Lost Records: Rage and Bloom – Part One

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Lost Records: Rage and Bloom entrega quase tudo o que a Don’t Nod sabe fazer de melhor. No entanto, o seu formato em duas partes condiciona uma experiência nostálgica e ressonante com um ritmo lento e poucas respostas aos seus mistérios.

A Don’t Nod é um estúdio curioso, conhecido pela sua abordagem experimental e pelo risco que assume nos seus projetos. No seu portfólio, encontram-se jogos de ação e aventura como o clássico de culto Remember Me, o RPG de ação Vampyr e, mais recentemente, apostas mais atmosféricas como Jusant ou narrativas como Banishers: Ghost of New Eden. No entanto, há uma série que é sinónimo da Don’t Nod, atualmente partilhada com a Deck Nine – falo, obviamente, de Life is Strange.

É com o ADN dessa série com a mesma filosofia de design que a Don’t Nod apresenta Lost Records: Rage and Bloom, um jogo de exploração narrativa, com foco em escolhas que moldam a história individual de cada jogador. Um jogo que se faz mesmo sentir como uma sequela espiritual de Life is Strange, assim como Twin Mirror e Tell me Why tentaram, mas que, por alguma razão, não ficaram tão presentes na nossa memória coletiva. Por isso, levanta-se a questão: Será que Lost Records: Rage and Bloom tem o necessário para se destacar? Depois de jogar a primeira de duas partes, ainda não tenho essa resposta, mas fiquei definitivamente com vontade de descobrir o que vem a seguir.

A história de Lost Records: Rage and Bloom leva-nos até Velvet Cove, uma cidade fictícia no Michigan, em dois períodos distintos: o verão de 1995 e o ano de 2022, onde conhecemos um grupo de amigas que, afastadas entre esses dois momentos, se vêm obrigadas a reencontrar-se, revisitando memórias nostálgicas de uma amizade que parecia destinada a durar para sempre.

Lost Records: Rage and Bloom é um drama humano com um leve toque sobrenatural, numa estrutura narrativa bem reminiscente de séries como LOST ou, mais recentemente, Yellowjackets. A trama principal desenrola-se no presente, quando as amigas, já adultas, tentam recordar o passado, desencadeado pela chegada de uma misteriosa caixa dirigida ao grupo. Como jogadores, não sabemos do que se trata e acompanhamos a viagem nostálgica até ao verão de 1995 para juntar as peças do puzzle, na esperança descobrirmos “a verdade”.

No jogo, assumimos o papel de Swann, uma das quatro amigas. Através dela, vemos os acontecimentos apenas do seu ponto de vista, o que permite criar uma ligação pessoal às suas emoções, medos e ambições. As restantes personagens – Nora, Autumn e Kat – são apresentadas de forma gradual, deixando-nos no papel de espetadores das suas dinâmicas e personalidades. Durante as sequências no passado, a Don’t Nod dá-nos o controlo sobre o desenrolar da história, onde cada decisão afeta os diálogos e a relação entre Swann e as suas amigas no presente. É uma abordagem interessante, que torna a narrativa mais envolvente, mas que também faz com que esta primeira parte do jogo se arraste num ritmo muito pausado, como um enorme slow-burn, ao longo das suas sete horas.

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Lost Records: Rage and Bloom (Don’t Nod)

A história gira em torno de três elementos que acabam por ser mais importantes do que as próprias personagens e as suas relações: uma caixa misteriosa, uma promessa feita no passado e alguns elementos sobrenaturais que levantam mais perguntas do que respostas. São estes pontos que prometem manter o interesse na narrativa, mas, pelo menos nesta primeira parte, parecem pouco desenvolvidos de uma forma aparentemente forçada. E, por isso, sinto que o jogo precisava desesperadamente de uma reviravolta forte ou de um murro no estômago bem mais cedo, algo que servisse de verdadeiro cliffhanger.

Vou assumir e afirmar que a estrutura narrativa de Lost Records: Rage and Bloom acaba por sofrer com o facto de estar dividida em apenas duas partes episódicas, atrasando ao máximo “o momento” do jogo. Esta primeira parte foca-se quase exclusivamente na origem da amizade do grupo e na forma como aquele verão foi especial, optando por uma abordagem muito humana e realista às personagens e ao mundo em que habitam.

Desta vez, não há poderes ou habilidades especiais como noutros jogos da Don’t Nod. Swann tem apenas uma câmara de filmar, que utiliza para registar momentos do ambiente e certas cenas pré-determinadas. É uma mecânica simples, com o jogo a dividir-se entre explorar, escolher diálogos e interagir ocasionalmente com objetos ou personagens, faltando mais momentos como puzzles ambientais ou uma utilização mais criativa da câmara de filmar.

Apesar da boa construção das personagens e da naturalidade das suas interações, sempre que o jogo tentava relembrar que, no fundo, ainda é um jogo, a ilusão quebrava-se rapidamente, relembrando-me que estou a jogar também em busca de respostas a questões que permanecem demasiado tempo sem resposta: o que está dentro da caixa? Que promessa foi feita? O que aconteceu em 1995? Porque brilham as borboletas à noite? As questões acumulam-se, mas ainda sem resolução, tornando o mistério que nos assombra bem frustrante.

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Lost Records: Rage and Bloom (Don’t Nod)

Lost Records: Rage and Bloom tem um ritmo mais lento do que esperava ou desejava, mas admito que este slow-burn pode compensar no final. O desfecho desta primeira parte apresenta um cliffhanger intrigante e surpreendentemente mais emocional do que antecipava, devido à sua execução, mas que poderá ser um pouco previsível e óbvio, especialmente para quem prestar muita atenção aos detalhes ao longo da jornada.

Ainda assim, há muitos aspetos positivos que me prenderam ao ecrã nesta mini-maratona. Lost Records: Rage and Bloom é visualmente belíssimo, com a Dont’ Nod a reutilizar a sua estética lo-fi/cartoonesca de outros jogos do género, recriando de forma autêntica a atmosfera de 1995 e o espírito nostálgico dessa época. As interações, devaneios e ambições deste grupo de amigas são facilmente ressonantes e intemporais. E para além disso, o jogo é suportado por um elenco carismático e um trabalho de voz emocionalmente convincente, ainda que, por vezes, as animações não sejam tão refinadas como os gráficos sugerem.

Com vontade de descobrir as respostas a tantas questões, fica apenas o desejo que a segunda parte consiga terminar a sua história de forma satisfatória e com menos arrastos narrativos.

Lost Records: Rage and Bloom: Part 1 está disponível no PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S e pode ser jogado através da subscrição PlayStation Plus Premium. A segunda parte fica disponível a 15 de abril.

Cópia para análise (versão PC) cedida pela Don’t Nod.

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