LCD Soundsystem no Coliseu de Lisboa: Sejam bem-vindos à discoteca de James Murphy

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Quando, em 2011, James Murphy anunciou que em abril daquele ano iria dar o último concerto da banda no Madison Square Garden, em Nova Iorque, muitos não quiseram acreditar. Afinal, como é que uma banda, como os LCD Soundsystem, com três belíssimos álbuns lançados, poderia acabar daquela forma fugaz? Mas aconteceu… até 2015, quando lançaram a faixa “Christmas Will Break Your Heart” em plena época natalícia.

Esta despedida foi, na verdade, uma pausa de praticamente cinco anos, e muitos criticaram o líder James Murphy por regressar com a banda. O mesmo disse que iria valer a pena. E valeu mesmo, pois American Dream, o álbum lançado no ano passado e que vieram apresentar em três noites no Coliseu de Lisboa, esteve na lista dos melhores registos discográficos lançados no ano passado.

Estivemos no Coliseu na segunda destas três noites. Um coliseu esgotado, aquecido por Shit Robot, prestes a explodir. Mas não foi com “Oh Baby”, do mais recente álbum, que colocou o Coliseu em ponto de ebulição. Foram as faixas seguintes “You Wanted a Hit”, “Tribulations”, “I Can Change” e “Get Innocuous!” que incendiaram o público. Estava aberta a pista de dança.

Se, em disco, os LCD Soundsystem já são impactantes quanto basta, a coisa tem outro impacto quando as canções ganham vida em concerto. Falamos, por exemplo, na popular “Daft Punk Is Playing at My House” – aqui em versão mais jazzística – e que serviu como cartão de visita da banda no popular videojogo FIFA 06, ou até na versão corridinha da fantástica “tonite”, esta do álbum do ano passado.

Em palco, vendo todos os músicos estrategicamente posicionados nos seus lugares, há varias coisas que nos passam pela cabeça. Ora a disposição dos instrumentos e decoração nos fazem lembrar que estamos no meio do caos de uma feira qualquer; ora quase nos sentimos que estamos na sala desarrumada de James Murphy, ele que teve a vida salva pelas drogas. Afinal, diz o próprio, foi quando tomou a primeira pastilha de ecstasy que a sua vida mudou – deixou de ser um simples DJ e passou a ser o frontman de uma das bandas mais importantes do início deste milénio.

Murphy, que cria letras com a maior sinceridade do mundo para as suas canções, não deixa o crédito por mãos alheiras com aquela atitude meia rockstar, meio arrogante: manda uns bitaites, dança, grita, mas sempre com aquela atitude de que parece estar a fazer a festa para si próprio, como se o estivéssemos a ver através de uma emissão via Internet. É um one-man-show no sentido literal da palavra, atuando como mestre de cerimónias perante aqueles que o acompanham nos outros instrumentos em palco.

O concerto, além de apresentação do álbum American Dream, serviu-se também em modo best-of. E não poderia ser de outra forma. Apesar do alinhamento ter sido muito semelhante à da noite anterior, embora com mais dois temas interpretados (14 temas na primeira noite, 16 na segunda e 22(!) no terceiro e último concerto na capital), é difícil haver queixas nesta setlist. Pode-se ter sentido a ausência de uma “Losing My Edge”, mas, de resto, tivemos direito a todos os hits que fomos conhecendo ao longo da carreira da banda nova-iorquina.

LCD Soundsystem Coliseu dos Recreios Lisboa 4
Foto: Graziela Costa

Na despedida em falso, como quem diz, antes do encore, ouviu-se “New York, I Love You But You’re Bringing Me Down”, para a histeria generalizada. Cerca de cinco muitos depois, a banda regressava para mais quatro músicas: “How Do You Sleep?”, uma das melhores faixas de American Dream, o que contrasta com a seguinte, “Emotional Haircut”, bem dispensável, para terminar em verdadeira apoteose com “Dance Yrself Clean” e “All My Friends”. Parecendo que não, naquelas 2h15 de concerto, éramos todos amigos, e James Murphy fechou a noite junto dos seus.

Definir em palavras um concerto dos LCD Soundsystem é uma tarefa que acaba por ser ingrata. Adjetivos como “incrível” ou “maravilhoso” não são suficientes para catalogar o fenomenal concerto que as cerca de 4 mil pessoas que esgotaram o Coliseu de Lisboa tiveram o prazer de assistir. Mas música é isto – é viver, sentir, aproveitar o momento e não pensar em mais nada. A música tem este poder e, ao que parece, também os LCD Soundsystem. Sem sombra de dúvidas um dos melhores concertos que Lisboa recebeu nos últimos anos. Agora apenas basta esperar que James Murphy nos continue a entreter.

Fotos por: Graziela Costa


 

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