A CP já reagiu, refutando todas as acusações, “insultos e mentiras de que foi alvo”.
Hoje a jóia da coroa do património ferroviário Português, o Comboio Presidencial transportou Presidentes, Chefes de Estado, Reis e Papas durante mais de um século. Construído em 1890, este serviu a corte do rei D. Luís I como o Comboio Real, recebendo a bordo convidados de honra como a rainha Isabel II e o Papa Paulo VI. Rebatizado “Comboio Presidencial” no início do século, transportou os Chefes de Estado Portugueses até 1970, altura em que foi oficialmente retirado de circulação.
O Comboio Presidencial era composto por cinco carruagens de luxo: o salão do Chefe de Estado, o salão dos Ministros, o da Comitiva e Segurança, o salão Restaurante e a carruagem dos Jornalistas.
Havia ainda o furgão que servia para transporte e acomodamento de material, malas e correio. A Brigada Presidencial, assim chamada na altura, era a tripulação que acompanhava o comboio nas suas viagens presidenciais e era constituída por 15 funcionários de categoria, competência e seriedade inquestionáveis: um inspetor, um serralheiro, um eletricista, dois condutores de carruagens, um revisor de bilhetes, um revisor de material, um maquinista e dois inspetores de tração, dois cozinheiros, dois ajudantes de cozinha e quatro criados de mesa. Também muitas pratas, cristais e conversas delicadas.
Já a história recente deste The Presidential deve-se ao empresário Gonçalo Castel-Branco que, numa visita ao Museu Nacional Ferroviário (MNF), no Entroncamento, conheceu o Comboio Presidencial. E foi amor à primeira vista.
Foi então em 2016 que surgiu esta “nova vida” do comboio, tudo graças a um contrato assinado entre o MNF e Gonçalo Castel-Branco, que permitia ao empresário utilizar anualmente um número limitado de quilómetros do Comboio Presidencial. E logo começou a experiência pela linha do Douro com chefs Michelin, naquilo que seriam viagens gastronómicas de luxo.
O projeto corria tremendamente bem, até que veio a pandemia, o que obrigou a deixar o The Presidential em stand by até ao ano passado. E foi precisamente em 2022 que o comboio voltou a circular, mas por tempo limitado, pois a sua última viagem aconteceu a 29 de outubro.
“Deixar para trás uma ideia que se aprimorou com muito esforço e dedicação, que colheu atenção mediática sem precedentes, quer nacional quer internacional, que chegou até a ser considerado o melhor evento público do mundo, é naturalmente difícil, mas levo o orgulho de ter ultrapassado todas as expectativas e objetivos dos nossos parceiros”, referiu Gonçalo Castel-Branco em comunicado lançado na altura.
O The Presidential fora “magnificamente restaurado em 2010”, sendo que o “mobiliário e charme que o tornaram icónico mantêm-se intactos”. Mas se muitos pensavam que a história tinha ficado por aqui, a verdade é que a CP – Comboios de Portugal, a Fundação do Museu Nacional e o Chef Chakall juntaram-se para fazer regressar o Comboio Presidencial em 2024, transformando uma peça de museu numa experiência dinâmica e interativa.
Mas a verdade é que a Lohad, antiga empresa dinamizadora do comboio presidencial, tem andado atenta a este The Presidencial, tendo agora entrado com uma ação em tribunal na qual pede dois milhões de euros por usurpação e destruição do anterior projeto. Mas atenção: este é um valor que “naturalmente deverá crescer caso o projeto CP/Museu/Chakall tenha continuidade”.
“O processo que agora damos entrada nos tribunais provará, sem sombra de dúvidas, não só violação do direito de propriedade industrial e concorrência desleal, bem como a quebra de responsabilidade pré-contratual por violação de deveres comerciais”, refere a nota de imprensa enviada às redações. Para a Lohad, a credibilidade do projeto “foi destruída”, alegando ainda que a sua reputação, bem como a de Gonçalo Castel-Branco, está “permanentemente deteriorada”.
A CP, por sua vez, já reagiu, refutando todas as acusações. “É crucial esclarecer que a CP nunca teve qualquer parceria ou qualquer relação comercial com a Lohad. A única relação comercial que a CP manteve com o senhor Gonçalo Castel-Branco foi através da empresa Trajetórias & Melodias, Lda. Até ao momento, a CP não foi notificada de qualquer ação judicial e, por isso, não comenta o que desconhece. No entanto, caso venha a ser notificada, agirá em conformidade. O único processo judicial existente é uma ação interposta pela CP contra a Trajetórias & Melodias, Lda., visando cobrar um valor em dívida desde outubro de 2022. Acreditamos que esta tentativa de cobrança por parte da CP terá originado o comunicado de ontem, com o objetivo de desviar atenções, criar ruído mediático e confundir a opinião pública”, começa por dizer a empresa num comunicado publicado no seu site oficial.
“No entanto, a CP não pode ficar indiferente aos insultos e mentiras de que foi alvo nesse comunicado. O Comboio Presidencial é uma valiosa peça de museu, composta por carruagens centenárias, originalmente propriedade da CP. Este património histórico, datado de 1890, foi cuidadosamente restaurado nas oficinas da CP e, atualmente, pertence à Fundação do Museu Nacional Ferroviário. Este comboio é uma testemunha viva dos 167 anos de inovação e história da CP e pode ser visitado na maior parte do ano no Museu Nacional Ferroviário”, refere a CP, relembrando ainda “que a ideia de comboios que proporcionam experiências gastronómicas não é nova nem exclusiva. Tais produtos existem em vários países do mundo e são uma parte estabelecida da oferta turística de várias operadoras ferroviárias, incluindo cerca de uma dezena de exemplos em Espanha. A decisão da CP e do Museu Nacional Ferroviário de explorarem este mercado é uma iniciativa independente, fundamentada na nossa história ferroviária e na capacidade de criar um produto que honra tanto a nossa identidade como os compromissos com todos os envolvidos”.
A CP termina dizendo que a “elevada qualidade do serviço no Comboio Presidencial pode ser comprovada por qualquer pessoa que adquira um bilhete para uma das viagens das próximas temporadas”. Dito isto, as primeiras viagens da segunda temporada de 2024 começam já em setembro.