Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii

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Like a Dragon já nos habituou a spin-offs fora da caixa — afinal, nem a série cabe em caixa alguma!, depois de um apocalipse zombie, duas aventuras feudais e sei lá que mais, piratas nem estavam na lista. Se estou surpreendido? Nem por isso… A pergunta que ecoa é: “porquê?” Mas imediatamente seguida da resposta óbvia: “e porque não?

Se a Ryu Ga Gotoku Studio (RGG) é mestra em reciclar conteúdos (para o bem e para mal), ainda há muito para repescar de Like a Dragon: Infinite Wealth, aquela que foi, para mim, uma das piores entradas na minha série favorita. Vai daí, estava reticente e pouco entusiasmado para esta nova aventura, com um dos protagonistas mais adorados cá em casa, e pela comunidade, desde o fantástico Yakuza 0: Goro Majima – numa breve tangente: sabiam que o Mark Hamill dobrou-o na primeira tentativa de trazerem Yakuza para o ocidente? Agora sabem.

Mas felizmente enganei-me redondamente e estou agora aqui para engolir algumas palavras… A aventura de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii começa com o nosso protagonista amnésico, a acordar numa praia remota algures no Hawaii. Acudido pelo jovem Noah e pelo tigre Goro, Majima segue-os ao bar mais próximo até se meter numa rixa entre piratas. É aí que a memória muscular desperta e temos um vislumbre do Majima que conhecemos e adoramos, um Majima insano e sedento de um bom enxoval de tareia. 

Não demora até descobrir que pertence a um antigo clã de Yakuza, que lhe dá o fio de um novelo a seguir para regressar à sociedade e uma possível cura. Só que, com este plano, o jogo seria curto e seco. O próprio Majima reconhece que o seu novo destino não será tão linear e decide partir numa aventura de pirata para mostrar a Noah que o mundo é bem maior do que a sua pequena e isolada ilha (que o protege de uma crise de asma, e queria estar a brincar!) e descobrir o antigo tesouro de Esperanza — portanto, a premissa de One Piece! É formulaico, mas funciona quanto baste. E, como seria de esperar, a aventura passa por reunir uma tripulação excêntrica, encontrar um navio digno e zarpar rumo ao desconhecido! 

Embora o jogo decorra na nossa atualidade, e exista um conceito contemporâneo de pirataria (um que não é romântico nem cinéfilo ou que respire a alma de One Piece), Pirates in Hawaii decide ignorar essa realidade e recriar uma aventura com espírito antigo. E ainda bem, porque só exacerba o quão bizarro tudo é, como nos alinhamos à sua proposta sem levantar questões. 

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Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii (Ryu Ga Gotoku Studio)

Desde que terminei a série Black Sails e Assassin’s Creed IV: Black Flag – um dos poucos Assassin’s Creed a prender o meu interesse até ao fim graças à sua temática –, que continuei a mastigar a questão do porquê de não termos mais destas aventuras; um nicho pouco explorado. Ignorando, obviamente, Skull and Bones e o colosso que é Sea of Thieves, que balouçam mais para o jogo enquanto serviço. Mas percebem onde quero chegar?

Não tivemos nada semelhante no género e teve de ser a série Yakuza a chegar-se à frente, com a melhor personagem para carregar este devaneio. Só que também é injusto associar Majima a aventuras tolas (mesmo que o diretor o afirme), uma vez que os melhores momentos de Yakuza 0 nos mostraram um lado seu mais sério — com gravitas. E como as situações o moldaram no que viemos a conhecer.  

E se continuar a elogiar esta prequela à série Yakuza, não me posso esquecer do quão fantástico era controlá-lo em combates, na leveza dos vários estilos e combos acrobáticos e no quão selvagem era, sem considerar se são aliados ou inimigos. Portanto, não entendo bem o que aconteceu com o combate deste Yakuza in Hawaii que faz uma pausa aos combates por turnos. Os parcos estilos parecem ao mesmo tempo rígidos e frouxos, especialmente depois do que já jogámos na série. Mesmo com a adição de um novo estilo de combate à pirata, com sabres, pederneiras e ganchos, fica a sensação de que podiam ter feito mais, se olharmos para o combate de um jogo de 2015. Ainda por mais, com os dois Judgment e um Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name a refinar o legado do brawling característico da série até dar o salto para o combate por turnos nos Like a Dragon principais.

No que toca à evolução do Majima, o jogo permite-nos melhorar atributos básicos de vida e ataque, assim como desbloquear habilidades e ataques especiais através de simples menus. Os anéis são os upgrades mais “piratas” que equipamos em cada dedo e que melhoram vários atributos, como a defesa, o ataque e várias resistências. E como estes anéis estão escondidos em tesouros, somos confrontados com mais uma razão para explorarmos e seguirmos o X marcado no mapa. Ou se não estivermos à procura destes tesouros, estamos em busca de criaturas míticas que podemos invocar em combate.

E, claro, ainda temos o combate naval, ou não seria é um jogo de piratas a sério! Estes encontros são rápidos e satisfatórios, onde damos uso a salvas de canhões laterais, a armas frontais mais rápidas ou à força do navio para abalroar o pobre do adversário até o afundar. Isto é descrever as batalhas navais de uma forma muito superficial porque a insanidade não vai demorar a aparecer, oferecendo inúmeras oportunidades para equiparmos o navio com lasers e um ror de armas que não lembra a ninguém. No final, podemos ainda subir a bordo com a tripulação para acabar com as sobras. E é vital escolher bem os postos de comando, uma vez que cada personagem (principal ou recrutada) tem atributos próprios, habilidades passivas e outras influências jeitosas. 

Vamos usar o nosso barco Goromaru para mais do que navegar, mas também num enorme coliseu em Madlantis onde temos de enfrentar outras tripulações desejosas de pendurar a nossa cabeça nos seus mastros. E quando não estamos neste antro de piratas, navegamos até Honolulu, onde está o grosso do conteúdo secundário reciclado de Infinite Wealth e as novas histórias secundárias mais cómicas deste jogo. Se não me ri nem uma única vez em Infinite Wealth, posso dizer que estou a fazer o máximo das missões e já me dei a chorar a rir com algumas situações (uma tour de Idols que reúne as pessoas mais tristes, mas com uma mensagem bonita quando se veem aldrabados pela mesma; ou o homem estátua que é um herói só por se achar de bronze; ou a moça que tenta ser mais sensível do que parece, mas só quer andar à tareia). Se pensava que os segmentos live-action das Minato Girls iam roçar o constrangedor dos outros jogos, bem que me enganei (outra vez).

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Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii (Ryu Ga Gotoku Studio)

Dito isto, por cada passo em frente, há dois para trás. Talvez os meus óculos cor-de-rosa estejam embaciados, mas a RGG precisa urgentemente de melhor direção. Se já me queixei do ritmo em Infinite Wealth, aqui também não é melhor, este capítulo continua a forçar mecânicas e jogos secundários a meio da história, criando momentos de pára-arranca desnecessários. O que vale, é que a campanha é bem mais curta do que o RPG anterior, portanto não é tão gritante. É curta, mas ainda com uma tonelada de coisas para fazer e queimar tempo porque a tendência dos novos jogos é caprichar na quantidade, ao passo que a qualidade se vai tornando facultativa. 

Em Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, Honolulu continua a ser um local insosso em comparação a uma Kamurochō com vida e personalidade. Os NPC são para lá de feios e destoam tanto quando o protagonista está na mesma cena. E mesmo a nível técnico, o jogo abriu com uma péssima iluminação e uma calibração de HDR que mais valia nem existir. Perdi boa parte do início a deixar aquilo de maneira a se conseguir jogar decentemente. De novo: Quantidade versus Qualidade, algo que já foi melhor no passado. Agora, se posso aplaudir uma melhoria foi terem descartado a má tentativa de dobragem inglesa na versão japonesa e assumido que todos falam o mesmo idioma.

Até surgir uma alternativa acessível para jogarmos Yakuza: Dead Souls (e ainda bem que não há…), Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii soma, segue e conquista o seu lugar como um dos devaneios mais divertidos da saga, defeitos incluídos. Se forem fãs da série, não hesitem.

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Cópia para análise (versão Xbox Series X|S) cedida pela Ecoplay.

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