Harold Halibut

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Harold Halibut é um belíssimo jogo que transborda amor e ambição que seria melhor consumido em formato de filme ou série, ficando apenas um nada aquém em execução.

Para além de um jogo em desenvolvimento durante mais de uma década, Harold Halibut é também um daqueles projetos de sonho e de uma clara ambição para o estúdio Slow Bros. Apesar de apenas o ter conhecido bem recentemente, a equipa conquistou-me com a sua direção artística, trabalho de animação e a promessa de entregar uma aventura bem diferente daquelas a que estava habituado. O anúncio da data de lançamento foi outra surpresa — Harold Halibut já não ia demorar assim tanto tempo. E alguns sortudos mais atentos ainda puderam desfrutar de uma demo generosa durante a Steam Fest. Parece tudo uma receita para o sucesso, e para responder aos meus desejos, mas se eu tivesse apanhado essa demo, talvez teria outras palavras descrever este jogo.

A premissa aqui é simples: na sombra da Guerra Fria, um grupo de intelectuais e de exploradores abandona o planeta Terra em busca de um novo planeta habitável para recomeçar a Humanidade. A missão até que foi um êxito, mas o planeta almejado não era de todo habitável devido aos seus vastos oceanos e atmosfera adversa. A arca espacial Fedora não prossegue com a missão e despenha-se nesse mesmo planeta, mergulhando e permanecendo submersa durante gerações que se foram habituando a esta nova existência. Aquando da abertura do jogo, surge uma nova oportunidade de escapar e, talvez, de regressar à Terra. Harold Halibut é também o nome do protagonista: um tipo simples e aborrecido com a vida, que acredita que existe algo mais para além da rotina metálica da Fedora. É um faz-tudo; um pau mandado que anda de um lado para o outro a passo de caracol para avançar na história, completar missões secundárias e completar puzzles.

A Slow Bros quis entregar uma experiência narrativa e, em grande parte, consegue-o com sucesso. Harold Halibut transborda inspiração, alma e humanidade longe d’A Humanidade. Os poucos habitantes que conhecemos são partes normais e bizarros com as suas rotinas; o professor que adora novelas turcas; o carteiro que nos convida a ler cartas que nunca foram reclamadas; o artista que quer animar o pessoal com antigas relíquias da Terra ou a nossa patroa rígida, mas que tem sempre um chá acolhedor para nós. Todos têm uma palavra a partilhar e outros mais do que uma quando despejam conceitos científicos de coçar a cabeça. Mas sente-se tudo tão natural, sabem? Como se tivessem propósito naquele contexto. A própria arca Fedora é uma personagem interessante que bebe do que mais adoro na Ficção Científica: a tecnologia suja, mal amanhada, mas prática da década e que ainda permeia no melhor de Star Wars ou numa das minhas séries favoritas: Battlestar Galactica.

Mas a verdade é Harold Halibut não é assim tão divertido de se jogar, levando-me a pensar se não o preferia consumir em formato de série ou de filme. O que é uma pena, mas uma pena enorme, porque não dá para ficar indiferente à arte e aos visuais deste projeto, assim como aos sintetizadores imersivos da banda sonora. Há aqui amor a uma arte que não consumimos com tanta frequência face aos CGI mais ágeis e económicos. É stop-motion puro, com a tecnologia dos videojogos, mas sem bem entender como os jogos funcionam. Isto é, o jogo sente-se muito lento. Nem é um lento contemplativo, mas um lento pesado de suspirar quando temos de ir de uma ponta do mapa à outra, mesmo dando para correr. A interface também não é intuitiva quando temos de selecionar algo ou alguém para falar. E quando interagimos com alguma coisa, ou começamos um puzzle, é outro cabo dos trabalhos que: não nos explica o que temos de fazer nem nos deixa retroceder. O que quer dizer que se começarmos um puzzle, só dá para sair quando o completarmos e um dos primeiros é tão enervante que tive de passar o comando para o acabarmos ao calhas. Nota-se que este jogo estava para ser um point-and-click que desistiu da ideia a meio para ser uma aventura narrativa, mas talvez tivesse sido benéfico terem ficado pelo primeiro instinto, porque funcionaria melhor! Ainda assim, consegue injetar alguma variedade na jogabilidade com joguinhos de arcada que podemos explorar. O jogo é curto, mas parece mais longo do que é. O ritmo também não é dos melhores, tanto que recomendo sessões curtas para não maçar muito porque apesar de tudo, consegue ser imersivo e deixar-me curioso com os próximos dias em Fedora. Ajuda o Harold ser um tipo simples, relacionável e empático.

É por isso que repito: adoraria desfrutar de Harold Halibut em qualquer outro formato, que não num videojogo. Até porque gosto mesmo mesmo disto, do seu slice-of-life que nos deixa seguir os habitantes de Fedora; desfrutar daquele retro-futurismo sujo e prático tão palpável que podia ser bem nosso; das prestações que o elenco entrega nas suas interações; e de como tudo é tão fora e onírico, mas relacionável e próximo. Infelizmente, a parte interativa não está tão bem conseguida. Pelo menos, para mim. E isto sem contar com outros problemas de desempenho, como alguns carregamentos demorados, falhas visuais e crashes aleatórios.

Consigo recomendar Harold Halibut como uma peça de arte e pelas suas intenções. Não deixa de ser um trabalho de amor, que se sente em cada detalhe do cenário; no movimento das personagens; na cenografia e nos jogos de sombras claustrofóbicos dos corredores da Fedora e, como é óbvio, pela mensagem que quer passar.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Slow Bros.

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