Lil Gator Game conta uma adorável história sobre as aventuras de infância, mas também sobre o crescimento e a amizade, ainda que esteja longe de ser um videojogo para qualquer jogador.
Com 2022 a chegar ao fim, é bom parar e respirar antes de atirar-nos à azáfama do novo ano. 2023 promete ser um ano recheado em lançamentos, desde indies há muito aguardados até ao regresso de algumas das séries mais icónicas da indústria dos videojogos, mas para nós, pobres críticos que têm o trabalho árduo de jogar e analisar a maioria dos grandes lançamentos do ano, simboliza também o recomeço do trabalho e do stress – das longas horas a escrever, a tirar notas, até a tentar terminar aquele jogo que não vale o nosso tempo, mas que precisamos de ver o final antes de chegarmos a uma conclusão. É por esse motivo que aprecio o final do ano, este interregno na indústria dos videojogos onde os lançamentos abrandam quase ao limite, onde podemos parar, pensar e encontrar alguns dos títulos que ficaram perdidos ao longo dos últimos 12 meses ou então estreias de última hora, como Lil Gator Game.
Para o nosso adorável crocodilo, não existe nada melhor do que brincar com a sua irmã mais velha. A paixão de ambos por aventuras e RPG levam-nos a criar os seus próprios jogos sobre grandes heróis e temíveis vilões que vivem na sua pacata ilha. A dupla tem apenas uma regra: não se fala de coisas sérias durante a hora de brincadeira, uma exigência que ambos sempre levam a peito. No entanto, o tempo não para e com a sua irmã mais velha agora na faculdade, o nosso crocodilo vê-se sozinho, mas também preso às memórias do passado. Quando a irmã regressa a casa, durante uma das férias escolares, o nosso herói quer surpreendê-la com aquela que poderá ser a maior e mais detalhada aventura que ambos alguma vez viveram. Com a ajuda dos seus amigos, o pequeno crocodilo prepara tudo: desde cartolinas que representam as criaturas que assolam a sua ilha, até às missões que ambos têm de ultrapassar. Mas o tempo não para e ele cedo percebe que o passado é apenas isso, uma memória, com a sua irmã mais ocupada e sem tempo para as aventuras infantis que ambos viviam. O pequeno crocodilo não desiste. O seu plano? Criar uma aventura maior que a vida.
Este é o mote para Lil Gator Game, um pequeno jogo de aventura que consegue, até mesmo nos seus momentos menos positivos, captar a magia das tardes que passamos a brincar na rua. Claro que a MegaWobble vai mais longe e traz-nos uma ambiência mais fantástica, com vários grupos de crianças a reunirem-se para construir uma enorme aldeia de cartão, mas a mensagem está presente e a inocência do nosso crocodilo e dos seus amigos traz-nos uma humildade reconfortante que nos acompanha até ao final da campanha. Apesar de se inspirar em títulos como The Legend of Zelda, apresentando várias pistas e referências à série da Nintendo, Lil Gator Game não tem qualquer sistema de combate, pelo menos o que esperamos num título deste género. É verdade que podemos destruir as criaturas em cartão espalhadas pela ilha, que se convertem no sistema monetário do jogo – aqui compramos tudo com papel colorido -, mas estas não ripostam, com os confrontos a serem mais colecionáveis do que desafios a sérios. A experiência de Lil Gator Game foca-se na exploração, na descoberta e na resolução de problemas simples enquanto reunimos novos amigos para a nossa enorme aldeia de cartão.
A exploração é, sem dúvidas, o coração de Lil Gator Game, juntamente com os seus diálogos mais inocentes e joviais, com a ilha a apresentar várias zonas de interesse e um número extenso de novos amigos que podemos encontrar. Apesar de termos uma missão principal para concluir, o jogo dá-nos liberdade para explorarmos como quisermos, sem limites narrativos ou barreiras impostas por habilidades. Se queremos visitar uma montanha distante basta deslocar-nos até lá. A magia de Lil Gator Game nasce através desta liberdade, com cada zona a apresentar novas aventuras e segredos que alimentam a nossa curiosidade. É raro passarmos mais do que cinco minutos sem encontrarmos um grupo de criaturas de cartão, um dos potes que podemos quebrar, desafios de tempo – onde utilizamos o nosso escudo como prancha, à semelhança de Breath of the Wild – ou novas missões que nos são dadas pelo elenco de personagens coloridas desta aventura.
Como se trata de uma adaptação das aventuras de infância, mas também de roleplaying – ou larping -, Lil Gator Game mantém a sua ambiência próxima à demanda de um herói por um mundo desconhecido. Claro que o pequeno crocodilo está mais do que familiarizado com a ilha e os amigos que encontra na sua aventura, mas o grupo esforça-se para manter a ilusão viva e isso acaba por ser ternurento. Por exemplo, as missões do jogo refletem esta ideia de RPG real, com cada personagem a apresentar uma nova missão ao protagonista como se estivessem num videojogo. Estes mini objetivos, que podemos completar pela ordem que quisermos, seguem os moldes do género RPG e levam o nosso protagonista a recolher itens, a derrotar inimigos e até a comprar gelados para um vampiro que não pode sair da sua cave. Os objetivos são quase sempre fáceis de concluir, não exigindo muito dos jogadores a não ser alguma atenção às zonas e aos diálogos, com Lil Gator Game longe de ser um jogo de puzzles. Esta é uma aventura que se quer acessível, com a curta longevidade a jogar a seu favor.
No entanto, é necessário reforçar que Lil Gator Game nunca evolui a sua forma e que a mesma poderá tornar-se repetitiva. Se estão à espera de uma aventura mais profunda, com maiores referências e missões desafiantes, este não é o jogo para vocês. O que vocês encontram na introdução é o que podem esperar de Lil Gator Game, só que numa ilha ainda mais extensa. É por isso que acredito que a curta duração da campanha é uma enorme vantagem, até para mim, que me deixei cativar pelo seu mundo e personagens. Lil Gator Game não está interessado numa evolução mecânica, mas sim na sua ambiência. A barra de stamina é a única coisa que podemos evoluir ao encontrarmos braceletes, mas o mesmo não se aplica às armas, escudos e capacetes que recolhemos ao longo da campanha: são quase sempre cosméticas, mas não deixa de ser satisfatório completar o nosso inventário.
Se estão à procura de um videojogo mais descontraído, que vos exige pouco a nível mecânico, mas também em tempo, Lil Gator Game é uma das melhores apostas para este final de ano. É um jogo com vários problemas, como alguns soluços no desempenho da versão Nintendo Switch, mas tem imenso carisma e um coração do tamanho do mundo. Esta foi uma aventura mais emocionante do que antevia, que me transportou para o passado e para as minhas aventuras de infância, ao ponto de me ter relembrado de algumas brincadeiras que vivi com o meu grupo de amigos. Mas sabem que mais? As memórias ficam, boas e más, para que possamos crescer. Penso que esta é a mensagem da MegaWobble. Vemo-nos em 2023.
Cópia para análise (versão Nintendo Switch) cedida pela Playtonic.