GrimGrimoire OnceMore

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GrimGrimoire OnceMore é uma azáfama de mecânicas e uma ilusão de liberdade narrativa. No entanto, é também um colorido retrato das origens da Vanillaware.

Texto por: André Pereira

Eu sei que cheguei tarde à festa, mas no espaço de um ano enamorei-me do Odin Sphere e do brilhante 13 Sentinels: Aegis Rim. Lenta, mas seguramente, a Vanillaware passou a ser sinónimo de qualidade, apanhando-me com as suas histórias épicas ou de fábulas de encantar; com uma jogabilidade simples, mas eficaz; mas principalmente, com a sua estética muito própria. Quando muitos já/ainda brincam ao 3D, este génios decidiram que o 2D ainda tinha muito para dar. Bem dito e bem feito e criaram dos jogos mais deslumbrantes que já tive o prazer de meter os meus olhos cansados em cima.

Tomei como missão descobrir o restante catálogo à medida que iam sendo relançados e tornados mais acessíveis, como foi o caso deste GrimGrimoire OnceMore. No entanto, e já dizia o Max Payne, “os sonhos têm o mau hábito de azedarem quando não estamos a olha”r. Gostava de ter melhores e mais bonitas palavras para escrever sobre este GrimGrimoire, mas fiquei tão desiludido – com o jogo, mas também com as minhas expectativas. O original na PS2 já estava no meu radar, mas para não andar com gincanas retro, aguardei por esta revitalização para lhe meter as mãos e uma coisa é certa, o jogo era bonito na altura e continua lindíssimo agora. Esse mérito ninguém lhe tira. O problema? O problema vem a seguir e aqui também culpo a minha ignorância.

É que GrimGrimoire OnceMore não partilha das mesmas mecânicas dos títulos que comecei por mencionar. GrimGrimoire OnceMore é outro tipo de besta que me deixou KO nos momentos iniciais, com uma abertura de coçar a cabeça e um tutorial de bradar aos céus de tão moroso e assoberbante. Mas também não posso culpar o jogo pela minha ignorância e falta de entusiasmo por RTS ou Tower Defense. Correto, este OnceMore não é um jogo de aventuras horizontais, na gíria side-scroller, e não há nada de errado nisso, atenção. O Aegis Rim também tinha uma componente RTS que, convenhamos, também não era boa, mas dava-nos a liberdade de a ignorar para nos focarmos no delicioso – na história. Eventualmente, lá teríamos de a sofrer. Já aqui, estamos mecanicamente prisioneiros de um pêndulo batalha e conversa; batalha e conversa. Na verdade, temos zero liberdades neste jogo, principalmente no que toca à exploração. E este cenário pedia tanto isso.

GrimGrimoire OnceMore conta-nos a história da aprendiza de bruxa Lillet Blan que começa a sua formação em Silver Star, uma espécie de Hogwarts massiva que se ergue em direcção às nuvens. Vamos conhecer colegas e professores bizarros, mas não muito a fundo, e passar os dias em aulas…Não, também não. A história não é muito atraente e o schtick é topado assim que o tutorial termina porque ao fim de cinco dias acontece um desastre e a nossa protagonista acorda no início dessa semana para repetir tudo à Groundhog Day. Óbvio, sendo a única a reter as memórias e a experiência dessa semana, terá de resolver o mistério e impedir a repetição da catástrofe. Embora o ciclo funcione q.b., qualquer desenvolvimento do elenco voa pela janela, ficando apenas migalhas que mal nos sustentam com uma narrativa de qualidade.

No outro lado da moeda, temos o combate. Momentos de estratégia que trocam a perspetiva isométrica por cenários verticais 2D. Envolve alguma gestão de bases, unidades e conflitos em degraus e andares que parecem nunca acabar. As bases não fogem às do género: gerimos recursos ou a obtenção de energia mana que usamos para criar e formar mais e melhores unidades ou familiars. O que devia ser simples, rapidamente se embrulha com diferentes grimoires e livros que abrem novas habilidades e bases. E, a partir daqui, novos familiars e evoluções. Não demora até termos um pequeno caos e o ecrã poluído com unidades lentas a deambular até ao marcador, mas, podemos agilizar a acção e ainda bem. A consequência é vermos tudo num borrão. Conhecendo as bases ou mesmo no modo mais fácil, o jogo não se torna mais acessível a alguém estranho ao género, mas acredito que outras cabeças e experiências irão desfrutar bem mais. Vencer estas refregas recompensam-nos com a oportunidade de conhecer e abrir as árvores de habilidades para melhorarmos os nossos grimoires como acharmos melhor e refinar o nosso modo de jogo.

Lá está, não posso culpar um jogo por eu não saber dançar, mas que é uma pena é porque o jogo é belíssimo e é a Vanillaware na sua génese e zénite, com design de personagens e animações deslumbrantes, cores e mais cores e uma atenção incrível ao detalhe. E a sua mestria só melhorou com o tempo. O mesmo não posso gabar nos diálogos que tive de mudar rapidamente para japonês para não sofrer com o estereótipo das dobragens, não que as vozes nipónicas fossem melhores, mas o que não entendo não me magoa. Ainda assim, consigo recomendar o jogo por si só, mas se não conhecerem o catálogo da Vanilaware, a melhor recomendação é entrarem por Odin Sphere e irem por aí fora.

Cópia para análise (versão PlayStation) cedida pela NIS America.

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