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Na corte do Rei Artur, os roguelikes apresentam-se com poucas novidades e motivos para investirmos várias horas ao seu loop de jogabilidade.

Se tudo falhar num roguelike, se a progressão não for a mais competente e se as recompensas para o recomeço constante da campanha – monetárias, permanentes ou temporárias – não forem entusiasmantes, acredito que um videojogo pode continuar a ser interessante se a jogabilidade for competente. A experiência roguelike não se centra apenas no seu combate e mobilidade, eu sei, mas são dois componentes tão incontornáveis que podem enaltecer o que poderia ser uma campanha medíocre. Knight Vs Giant: The Broken Excalibur é o exemplo de um videojogo que poderia ir além dos seus problemas se o combate moment-to-moment e a evolução temporária fossem minimamente interessante ou desafiantes, mas a Gambir Game Studio parece ter dado mais atenção à parte cosmética e até narrativa daquela que poderia ter sido uma viagem sólida pela lenda de Camelot.

Com a estrutura básica de um roguelike, Knight Vs Giant: The Broken Excalibur depende demasiado dos seus níveis repetitivos – com poucas distrações ou variedades imponentes na jogabilidade, fora a introdução de algumas armadilhas que condicionam a movimentação em combate – e dos inimigos esponjosos, cujos pontos de vida são mais exasperantes do que a sua inteligência artificial ou padrões de ataque, para o seu próprio bem. Isto dá origem a níveis com péssimo ritmo de combate, onde é normal ficarmos presos a uma única arena com hordas de inimigos que ganham pelo cansaço e não pela estratégia ou pela sua combinação de ataques e habilidades – um problema que é agravado devido à falta de poder e inventividade nos golpes do Rei Artur.

As habilidades especiais, sejam temporárias ou permanentes – é possível melhorar os atributos do famoso rei e evoluir a sua espada –, impactam positivamente o combate e trazem alguma variedade aos confrontos – nomeadamente contra os mini-bosses e bosses que encontramos ao longo das áreas principais –, mas os tipos de inimigos, os seus pontos de vida e os padrões pouco convincentes dos nossos ataques prejudicam de tal forma a jogabilidade que nem as melhores habilidades conseguem afastar a sensação de cansaço que se instala entre tentativas.

Knight Vs Giant: The Broken Excalibur não vem desprovido de boas ideias e é isso que o torna tão frustrante. É verdade que não faz grandes alterações à fórmula roguelike – níveis constituídos por arenas, recomeço quando perdemos, habilidades temporárias e outras passivas -, mas achei interessante a forma como tentou injetar alguma personalidade ao sistema de combate e apostou na reconstrução de Camelot nesta versão ainda mais fantasiosa da famosa lenda. Com o reino destruído e os seus cavaleiros derrotados, a Távola Redonda de Camelot foi transformada em espíritos que guiam e auxiliam o Rei Artur. Lancelot, Galahad, Bors, Bedivere, entre outros, funcionam como builds do jogo, ao permitirem que utilizemos armas e ataques especiais distintos. Desta forma, temos seis modos de ataque e seis habilidades especiais que podemos combinar entre si e evoluir através do sistema monetário do jogo. Uma forma interessante de ligar a narrativa com a progressão de Knight Vs Giant: The Broken Excalibur, ainda que não consiga esconder os problemas inerentes à jogabilidade, especialmente durante as primeiras horas.

A segunda parte positiva, e aqui muito subjetiva – visto que se trata de um elemento que aprecio sempre em videojogos -, é a reconstrução de Camelot ao longo da campanha. Se encontrarmos os habitantes perdidos do reino e se tivermos dinheiro suficiente no final de uma ronda, podemos escolher melhorar Camelot e reconstruir as suas lojas, estradas, fontes e estruturas destruídas pelos gigantes. Uma evolução maioritariamente cosmética, mas que serve o propósito de injetar alguma progressão a uma campanha que se baseia no recomeço e perda constante em combate. As novas lojas servem para melhorar a espada e habilidades do rei, mas também termos acesso a novos desafios que escondem melhores recompensas. Como as evoluções da espada e dos cavaleiros estão presas ao sistema monetário, existe uma pequeníssima injeção de estratégia e gestão na forma como distribuímos as moedas entre a construção do reino e melhoramos as habilidades do rei. Não é um sistema muito profundo, mas ao menos tentaram e sempre dá mais missões e tarefas para os jogadores terminarem.

Infelizmente, a progressão volta a ser um problema porque Knight Vs Giant: The Broken Excalibur parece querer ser um GaaS à força, no sentido em que requer demasiado investimento para a parca satisfação que recebemos em troca. O sistema monetário é demasiado limitador, com os inimigos a darem poucas moedas de ouro para os valores que o jogo exige. A construção de uma casa, por exemplo, é tão cara que ficamos várias rondas sem desbloquear o que quer que seja. Depois temos a forma como o jogo equilibra a evolução das classes, onde somos obrigados a melhorar percentagens mínimas no poder e velocidade dos ataques. A evolução é tão mínima entre níveis que não sentimos o impacto do investimento avultado que temos de fazer. Por fim, o jogo requer que estejamos constantemente a completar os níveis para termos a ínfima possibilidade de encontrar os mercadores, ferreiros e afins para desbloquearmos novas opções de personalização. Uma escolha completamente bizarra.

Knight Vs Giant: The Broken Excalibur não é um roguelike memorável ou divertido. A jogabilidade funciona, mas o sistema de ação é cansativo e pouco variado – mesmo com as habilidades dos cavaleiros de Camelot – e os tipos de inimigos e bosses não oferecem oportunidades de combate suficientemente interessantes para justificar as sucessivas tentativas que a campanha exige. A progressão tenta ter algum peso através das melhorias de Camelot, mas é prejudicada por grind sem sentido. O humor é uma mais valia e existe uma tentativa em criar um tom mais leve em torno desta realidade onde Camelot é destruída e o Rei Artur derrotado. Na verdade, a única mais valia do jogo é a narração de Brian Blessed, que irá fazer as delícias dos fãs de Black Adder e Flash Gordon.

Cópia para análise (PlayStation 5) cedida pela PQube.

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