Lançado originalmente em 2005, La-Mulana marcou os primeiros passos da indústria independente no Japão, iniciando uma pequena revolução e uma nova aposta no saudosismo e na homenagem aos clássicos que ainda hoje marcam a atualidade. Mas quando Takumi Naramura se lançou no desafio de recriar uma experiência próxima de títulos como Castlevania e Super Mario Bros., o mercado era pequeno, as sensibilidades e exigências eram outras e a sua motivação muito mais forte do que a que vemos nesta reedição dos dois títulos da série.
Naramura trouxe-nos uma homenagem e uma tentativa em recriar algo próximo da era dos 16-bits, mas sem a limitação física das consolas, com o primeiro jogo a chegar ao PC numa versão agora esquecida. Depois de um remake, lançado para a WiiWare, a série de ação e plataformas estreia-se nas consolas atuais, apostando na exploração e na dificuldade, com os nossos heróis a lutarem contra um leque variado de monstros e figuras mitológicas enquanto procuram por tesouros perdidos e outras regalias.
La-Mulana é, acima de tudo, um jogo com um mundo quase-aberto, onde cada zona tem vários caminhos alternativos, tesouros escondidos e outras surpresas. Não me arrisco a dizer que é um protótipo de metroidvania ou algo semelhante, mas é o equivalente a um título de aventura com uma área principal onde podemos comprar novas armas e equipamentos. Os jogos apresentam ainda um sistema monetário que influencia a nossa progressão e um pequeno, mas presente, sistema de evolução que nos permite melhorar os pontos de vida dos nossos exploradores.
Para um jogo em 2D, com um pixel-art que aguentou o teste do tempo – ainda que a sequela se destaque mais a nível visual –, é interessante ver como o design dos níveis é variado e muito desafiante. Existem inimigos e armadilhas à nossa espera, a dificuldade é acentuada e sentimos que cada escolha poderá determinar a nossa sorte.
No entanto, o design consegue ser demasiado confuso e de leitura difícil devido às suas cores mais neutras, apostando muito em tons de cinza, e em estruturas, como escadas, que se misturam com os cenários. É um jogo simples, mas ao mesmo tempo com alguns problemas que evidenciam a sua idade.
Em ação, La-Mulana é simples. É um jogo de ação e plataformas onde podemos saltar, atacar – com o famoso chicote – e utilizar várias armas secundárias, que podemos escolher através do menu. Os níveis dividem-se, assim, por secções de salto, algumas muito desafiantes, e no combate rápido contra inimigos e bosses. No primeiro jogo, o salto é muito rígido e difícil de controlar, existindo pouco espaço para alterar a trajetória.
Já em La-Mulana 2, senti um maior controlo sobre a personagem, ainda que o combate tenha sofrido poucas alterações. O grande destaque vai para os confrontos contra os bosses, que podem envolver mais do que atacar e saltar, com momentos em que estamos, por exemplo, presos a um rio ou com um monstro enorme capaz de nos atacar de qualquer lado.
Há, portanto, uma simplicidade inerente à jogabilidade que contrasta com a aposta numa estrutura mais aberta. Cada caminho é uma porta para novas zonas e senti que não existem escolhas erradas. A presença de um HUB, onde podemos falar com outras personagens, dá aos dois jogos uma sensação de segurança, sendo possível regressar, quando possível, às suas lojas e expandir o nosso armamento.
É preciso, claro, apostar na descoberta de tesouros e juntar o maior número de moedas se quisermos comprar os melhores equipamentos, uma motivação que se mantém presente do início ao fim. La-Mulana, e a sua sequela, tem assim um lado mais RPG, sem o ser, e uma aposta na personalização, sem o ter.
Se a nível gráfico os jogos sobreviveram ao teste do tempo, o mesmo não posso dizer da sua jogabilidade. La-Mulana 2 é um jogo muito mais limado e fácil de controlar, com a protagonista, a jovem Lumisa Kosugi, a ter um salto mais seguro e uma maior fluidez na movimentação, mas não posso dizer o mesmo do título original. Há uma rigidez desmotivante no jogo, nos seus saltos, nos ataques e até na deslocação. Não podemos saltar das escadas, não há qualquer variedade na jogabilidade e nunca nos sentimos como verdadeiros exploradores.
Apesar da sua aposta na exploração, na compra de itens e na descoberta de tesouros, a série La-Mulana parece ser, ao mesmo tempo, muito retrograda e presa aos títulos que tentou homenagear.
La-Mulana vive da sua popularidade e importância numa indústria que ajudou, ainda que indiretamente, a crescer. No entanto, 15 anos é muito tempo e algo se perdeu nesta passagem entre gerações. Muito mudou. E La-Mulana, especialmente o primeiro jogo, ficou na mesma. A série terá os seus fãs, acredito que sim – basta olhar para as classificações no Steam –, mas não serei um deles. Se tiverem, ainda assim, curiosidade, aconselho-vos a apostar apenas em La-Mulana 2, o melhor da série. É o máximo que consigo recomendar.
La-Mulana 1 & 2
Plataformas: Xbox One, PlayStation 4, Nintendo Switch
Este jogo (versão PlayStation 4) foi cedido para análise pela Bandai Namco.
Um pacote que poderá deliciar os fãs de plataformas e ação, mas que sofre por estar perdido no tempo e pro ter uma jogabilidade que teima em não evoluir para além da sua fórmula.