Análise – Kingdom Come: Deliverance – Um RPG Medieval sem fantasia

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Numa indústria marcada por jogos de fantasia, ficção científica, ação e diversão, surge um jogo que quer marcar a diferença por uma estranha autenticidade e que nos leva atrás no tempo até à idade média.

Kingdom Come: Deliverance é um RPG na primeira pessoa e vem apresentar-nos uma história de vingança durante a idade média, enquanto temos como pano de fundo um conflito entre nações.

Para quem procura mundos fantásticos com dragões, elfos e fadas, como costuma ser normal neste tipo de jogos, aqui vamos ter um título baseado na realidade e com uma atenção aos detalhes da época muito rara nos videojogos.

Este não é um jogo para todos. Não pela sua temática ou pela falta de elementos fantásticos, mas pela sua densidade e pela falta de polimento técnico capaz de deixar os jogadores bastante frustrados durante as cerca de 50 a 60 horas da aventura principal.

As primeiras horas de Kingdom Come: Deliverance são decisivas. Nesse período, caberá ao jogador decidir está ou não a fim de acompanhar a aventura de Henry, o nosso jovem protagonista, pelas terras de Boémia, na Europa Central, em 1403, quando esta fazia ainda parte do Sacro Império Romano.

Depois de uma bela introdução cinemática que nos mostra alguns dos ambientes que podemos explorar, é-nos apresentado o protagonista, que começa a falar com a sua mãe, graças a um sistema de diálogos bastante interessante. Depois disso, somos rapidamente largados neste mundo, quase de forma desamparada, e com uma série de objetivos para cumprir, cuja ordem fica à nossa mercê.

O jogo não nos dá as mãos e, infelizmente, também não faz um bom trabalho enquanto guia. É muito difícil perceber onde está o nosso objetivo, mesmo com recurso à bússola no topo do ecrã, ou visualizando no mapa. Este é um problema que se reflete durante o resto do jogo e que vai consumir muito do nosso tempo, uma vez que acabamos por explorar áreas que não exploraríamos se não existissem missões para elas. Isto acaba por ter um enorme impacto nas ditas primeiras horas, que fazem parte do prólogo do jogo. Antes de se iniciarem os créditos, é possível já ter cerca de duas a três horas de comando na mão.

Durante este período, e para lá do prólogo, vamos tendo pequenos tutoriais de como usar diferentes mecânicas e de como funcionam as regras deste mundo.

É interessante ver como algumas das mecânicas não só exploram o conceito de jogo, como fornecem algumas lições históricas sobre a sociedade, personagens e momentos importantes daquela época. Ao longo das nossas jornadas e dos encontros com outras personagens, é necessário termos algum cuidado com a nossa aparência, como por exemplo o nível de sujidade e o modo como falamos e nos dirigimos aos outros, especialmente se apresentarmos sinais de cansaço ou embriaguez. São pequenos detalhes que podem ter algumas repercussões, como personagens que nos evitam e guardas que nos levam, temporariamente, para a prisão. No fundo, estamos perante um jogo de sobrevivência, onde é preciso estarmos com uma constante atenção à nossa personagem, como se se tratasse de um tamagochi.

Sendo um título na primeira pessoa, Kindgom Come: Deliverance tenta, também, apresentar uma forma única e diferente de se jogar, especialmente no combate. Pelo tipo de jogo que é, apenas teremos ao nosso dispor um conjunto limitado de armas, como espadas ou arcos e flechas. O foco está quase todo no combate corpo-a-corpo, com espadas, sendo muito importante treinar, ganhar ritmo e perceber como é que os indicadores das animações nos permitem atacar e defender com sucesso. Os ataques são feitos em cinco direções e com os gatilhos (jogado com o comando), onde a concentração é chave para perceber o melhor momento para atacar, defender ou fazer combinações.

Outro elemento a ter em atenção é a barra de resistência. À semelhança de muitos outros jogos, o nosso ataque é mais ou menos forte de acordo com essa informação, portanto é muito importante ter calma durante os combates.

No fim, este sistema acabar por parecer solto e pouco polido, com animações estranhas e pouco naturais. No início é especialmente difícil, mas, para alguns jogadores, assim que se lhe ganha o jeito, pode ser algo de especial.

Fica a dica: Não ataquem tudo o que se mexe. Tal como na vida real, não queremos andar à batatada com ninguém. E se for mais do que um oponente, ainda pior. O falhanço pode ser fatal. No caso do jogo, é também bastante inconveniente.

Este tipo de fatalidades no jogo pode ser dramático. O sentimento de perda está muito bem conseguido, mas pelas piores razões. Kingdom Come: Deliverance guarda o jogo automaticamente nas alturas mais importantes, como por exemplo entre missões. No entanto, não o faz com muito mais regularidade. A alternativa para guardar rapidamente o jogo é usar uma bebida alcoólica, que pode ser comprada em alguns vendedores no mapa. Esta maneira de guardar o jogo revela-se um enorme obstáculo e muito pouco prático para quem quer consumir o jogo aos bocados. Até porque este item nem sempre se encontra à mão e a economia do jogo não permite comprá-lo com a facilidade desejada.

Kingdom Come: Deliverance tem uma apresentação com uma direção de arte muito bem conseguida. O mundo é bastante detalhado, apresenta uma sensação de escala bastante realista, a arquitetura e os elementos do ambiente parecem autênticos e os próprios menus e a tipografia usada neles e nas legendas de diálogos ajudam na coesão estética. A música do jogo é incrível, com temas heróicos nos momentos chave, e outros de fundo que acompanham bastante bem a nossa exploração. Ainda a nível de som, também são de louvar as vozes que dão vida às personagens e como encaixam tão bem nos seus perfis.

Mas muito destes pontos positivos acabam por perder a sua força quando o jogo demonstra ser uma autêntica salada russa a nível técnico.

Não é de espantar que Kingdom Come: Deliverance tenha sido notícia nas principais páginas de videojogos. O jogo, para ser jogado como está no momento da escrita desta opinião, requer o download de um patch com mais de 20GB, algo insuficiente para eliminar os constantes problemas deste jogo.

Carregamentos de texturas, cenas de diálogos com personagens em posições estranhas, animações quebradas, missões que não ativam, paredes invisíveis e muitos outros são problemas recorrentes que quebram a imersão ou requerem o recarregamento do jogo guardado em situações em que podemos perder horas de progresso. Na minha experiência na versão PS4, a consola chegou a desligar-se a meio do jogo. Felizmente só perdi alguns minutos.

Kingdom Come: Deliverance acaba por ser um jogo com uma história forte e interessante, personagens cativantes e muitas missões com pequenas narrativas extremamente deliciosas que quase se parecem com pequenas anedotas. Tudo num mundo sem fantasia, mas com algo de fantástico, e que utiliza ideias e convenções históricas com elementos que afetam o modo como jogamos. São os elementos de realce que nos vão prender ao ecrã com facilidade.

Infelizmente, sofre de problemas técnicos e decisões de produção estranhas e frustrantes, assemelhando-se, por vezes, a um jogo ainda em desenvolvimento numa fase muito embrionária. Irá certamente afastar muitos jogadores que não tenham paciência para estas barreiras.

Kingdom Come: Deliverance está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.

Kingdom Come: Deliverance
Nota: 6/10

O jogo (versão PS4) foi cedido para análise pela EcoPlay.

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