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Um inteligente, divertido e viciante jogo de puzzles que merece a vossa atenção.

São videojogos como Grindstone que nos fazem repensar a relação que temos com as chamadas experiências interativas. Estou a escrever a minha análise no dia de lançamento de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, que promete revolucionar o género de ação e aventura tal como o seu antecessor, com um foco ainda mais acentuado numa campanha emergente e centrada na experiência do jogador. A profundidade mecânica de Tears of the Kingdom é assustadora, intimidante até, e é impossível não pensar no trajeto futuro da série e do género depois de um lançamento desta magnitude. Grindstone, por sua vez, que chegou agora à PS4 e PS5, não podia ser mais o oposto ao exclusivo da Nintendo, onde a jogabilidade mantém uma simplicidade quase arcade sem perder a sua magia ao longo de dezenas de horas de conteúdos.

A chegada de Grindstone às consolas da Sony foi como uma lufada de ar fresco, ao relembrar-me deste peculiar e viciante jogo de puzzles e combinação de cores em formato de épico de aventura. Grindstone é aquele videojogo que um dos vossos amigos passa anos a insistir que vocês deviam jogar e que nunca o conseguem fazer por falta de tempo ou puro esquecimento. Os indies sofrem muito este destino cruel, o esquecimento por associação – por mau timing -, mas Grindstone não podia ter reentrado na minha vida numa altura melhor. Entre lançamentos de peso, que sufocam a indústria com experiência cada vez mais expansivas, eis que surge Grindstone para limpar a mente e servir de escape.

Em Grindstone, as gemas comandam a experiência nesta aventura em formato de puzzle colorido. No papel de um mineiro bárbaro (como descrevê-lo melhor?), temos à nossa disposição mais de 200 níveis, divididos por zonas e modos alternativos – contando ainda com bosses e desafios diários, onde podemos recolher mais recursos para a nossa estalagem -, onde podemos bater em tudo o que se mexe. Para encontrarmos gemas, é preciso derrotar os inimigos coloridos que atravessam o nosso caminho e, para eliminarmos os monstros, é necessário criar um caminho que os une num só ataque. Por ronda, temos a oportunidade de eliminar todos os inimigos da mesma cor desde que os consigamos interligar para abrirmos caminho pelas arenas. Com um grupo eliminado, o turno termina e novos inimigos são introduzidos, tal como novas combinações que podemos aproveitar.

Quanto maior for a nossa linha, maior será a nossa recompensa. Só assim temos acesso às gemas. Se fizermos uma linha com mais de 10 inimigos, por exemplo, conseguimos desbloquear uma nova gema, que teremos de colecionar na ronda seguinte. Existem vários tipos de gemas, desde as mais pequenas até a verdadeiros pedregulhos valiosos, e somos constantemente motivados a tentar o maior número de combinações para conseguirmos aumentar os nossos recursos. Para além do seu valor monetário, que poderá ser aplicado no desbloqueio de novas armas e itens – ou na simples compra de corações para o nosso mineiro guerreiro –, as gemas servem também um propósito estratégico. Quando interligamos um ataque e atingimos uma gema, temos a oportunidade de mudar a cor e aumentar exponencialmente o tamanho da nossa linha. Se jogarmos com atenção, podemos ligar várias gemas, cores e inimigos numa longa linha sem interrupções.


Para passarmos ao próximo nível temos de concluir os objetivos principais de cada arena. O que começa por ser uma tarefa simples, como a eliminação de um número específico de inimigos, torna-se numa luta por sobrevivência, com Grindstone a adicionar mais variantes à sua fórmula. Podemos encontrar um nível onde temos de derrotar um inimigo específico, ativar alavancas para eliminar monstros com uma armadilha ou utilizar uma fornalha. Como os objetivos não se centram apenas no combate contra os monstros, isto significa que precisamos de ser mais cuidadosos em campo, mas também que passamos mais tempo nos níveis e isto é um problema. Quanto mais tempo demoramos a terminar um nível, mais criaturas passarão ao ataque. Com apenas três corações por vida, podemos rapidamente posicionar-nos no local errado e sermos atacados por um grupo de monstros. Grindstone é desafiante e requer uma gestão constante dos inimigos em campo para não nos fecharmos numa jogada sem saída.

A jogabilidade, em si, é absolutamente cativante, mas Grindstone sabe muito bem o que é e como agarrar o jogador ao seu flow simples, mas viciante. Para terminarmos um nível temos apenas de concluir o seu objetivo principal, mas isso seria deixar Grindstone incompleto. Para sentirmos que completámos cada nível a 100%, temos vários desafios secundários para concluir, que se refletem na própria progressão da nossa personagem. Podemos colecionar, por exemplo, os baús que caem no final de cada nível e que guardam recursos preciosos. Os baús são um elemento interessante porque obrigam-nos a recolher a chave primeiro e só depois serão possíveis de colecionar – o que significa que somos obrigados a viajar mais pelo nível e a construir linhas estrategicamente. Durante a primeira zona é introduzido um inimigo especial, Slob, cuja coroa é essencial para desbloquearmos novos mundos. Não precisamos de colecionar todos estes elementos para passarmos à frente, Grindstone nunca coloca um travão fundo à nossa progressão, mas a jogabilidade é tão acessível que os objetivos secundários são sempre apetecíveis.

A campanha traz surpresas constantes, seja através de novos layouts dos níveis – que adicionam perigos elementais ou obstáculos que dificultam a criação de linhas – ou da introdução de inimigos mais resistentes. Estes inimigos, ou Jerks, surgem em todos os feitios, desde monstros brutamontes, que atacam em todas as direções, até a criaturas capazes de cuspir lava e acertar-nos à distância. A introdução destes adversários cria variantes sucessivas à progressão de Grindstone porque afetam realisticamente a forma como abordamos cada nível. Isto porque estes inimigos, ao contrário dos monstros coloridos e básicos, têm um número específico que temos de realizar antes de serem atacados. Por exemplo, para atacarmos um dos brutamontes, com 10 pontos de vida, temos de criar uma linha com 10 pontos antes de o podermos eliminar. É aqui que se torna essencial interligar melhor os inimigos de várias cores, mas também as gemas que nos permitem alterar o grupo de inimigos a meio de uma linha.

O que admiro no trabalho da Capy Games, fora a forma exímia com que construiu uma jogabilidade simples, mas memorável, é a forma como contextualiza o mundo de Grindstone e lhe dá vida. É verdade que estamos perante um simples jogo arcade, perfeito para mobile e ecrãs táteis, um verdadeiro “connect the dots” sangrento, mas é a direção de arte, a criação de personagens e do mundo colorido de Grindstone que se desenvolve uma ligação mais emocional ao título da Capy Games. As personagens são animadas, sorridentes e sempre presentes ao longo da campanha, seja no bar, no ferreiro ou então a servir de enciclopédia para as criaturas de Grindstone. Não existe forma de explorar livremente os cenários de Grindstone, mas a sua decoração demonstra que são salas, salões, oficinas vividas. Têm personalidade. As expressões cómicas e exageradas do nosso mineiro, os seus movimentos e presença revelam o cuidado da Capy Games em dar vida aos seus protagonistas. É um toque de mestre que transforma Grindstone em algo mais do que um simples jogo de puzzles.

Em tempos como estes, de grandes produções e de valores de produção exorbitantes, é bom encontrar um jogo como Grindstone, que nos deixa respirar e apreciar as pequenas coisas. Às vezes é importante desligar-nos da grande máquina que é a indústria dos videojogos e simplesmente abraçar estas experiências mais familiares sem a pressão do dia-a-dia. Grindstone é perfeito para pegar, jogar e voltar horas depois, sem stress. Um, dois, talvez cinco níveis e está feito. Se calhar até podemos jogar mais e participar nos desafios diários para encontrarmos novos recursos. Ou então não temos de o fazer. Uma coisa é certa: estaremos sempre a interligar inimigos num longo e implacável ataque para conquistarmos mais gema. É isso que importa. A simplicidade, sem ruído ou exigências maiores. Que estes jogos nunca desapareçam.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela popagenda PR.

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