Hoje venho falar-vos sobre o Honda Civic Type R, um carro que creio que tem tanto de consensual quanto às suas performances, como tem de controverso quanto ao seu design.
Estamos a falar do veículo de produção com maior potência dentro da classe dos quatro portas com tração dianteira. Por isso, o apoio aerodinâmico é imprescindível, e talvez a maior razão para, ao experimentá-lo, e com o hábito de olhar para ele, se comece rapidamente a entranhar aquela asa traseira de gigantes dimensões, ou aquelas extensões da cava das rodas que lhe dão um aspeto que parece que andou a tomar esteróides.
Nada disto é apenas estética. É, sobretudo, aerodinâmica pensada ao pormenor, num carro que tem tanto de extravagante como de prático para atingir o seu objetivo. Não esquecer por exemplo que, quando se perguntou a um dos engenheiros responsáveis pelo desenvolvimento do mesmo o porquê do som dele não ser mais agressivo, a resposta foi algo do género: “Isso faria com que andasse mais rápido?”
Pragmatismo puro e simples, mas por aqui começo já por dizer que, efetivamente, se este Type R é uma bala em termos de performance, também eu me senti desapontado pelo som que o mesmo emite. E eu sou daqueles petrolheads que acham que (grande) parte de ter um desportivo é poder desligar o rádio e ficar com um sorriso só pela orquestra emitida pelo mesmo. E nisso este Type R está a anos luz dos recentemente testados Alfa Romeo 4C ou Hyundai i30N.
O motor do Honda Civic Type R adora acelerar, subindo até às 7000 rpm com uma suavidade bem oleada. Além disso, há muita força também na faixa intermediária e é um verdadeiro prazer em passar de uma mudança para outra usando a caixa manual super slick.
Falando um pouco deste motor de quatro cilindros turbo de dois litros, ele é, basicamente, o mesmo encontrado no carro da geração anterior. Fundamentalmente um motor relativamente convencional, o DOHC de 1996cc de quatro cilindros utiliza o sincronismo de válvula variável VTEC e um turbocompressor de alta capacidade para produzir seus 320 cavalos de potência e 400 Nm de binário.
É um motor muito disponível, tendo a sua faixa de rotação mais útil entre 2500 e 4500rpm, e é o binário espalhado por toda a faixa de rotações que fornece o maior ponto de contraste em relação aos motores anteriores do Type R da Honda. Possui injeção direta de combustível, pistões de liga fundida, bielas forjadas e o que a Honda chama de eixo de manivela leve.
O motor em si não está totalmente livre de lag – se o apanhar “desprevenido” levará algum tempo para acordar – mas, quando os seus pulmões estiverem cheios, o Civic embala pela estrada a um ritmo quase ridículo.
É verdade que, se a estrada estiver molhada e se puser o pé a fundo no acelerador para seguir para longe dos semáforos ou em saída de curvas fechadas, o Honda Civic Type R com tração nas rodas dianteiras luta para colocar toda essa sua potência tão eficazmente quanto outros modelos de tração nas quatro rodas. No entanto, o seu diferencial de deslizamento limitado faz um trabalho impressionante ao distribuir energia para qualquer roda para que se possa lidar com isso da melhor maneira possível, arrastando o condutor para fora das curvas com velocidade e estabilidade impressionantes.
Como já disse, o som que emana do triplo escape do Honda Civic Type R não impressiona. Em vez disso, as maiores emoções surgem da forma como enfrenta as curvas. A direção é super precisa, tornando-se até bastante pesada quando se coloca no modo Sport ou + R. Porém, acaba por ser algo que depende muito do gosto pessoal, e a verdade é que, no modo Comfort, fica muito mais leve. Aliás, creio que este será o modo ideal para o dia-a-dia dentro da cidade.
O modo Comfort é também o ideal para esse cenário, uma vez que torna a suspensão muito mais suave, e assim, qualquer protuberância ou sulco da estrada acaba por passar bem mais despercebido. Dessa forma, a viagem torna-se muito mais confortável, ou não fosse o nome deste modo “Comfort”.
Quanto ao modo +R, diria que é apenas para autódromos ou autoestradas, ou para quem tenha a sorte de encontrar uma estrada nacional com um piso realmente suave. Aí sim, poderão sentir efetivamente um carro recompensador e equilibrado, até porque, convenhamos, não é numa autoestrada que se vai sentir o melhor que o carro tem para dar.
Sugiro realmente que qualquer proprietário deste veículo o leve a conhecer o alcatrão de um autódromo, nem que seja por apenas uma vez. Caso contrário será como ter um galgo, para viver dentro de um apartamento.
É que, em alta velocidade, o Civic sente-se totalmente firme e colado ao solo – sugerindo que as reivindicações da Honda de genuína força descendente são verdadeiras – e, quando precisa de perder esse impulso, os travões desempenham o seu papel; o pedal do meio tem uma firmeza inspiradora de confiança que combina com a sua eficácia.
Passemos aos interiores, de onde se destacam desde logo as duas baquets em vermelho, e que são, talvez, das mais confortáveis onde me sentei. Já a posição de condução baixa e a alavanca de mudanças do Civic relativamente alta assenta perfeitamente neste Type R.
Uma questão a reter é a visibilidade. Devido ao enorme spoiler traseiro, não é fácil ver para trás, no entanto, isto é atenuado pela câmara de marcha-atrás padrão, enquanto os sensores de estacionamento dianteiro e traseiro são adicionados se optarem pelo acabamento GT mais caro.
O layout do painel principal é bom, com os principais botões agrupados convenientemente ao seu redor e controlos de ar condicionado fáceis de usar. Mas no momento em que se tenta operar o sistema de informação e lazer – bem, não vamos fugir ao elefante na sala: o Civic tem um dos piores sistemas de informação e entretenimento do mercado. O touchscreen tem uma resolução dececionante, é lento e desajeitado de operar e os menus são frustrantes, para dizer o mínimo.
Felizmente, há solução. O Honda Civic Type R é compatível tanto com Apple CarPlay como Android Auto, pelo que basta terem um iPhone atual ou um equipamento Android bem recente que conseguirão espelhar o sistema operativo e, dessa forma, ignorar o sistema que vem por defeito. Podemos ainda contar com Bluetooth, rádio DAB e oito colunas que têm uma qualidade de som bastante aceitável.
Gosto também do ar racing que os apontamentos em fibra de carbono falsa, que podemos encontrar em todo o lado, conferem ao Civic.
Nota também para o excelente espaço de bagagem que o Civic oferece.
Em suma, este Honda Civic Type R que exteriormente se estranha, mas que acaba por se entranhar, tem o título de melhor hothatch em termos de performance de uma forma perfeitamente merecida, podendo, ao mesmo tempo, ser um carro confortável para passear e com bastante espaço para ocupantes (sobretudo os da frente) e capacidade de carga.
Não vou falar de consumos, pois sem dúvida alguma que, quem o comprar, não se irá preocupar com esse tipo de informação. De resto, só volto a lamentar que o som produzido pelo mesmo não esteja à altura de tudo o resto.