Jorge Ben Jor no EDP Cool Jazz – O Hipódromo virou Sambódromo

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Não tem havido Carnaval do Rio, mas aqui não faltou samba no seu estado puro.

Jorge (Ben Jor, não o outro) dispensa apresentações. Não anda aqui há dois dias. São 83 os carnavais já vividos por um dos maiores artistas brasileiros. Mas se o seu bilhete de identidade testifica os seus 83 anos de idade, o grande concerto que deu no passado sábado em Cascais, integrado no EDPCOOLJAZZ, prova que a jovialidade raramente está no BI, mas na atitude perante a vida.

Mais de dois anos depois de ser anunciado como parte do cartaz do EDPCOOLJAZZ (e três após o belíssimo concerto no NOS Primavera Sound 2019), finalmente a pandemia deu tréguas e proporcionou o regresso de Ben Jor ao nosso país. Não havia novo álbum para apresentar (o último registo de estúdio já data de 2007), pelo que o praticamente lotado e diverso Hipódromo Manuel Possolo não esperava outra coisa que não os clássicos. E quando falamos de Ben Jor, clássicos são o que não falta.

A fome de palco do músico e da excelente banda que o acompanhava fazia-se sentir e começou a ser saciada com “Jorge da Capadócia”, a explicar ao que vinham: assentar praça na Cavalaria. Numa bonita e quente noite de verão, não foi preciso aquecimento. “A Banda do Zé Pretinho” tinha chegado para animar a festa. Com os seus deliciosos teclados e uma belíssima secção de sopros, estava mais que criado o clima – a noite prometia ser daquelas. E cumpriu.

Jorge Ben Jor é um dos estetas da música brasileira – é samba, que também é funk, que também é soul, que também é rock. Tudo na dose certa. Exemplos disso são “Santa Clara Clareou” ou a mais simples (mas fantástica) “A Minha Menina”, eletricamente tornada ainda mais famosa pelos não menos essenciais Os Mutantes. Sim, foi escrita por Jorge. Foi tocada em formato medley juntamente com “Que Maravilha” (que ajudou a serenar um pouco os ânimos) e “Zazoeira” (que retoma a embalagem).

Sem darmos por isso, fechamos os olhos e estamos a beber uma caipirinha num bar em Copacabana, acompanhados por um daqueles solos de piano. Ao longo do concerto, Jorge deu oportunidade para que os músicos que o acompanham também pudessem brilhar. A cumplicidade é grande, pelo que nem sequer é preciso apresentá-los – todos sabem o que fazer. Desengane-se quem pensa que estamos perante um concerto em formato pára-arranca, para troca de instrumentos e demais pausas. Jorge e a sua banda tocam sem parar. Estão ali para nos fazer dançar, e, num baile a sério, não se fazem paragens. O funk esteve fortemente presente em “Por Causa de Você, Menina” do seminal Samba Esquema Novo (editado em 1963!). A máquina endiabrada que é Jorge e a sua oleada banda, sem aviso prévio, serve a mundialmente famosa, “Mas Que Nada”, tocada como deve ser (sem feijões). Primeiro momento de comunhão com os muitos presentes. Quando os sucessos são muitos, não há necessidade de os guardar para o fim. Por isso, de rajada vem a não menos celebrada “País Tropical”, numa saltitante versão ska. Segundo momento de comunhão com os presentes. Ninguém consegue estar quieto.

Já aqui falámos de funk, e falar de funk e soul brasileiros sem falar de Tim Maia é contar uma história sem princípio. Ben Jor não esquece o seu saudoso amigo, tocando uma versão de “Do Leme ao Pontal”, e a alegre “W/Brasil (Chama o Síndico)”, composta em sua homenagem. Já Melo D e os Cool Hipnoise diziam que “o funk é mem’bom”. Estavam tão certos em 1995 como estariam hoje.

Outro bonito momento foi quando Jorge chama a palco nove felizardas para cantarem e dançarem com o mestre ao som de “Gostosa”.

Não tem havido Carnaval do Rio, mas aqui não faltou samba no seu estado puro. “Taj Mahal”, outro dos seus grandes sucessos, também marcou presença no sambódromo, perdão, no hipódromo. Todos sambámos, mesmo os que nunca tinham dado um passo de dança.

Já perto do final, num dos raros momentos de acalmia, “O homem da gravata florida”, numa versão com o seu quê de fúnebre, dá a entender que a festa não pode durar para sempre. Mas enquanto dura, somos felizes. Jorge diz que afinal vai tocar mais 5 minutos. Mas todos sabemos que nada dura 5 minutos. Mesmo a fechar, o medley “Zumbi / Bebete Vãobora / Take Easy My Brother Charlie”, três das suas grandes composições.

Duas horas intensas depois, despede-se, na presença de uma bandeira luso-brasileira, com um “Vocês foram maravilhosos! Até para o ano, se Deus quiser!”. Deus assim queira, Jorge.

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