MEO Kalorama 2023 (Dia 31 de agosto) – A jovialidade de Blur e a rave com The Prodigy

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Começámos bem, ainda que com demasiada poeira. E há um problema para resolver com as casas de banho.

Texto de: Maria João Cavadas

O primeiro dia da 2ª edição do MEO Kalorama prometia aquele que seria, provavelmente, o melhor lineup de três dias de festival. Blur e Yeah Yeah Yeahs eram, sem dúvida, os nomes mais aguardados na primeira noite, mas as expetativas não eram baixas para M83, cujo concerto foi o primeiro a que assistimos.

O grupo encabeçado por Anthony Gonzalez entrou no palco secundário do festival (Palco San Miguel) à hora marcada, quando o calor intenso do último dia de agosto ainda se fazia sentir no Parque da Bela Vista. Com o seu último álbum (Fantasy) lançado em março deste ano, era esperado que a banda não cobrisse uma parte significativa do repertório menos recente, mas a realidade é que nem assim sentimos que nos faltasse nada. Respeitando o alinhamento do álbum, o concerto começou com “Water Deep”, uma balada instrumental com o toque especial de M83, seguida por “Oceans Niagara”. “Amnesia” e “Sunny Boy”, saídos do mesmo álbum, chegaram mais tarde, mesmo a tempo de salvar o fraco entusiasmo inicial do público: não sabemos se por falta de conhecimento dos temas, se pelo sol que muito nos aquecia, ou meramente pelo cansaço provocado pelos longos caminhos a percorrer dentro do recinto, o público não parecia querer mexer-se ao som da eletrónica francesa – pelo menos onde estávamos. Certamente, o fraco som daquele palco não ajudou. Numa viagem ao passado, que passou por Dead Cities, Red Seas & Lost Ghosts (2003) (“Noise”, “Run into Flowers”, “Gone”) e Before the Dawn Heals Us (2005) (“Teen Angst” e “Don’t Save Us From the Flames”), o nível de energia do público não parecia querer subir. Foi já no final do espetáculo que o cenário pareceu mudar, quando chegámos a Hurry Up, We’re Dreaming (2011), começando com “Wait” e atingindo o pico com “Midnight City”, indubitavelmente o tema mais conhecido da banda e um que marcou uma geração. Do mesmo álbum, foi com “Mirror” que dançámos até ao limite possível: não nos podíamos esquecer da noite que ainda tínhamos pela frente.

Uma multidão descia a colina para se dirigir ao Palco MEO, o principal, onde, além da presença dos Yeah Yeah Yeahs, de regresso ao nosso país 17 anos depois, se sentia o cair da noite e o vento que acabou por também marcar a primeira noite. Foi com “Spitting Off the Edge of the World”, tema do seu mais recento disco (Cool It Down, de 2022), do qual ouvimos, também, “Burning” e “Lovebomb”, que deram início a um marcante espetáculo. O indie rock da banda nova iorquina enfeitiçou muitos desde que ela apareceu nos inícios da década de 2000. Foi em 2003, com o seu primeiro álbum (Fever to Tell) que nos trouxeram as fantásticas canções “Date With the Night”, que encerrou o concerto, e “Maps”, tema ao som do qual, 20 anos depois, nos pedem para cantarmos para alguém que amamos. E o nosso coro, em uníssono, não falha: “Wait, they don’t love you like I love you”. A personalidade vibrante da vocalista, Karen O, a combinar em perfeição com o seu outfit bem colorido, misturada com uma qualidade musical de excelência, mas sem grandes pretensões, ajudaram à admiração por parte do público. Os Yeah Yeah Yeahs souberam equilibrar quase na perfeição a sua discografia neste concerto, passando um pouco por (quase) todos os seus álbuns. Com destaque para “Gold Lion” de Show Your Bones (2006) e, claro, “Heads Will Roll” do seu It’s Blitz! (2009), esperamos que a banda não demore outros 17 anos a voltar a terras lusas.

Mais um concerto, mais um esforço: subir, novamente, algumas dezenas de metros até à outra ponta do recinto. De volta ao Palco San Miguel, o público aguardava, entusiasticamente, os britânicos Metronomy. Uma enchente de pessoas, da qual só nos apercebemos à saída, fez questão de ali estar do início ao fim. Sem grandes surpresas, deram início às festividades com um tema saído do seu mais recente trabalho: “Love Factory” (Small World (2022)). Do mesmo álbum, ouvimos “Right On Time” e “Things Will Be Fine”. English Riviera (2011), o seu terceiro álbum, destacou-se neste espetáculo, mas isso não é de surpreender: a verdade é que foi com temas como “The Bay”, “Everything Goes My Way” e “The Look”, os que têm maior número de streams no Spotify, que a popularidade da banda se tornou mais notória. Não faltaram “Reservoir” e “Love Letters” do posterior Love Letters (2014). Também tivemos direito a um “Salted Caramel Ice Cream”, único tema que tocaram de Metronomy Forever (2019). Fosse com que tema fosse, não faltou diversão e letras bem sabidinhas pelos fãs, além de muitos saltos e entusiasmo. Sabemos que os Metronomy continuarão a ser presença assídua nos festivais portugueses. Não faria sentido de outra forma!

Mais uma descida até ao palco principal: era a vez dos tão aguardados Blur. A maturidade que longos anos de existência lhes confere não anula a jovialidade e a descontração com que os membros têm em palco. Naquele que foi o seu último concerto deste verão, Damon Albarn agradeceu por poder tocar naquele espaço e ainda teceu elogios ao Museu da Marioneta, que tinha visitado e adorado. Em suma, o concerto dos Blur foi tanto uma homenagem a nós como uma homenagem nossa: o mar de gente que estava ali para os ver e que os acompanhou do início ao fim foi prova disso. “Girls & Boys” e “Parklife” de Parklife (1994), “Beetlebum” e “Song 2” do álbum homónimo Blur (1997), “Coffee & TV” de 13 (1999) são alguns dos temas que puseram “all the people, so many people” a cantar e a dançar ao mesmo tempo que o vocalista visitava o público várias vezes. Um concerto memorável na primeira noite do festival, mas que não nos impede de deixar uma nota à organização: não colocar dois bares a uma distância tão curta do palco principal e no meio do público. Quem está atrás não vê, não ouve e existe uma ineficiência gigante na utilização do espaço.

Sem grandes surpresas, mais uma escalada até à outra ponta do recinto, onde a labareda da música dos The Blaze aqueceria o palco San Miguel, iluminado por uma lua cheia que não podia passar despercebida. De regresso a Portugal um ano depois, o duo francês, que alia a música eletrónica à arte visual, presenteou-nos com temas do seu EP Territory (2017), como “Virile” e, claro, não podia faltar “She” de Dancehall (2018). Sem descurar dos vídeos que os acompanhavam, tocaram a romântica “Eyes” e a poética e inspiradora “Dreamer” do seu último álbum Jungle (2023). Apesar do vento e do tempo mais frio que entretanto se sentiam, a eletrónica dos The Blaze conseguiu aquecer o seu público e deixou-nos com sede de mais (faltou, por exemplo, “Places”).

A energia já não era muita, mas tínhamos The Prodigy a fechar o palco principal, uma semana após tocarem no CA Vilar de Mouros. A morte de Keith Flint, em 2019, marcou a história da banda, e poderíamos achar que uns dos pioneiros do big beat britânico não seriam icónicos como outrora. Mas engane-se quem pensa assim. Se é verdade que a imagem e a energia de Keith eram uma parte importante da banda que formou com Liam Howlett e Leeroy Thornhill no iníco dos anos 90, nada podemos apontar a Maxim Reality (cujo verdadeiro nome também é Keith): uma rave autêntica foi o que ali se passou. De “Voodoo People” de Music for the Jilted Generation (1994) a “Breathe”, “Firestarter” e “Smack My Bitch Up” de The Fat of the Land (1997) e, claro, a mais jovem “Omen” de Invaders Must Die (2009) ninguém sabe bem explicar como é que ainda conseguimos dançar como jovens adolescentes depois de tantos quilómetros a subir e a descer o recinto. oS The Prodigy foram imaculados.

Mas, se todos os concertos a que assistimos foram bons, a maior falha do festival são as casas de banho. Embora um problema recorrente em vários certames, as do MEO Kalorama destacam-se ainda mais: não têm manutenção suficiente, as filas são inimagináveis E as localizações piores ainda, pois o acesso às mesmas implica caminhar imenso se não se estiver perto, e há várias portas fechadas, diminuindo o número de casas de banho disponíveis. Uma solução seria distribuir as casas de banho pelo recinto, em vez de as ter em apenas dois ou três pontos.

Não podemos deixar de apontar outro grande problema: a poeira. Um recinto tão grande pode não poder ter relva artificial ou coberturas no chão em toda a sua extensão, mas mais próximo dos palcos principais é impreterível.

Foto de: MEO Kalorama

Nota: O Echo Boomer não tem reportagem fotográfica, todas as fotos utilizadas estão disponíveis nas redes sociais do MEO Kalorama

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