O álbum reflete na perfeição a confiança que a banda deve sentir neste momento e marca um passo seguro na direção certa para os desafios do futuro. The Window é, assim, um esforço conjunto que destaca a habilidade dos Ratboys de expandir sua sonoridade, mantendo-se fiéis às suas raízes.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Morning Zoo
> Crossed That Line
> The Window
> Black Earth, WI
Shamir – Homo Anxietatem
Género: Indie Pop/Electropop
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Com uma abertura dotada de uma vulnerabilidade belíssima, Homo Anxietatem é o mais recente álbum de Shamir (o 9° em 8 anos) e mantém o caminho trilhado por Shamir (2020). Quem está familiarizado com esse álbum de 2020 e Heterosexuality (2022) não vai ser apanhado de surpresa para a jornada que este novo álbum alimenta.
Em Homo Anxietatem, Shamir usa e abusa da guitarra servindo de meio para desenterrar e processar emoções profundas, tais como o medo, a ansiedade e a mágoa.
Há momentos de glória nos quais o álbum se desdobra durante a busca pela transformação, tendo como foco a generosidade e persistência, brilhando com mais intensidade em músicas como “Oversized Sweater”, “Our Song” e “The Beginning”. Estas três faixas não só brilham mais intensamente que as demais, como as ofuscam, dado que estão alguns níveis abaixo. Inevitavelmente, o álbum sofre com isso, perdendo fulgor ao longo das suas 11 faixas, mas essa quebra é mais acentuada depois de “The Beginning”.
Em todo o caso, os momentos de brilho levam o álbum a um ponto de tal forma elevado que este consegue captar a nossa atenção para nos fazer ouvi-lo na íntegra.
Olhando para Homo Anxietatem por tudo o que oferece, diria que é uma caixinha de surpresas, recheada de genuinidade, onde o artista parece sempre certo de que o que tem para expressar é digno da nossa atenção. Inevitavelmente somos agarrados pela confiança de Shamir, envolta num indie pop recheado de melodias energéticas, com arranjos lindíssimos. Embora este álbum não marque uma reinvenção do artista, é mais uma prova dada do quão talentoso é.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Oversized Sweater
> Our Song
> The Beginning
The Armed – Perfect Saviors
Género: Punk Rock/Experimental Rock
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Perfect Saviors marca uma nova página para a banda The Armed, que vê assim o seu repertório musical expandido, entregando um álbum ambicioso e recompensador. Ambição essa que exibe uma ferocidade comparável ao de um espetáculo de fogo de artifício de fim de ano, misturando momentos mais leves com floreios de sintetizadores com elementos mais sombrios que abalam o núcleo dessa mesma sonoridade.
Esta produção pode ser caracterizada pelo dinamismo de um grupo de rockeiros noise-punk, equilibrando melodias cativantes com alguma complexidade técnica, que já não é de agora.
ULTRAPOP destaca-se como um álbum de punk imersivo, vestido com a rigor de um rock pronto para grandes arenas. A verdade é que, de uma forma ou de outra, merece ser celebrado pela sua notável explosão de ideias e sons. Embora não tenha o impacto imediato do lançamento anterior, não tenho dúvidas que consolida os The Armed como uma das bandas mais empolgantes em atividade no panorama punk experimental. Embora o que foi feito com Perfect Saviors não seja inovador, é mesmo por esse componente experimental, recheado de hooks e riffs memoráveis em arranjos caóticos, que este álbum se destaca, agarrando nas suas raízes de hardcore e “regando-as” com uma atitude ousada de rock-and-roll.
Em suma, gostando ou não da direção que os The Armed decidiram seguir, a banda merece estar feliz por ter arriscado e por experimentar coisas novas.
Classificação do álbum: ★★★★
Músicas a ouvir:
> Sport of Measure
> Everything’s Glitter
> Burned Mind
> Patient Mind
Victoria Monét – Jaguar II
Género: Contemporary R&B
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Justiça poética para uma mente brilhante que até então tem vivido nos bastidores dos sucessos com os quais colaborou. Falo de toda a carreira como escritora colaborativa de Ariana Grande (desde Yours Truly de 2013, até Positions de 2020), mas falo também do trabalho de escrita outros artistas como Nas, Blackpink, Travis Scott, T.I., Lupe Fiasco, Chris Brown ou ChloexHale (entre outros).
Após anos demais a lançar extended plays, Victoria Monét tirou um tempo para si e lançou o seu primeiro álbum. Se ainda restassem dúvidas da sua qualidade como cantora (porque liricamente praticamente não existem), Jaguar II dissipa-as com tranquilidade.
O melhor é que Monét não se limita a produzir música dentro do espectro expectável. A artista foi mais além e trouxe algo de inovador que eleva o R&B contemporâneo a novos patamares, misturando inspirações de diferentes continentes e gerações, enquanto presta homenagem ao soul, em simultâneo.
A arte e mestria de Monét está à vista, tal foi o clássico instantâneo de R&B que criou. Clássico esse composto por hinos de empoderamento sensuais, muitas vezes com duplo sentido e sem filtros, mas longe do simplório. Quando a isso adicionamos confiança e talento, o resultado é um álbum de estreia de destaque (dentro do género).
É justo dizer que esta produção é uma pequena ode ao R&B contemporânio, recheado melodias sedosas, ajustadas à suavidade dos vocais e letras descontraídas. A nomeação para os Grammy’s de “Melhor álbum de R&B” e “Álbum do ano” não são injustificados, mas fica a sensação de que o melhor trabalho de Monét está por vir.
A experiência auditiva concisa Jaguar II marca um ponto alto para Monét, sinalizando o fim do enigma em torno do verdadeiro potencial da artista e o surgimento de uma figura icónica em ascensão.
Classificação do álbum: ★★★★½
Músicas a ouvir:
> Smoke (ft. Lucky Daye)
> Party Girls (ft. Buju Banton)
> On My Mama
Outros álbuns a ouvir:
> Burna Boy – I Told Them…
> Earl Sweatshirt & The Alchemist – Voir Dire
> Rhiannon Giddens – You’re The One
> Spanish Love Songs – No Joy
> Spellling – Spellling & the Mystery School
> The Hives – The Death of Randy Fitzsimmons
> The Xcerts – Learning How to Live and Let Go
> Wreckless Eric – Leisureland