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Journey To Foundation explora novos territórios no mundo criado por Isaac Asimov, numa experiência VR superficial que seria bem mais agradável de explorar num formato mais tradicional.

O PlayStation VR2 foi, para mim e para muitos outros jogadores, a entrada no mundo da realidade virtual. E embora haja um consenso generalizado de que o PSVR2 “não tem jogos”, a realidade não poderia estar mais distante dessa ideia. Já se somam 10 meses de lançamentos variados e constantes, dos quais podemos então comentar a qualidade ou as ambições de cada um, especialmente quando comparado com a oferta de jogos no formato tradicional.

Journey To Foundation é o mais recente jogo a chegar ao PlayStation VR2 (também disponível no Meta Quest) que me faz pensar nessa “qualidade”, na diversidade de experiências neste formato e de como jogos destes podiam ser tão melhores.

Adaptado da lendária obra literária de ficção científica The Foundation, de Isaac Asimov (que tem atualmente uma fantástica adaptação televisiva na Apple TV+), Journey To Foundation conta-nos uma história nova passada nesse universo. Com o Império destinado a cair, entramos no corpo de Agent Ward, uma espia do Império Galático, que terá que se infiltrar num grupo de desertores e obter informações sobre como chegar à Foundation e descobrir os seus segredos.

A premissa é original, ainda que previsível nas suas ambições, e apresenta-se como um RPG na primeira pessoa que tira partido de interessantes mecânicas em realidade virtual com o PlayStation VR2. Ao longo do jogo, encontramos personagens com as quais temos que fazer gestos para interagir ou passar obstáculos – coisas simples como levantar as mãos, apontar ou fazer gestos – e, ao bom estilo de um RPG narrativo, temos a oportunidade de escolher linhas de diálogo, que podem ser selecionadas através do eye tracking, um truque interessante que nos coloca na personagem de forma imersiva ao fazer-nos “parar” para escolher a opção, como se estivéssemos naquele mundo a pensar no que dizer.

Também interessante é a habilidade de Mentalic que temos ao nosso dispor, que é basicamente a versão de Force User deste universo, permitindo que seja possível observar os sentimentos dos NPCs e extrair informações preciosas para a nossa investigação. Journey To Foundation tira ainda partido das suas capacidades imersivas na primeira pessoa enquanto FPS, com mecânicas de tiro simples e uso de alguns gadgets. E temos ainda sequências de puzzles físicos, com gimmicks próprias na sua resolução, para abrir e desbloquear passagens.

Com toda a sua natureza narrativa e ambiente sci-fi, Journey To Foundation fica, no papel, muito perto se tornar numa ótima alternativa a um Mass Effect VR. Infelizmente, as implementações de todos estes elementos não são lá muito bem conseguidas, voltando a fazer-me questionar se este género de jogo realmente faz sentido em ambiente VR e se não haverá outros géneros mais interessantes de explorar.

A ideia de apresentar experiências narrativas em VR é extremamente aliciante. A sua promessa de nos levar a vestir a pele de heróis e vilões, com missões maiores que a vida em cenários dos quais apenas podemos sonhar, é fantástica. No entanto, dentro das expectativas narrativas de um videojogo, ou seja, de uma viagem com início, meio e fim, que nos convida a passar muito tempo em ambiente VR, não é assim tão interessante, porque é um formato fisicamente desgastante. E esta é, talvez, a minha maior crítica com Journey To Foundation. Apesar de ser um jogo relativamente pequeno, com menos de 10 horas, ele pede um pouco demais do jogador. Não é imediatamente intuitivo nem faz o suficiente para nos prender à magia do VR, ao introduzir-nos um início muito lento, onde percebemos que uma grande porção do jogo são diálogos com NPCs, com mecânicas que pouco adicionam à experiência e que podiam muito bem ser aplicadas num formato normal.

A magia do VR é a capacidade de nos fazer sentir que estamos noutro mundo que podemos explorar e interagir com os seus elementos. Infelizmente, Journey To Foundation não tira muito partido desse potencial. As conversas com os NPCs não são interessantes e são tão lineares que é comum fazemos uma escolha e, logo a seguir, a personagem envia-nos para o início da conversa para a repetirmos e colocarmos uma questão diferente. É pouco orgânico e, nestes momentos, também ficamos limitados no que toca a movimentos. Já a tal mecânica de extração de informações, rodando o nosso pulso na direção das personagens, torna-se repetitiva e demasiado simplista.

Visualmente, Journey To Foundation também deixa um pouco a desejar. Tem um registo estilístico a puxar pelo cartoon 3D e uma apresentação estética comum de há duas gerações anteriores de jogos. Os ambientes sci-fi são simplistas, pouco densos ou atmosféricos, destacando-se apenas as personagens um pouco mais detalhadas. Infelizmente, está longe de ser um show-off técnico, até pelos padrões do que é possível no VR. A exploração do mundo também não é nada de especial, apenas com itens de logs espalhados pelos níveis. E os puzzles para abrir portas são desnecessariamente complicados, apesar das suas resoluções simples e óbvias.

Já as sequências de ação também são medíocres. É o típico FPS de tiros em VR, onde a nossa capacidade física de mirar e de nos escondermos atras de objetos ditam a dificuldade, mas conta com pequenos impasses irritantes, como o simples ato de agarrar a arma que desaparece com frequência das nossas mãos.

Apesar de Journey To Foundation exigir mais tempo por sessão de jogo do que outras experiências VR, este foi um jogo em que não registei qualquer tipo de enjoo. O jogo conta ainda com várias opções de acessibilidade opcionais para mitigar esse efeito – as quais não senti necessidade de usar –, como a opção já habitual de nos movermos posicionalmente apontando para diferentes direções, ou a ativação de uma vinheta durante o movimento.

Journey To Foundation não um mau jogo no geral. É um jogo com fortes ambições, mas que funcionaria muito melhor num formato tradicional 2D, na TV. E este é um sentimento que se tem tornado cada vez mais aparente em jogos deste género no VR. Muitos jogos novos são criados para o VR, mas pouco fazem para se destacar e para tirar partido das capacidades de equipamentos como o PSVR2 sem ser de forma gimmicky e superficial. E é pena, porque perdem-se bons jogos relegados a este formato, e perdem-se ao mesmo tempo oportunidades interessantes de explorar de forma criativa e única as suas vantagens.

Cópia para análise (versão PlayStation VR2) cedida pela Cosmocover.

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