Festival Nova Batida – dia 2 – Novas promessas, uma lição de história, e fogo amigo (que não o chegou a ser)

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A fama vai-se construindo ao longo dos anos, baseada (por norma) em provas dadas. Alguns festivais vão ganhando nome pelos ecléticos e consistentes cartazes que apresentam, outros por serem excessivamente comerciais, outros por serem umas férias bem passadas. E há ainda outros que se arriscam a ganhar fama pelos cancelamentos constantes de que são alvo. Passaremos a explicar mais à frente.

O 2º dia do Nova Batida começou para o Echo Boomer com a parte final do concerto de Jordan Rakei.  Não era a primeira vez que atuava em Portugal, mas, confessamos, a sua anterior passagem por Portugal (no EDP Cool Jazz, a abrir para Jessie Ware), passou-nos um pouco ao lado. Era nossa intenção não deixar que isso voltasse a acontecer. Mas os transportes ao fim-de-semana (será só ao fim-de-semana?) não têm a frequência a que estamos habituados e (falha nossa) chegamos depois do pretendido. Conseguimos, no entanto, ficar de água na boca para uma futura oportunidade, já que este neo-zelandês provou ser alguém a seguir.

O público não era muito (algo que caraterizou muitas das atuações mais madrugadores, e por madrugador, leia-se, até por volta das 20h30…), mas era conhecedor da sua (ainda) curta carreira. Praticante da chamada neo-soul, fez-nos ter saudades (pelas melhores razões) de um Jamie Lidell (por onde andas, Jamie?). Do que escutámos, conseguiu criar uma só narrativa (centrada no seu último álbum, Origin), evitando quebras entre canções, o que consegue tornar o concerto mais fluído. Há bossa nova, ritmos quentes, tropicais (não faltou, sequer, um virtuoso percussionista). Para o fim ficou “Mind’s Eye”, talvez a sua música mais conhecida. Ouviremos, certamente, falar mais dele no futuro.

Muitos festivais podem ser acusados de ter cartazes a cheirar a mofo, mas não o Nova Batida. Poucas eram as bandas ou artistas com muitos anos de carreira. Mas havia uma exceção: Talib Kweli, nome maior do hip-hop politicamente comprometido, uma das metades dos Black Star (o outro era um senhor conhecido por Mos Def). Mas Talib não está ainda bafiento. Mostrou-se em plena forma, a mostrar a muitos dos rappers atuais o que deveria ser um concerto de hip-hop.

Com mais presença inicial (começou com Slowthai, Octavian, Akala e Talib) do que final (acabou apenas com Talib e Akala), o hip-hop não era peça central do cartaz. O próprio Talib questionou onde estava o hip-hop no festival. A verdade é que é preferível pouco, mas bom, do que muito, e mau. Talib deu um concerto em modo best of hip-hop, deixando um pouco de lado a sua própria carreira (foram poucas as canções próprias que apresentou), para dar uma lição (e homenagear) a cultura hip-hop.

O seu DJ começou por aquecer o público (que, para além de marcar presença em bom número, mostrou-se bastante conhecedor), com, entre outros, Kendrick Lamar. Entrado em cena, Talib Kweli mostrou logo a sua veia anti-sistema, passando em vídeo muita street art de Banksi e de outros grafitters, odes à Tia Maria, etc. A história faz-se de figuras e acontecimentos, e a do hip-hop não seria a mesma sem Wu-Tang Clan, J. Dilla (“To Fall in Love”), A Tribe Called Quest, entre muitos outros. Talib mostrou-se grato pelo seu contributo. Não faltou, inclusive, uma das culturas fundadoras do movimento, como o reggae, com (não poderia deixar de ser) “Is This Love” do saudoso Bob Marley.

Sem grandes tiques de vedeta (caraterísticos de outros nomes do género), seguiu o seu caminho de ativista, mostrando que “pro-black doesn’t mean anti-white”, enquanto cenas da vida de Angela Davis, figura maior do movimento Black Panthers e defensora dos direitos das mulheres, vão passando na tela atrás do palco. Foi uma hora de verdadeiro hip-hop, muito flow e energia. Saiu em apoteose.

Friendly Fires eram os próximos na ordem de trabalhos. Dizemos “eram” e não “foram”, porque…não apareceram. 20 min depois da hora marcada (enquanto era montada em palco uma mesa de mistura, o que logo nos causou estranheza), lá surgiu no ecrã que o concerto não teria lugar devido a problemas técnicos. Causou algum frisom entre o público presente (ou não fossem os Friendly Fires uma espécie de cabeça de cartaz deste dia), mas apenas como reação imediata ao choque da notícia. No Nova Batida, enquanto houver house e techno num qualquer palco, não há cancelamento que tire o povo do sério. A romaria fez-se até ao palco outdoor do Village Underground, onde Dan Shake punha uma pequena multidão em alvoroço.

Desde os primeiros momentos que percebemos que o Nova Batida é um festival descontraído, procurado por um público britânico jovem, com capacidade financeira e sedento de um fim-de-semana de festa numa cidade soalheira e interessante como Lisboa. O grau de exigência do público em termos musicais não parece ser grande (embora obedeça a alguns critérios de qualidade), mas esperava-se um pouco mais de profissionalismo por parte da organização em lidar com situações como esta. Ainda hoje não sabemos que problemas técnicos foram (nem ao que se deveram) os que impediram os Friendly Fires de atuar. A somar ao facto de, pouco antes do festival começar, Slowthai e Theon Cross também terem cancelado (e dps Ezra Collective terem constado do cartaz aquando de um dos anúncios, e de, na parte da tarde, já não fazerem parte…)… E não ficaríamos por aqui (amanhã é outro dia).

Como compensação pelo cancelamento dos Friendly Fires, o DJ Set dos Jungle seria prolongado, começando mais cedo. Não eram bem os Jungle, mas sim um dos seus elementos (pareceu-nos ser Joshua Lloyd-Watson), que se encarregaria dos pratos. A proposta bebe muito das influências dos Jungle, com disco e soul, mas com uma batida mais forte e acelerada do que nos seus discos. O recinto tornou-se um autêntico clube de dança, onde só faltava a bola de espelhos. A quebra, no entanto, causada por hora e meia de tempo morto entre Talib e o início do set, deixou-nos algo dormentes, sem grande motivação. Não ficaríamos mais do que 30 min, tempo, ainda assim, suficiente, para apanhar uma remistura de Jamie XX (“Could Heaven Ever Be Like This”). As nossas ancas mexiam, mas a cabeça já não acompanhava. Era hora de seguir viagem. 

Recordem, aqui, a nossa reportagem ao primeiro dia do Nova Batida.

Imagem de destaque de: Matt Eachus

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