O novo RPG da Level-5 é parte aventura, parte simulador de carpintaria e ferragem numa campanha absolutamente viciante.
Reencontrar a Level-5 é como matar saudades de um velho amigo, onde as memórias da infância jorram entre conversas e sorrisos, como se a chamarem pelo passado. Foi isso que senti ao entrar novamente num mundo criado pela Level-5, fora dos mechas gigantes de Megaton Musashi W: Wired e dos puzzles complexos da série Professor Layton, de regresso ao universo RPG com uma sequela que também funciona como um “best of” do seu catálogo de videojogos. Apesar de se munir de certas tendências modernas, como os desafios diários e uma forte componente online, Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time tem uma alma antiga e é uma continuação interessante para o estilo que popularizou a Level-5. As comparações a Dark Cloud e Dark Chronicles talvez possam parecer exageradas, mas as semelhanças estão lá, desde o tom mais jovial da narrativa e o foco na exploração e nas mecânicas simples de personalização, até à possibilidade de construirmos a nossa própria cidade.
O grande fator diferenciador, e que tornou Fantasy Life num dos títulos mais icónicos da Nintendo 3DS, é a possibilidade de entrarmos numa aventura clássica, mas nos nossos próprios moldes. A sequela mantém esta aposta e traz-nos novamente a possibilidade de escolhermos novas vidas experienciar-mos a aventura à nossa maneira. Estas vidas podem ser consideradas como classes, só que vocacionadas para tarefas mais mundanas, como carpintaria, pesca, ferragem, alfaiataria, entre outras. As vidas afetam não só a campanha principal, que segue um estilo mais familiar ao género, como a progressão do conteúdo adicional. O loop é viciante: encontrar recursos, criar novas receitas, melhorar equipamento, concluir tarefas. É como um jogo de crafting e gestão, mas sobre o manto dos RPG japoneses.
Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time pode tornar-se repetitivo na reta final, assim é a sua natureza de gestão, mas há muito para descobrir nas várias ilhas espalhadas pelo tempo. As missões constantes, a procura por melhores recursos, os minijogos que simulam a criação dos itens, a evolução individual das vidas – que apresentam as suas árvores de habilidades individuais – criam uma das experiências mais viciantes, mas igualmente acessíveis e intuitivas que joguei em 2025. Há aqui uma certa magia que posso associar à Level-5 e ao seu sucesso na forma como abordam o género RPG. Uma sequela quase perdida no tempo, mas que é um triunfo para os fãs ou para os mais curiosos.
Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Level-5.