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Duas campanhas, várias personagens e o estatuto de culto não escondem a idade do jogo da Starbreeze.

Não quero condicionar a minha análise, mas tenho de admitir que não fiz a melhor decisão ao ter esperado tanto tempo para jogar Enclave. O jogo de ação, lançado em 2002 para PC e Xbox, alimentou a minha imaginação durante anos através de recortes pequeníssimos em revistas defuntas e de um certo revisionismo no que toca à sua influência na atual popularidade do género – talvez um percursor de Dark Souls e outros RPG de ação, talvez apenas um caso de entusiasmo a mais. Mas Enclave parece gozar do mesmo estatuto de culto de Severance: Blade of Darkness, também aqui analisado, mas ambos são mais um exemplo do poder do tempo do que propriamente títulos imperdíveis. Nos videojogos, o vinho nem sempre melhora com o passar do tempo – a não ser que seja banhado em nostalgia.

E com isto não quero dizer que Enclave é um mau jogo, antes fora do seu tempo. A remasterização é um passo importante para garantir que estes videojogos menos populares, muitas vezes perdidos entre lutas de direitos e abandonados pelas suas editoras, não ficam para sempre esquecidos. No entanto, a passagem para alta definição, com modelos mais vivos em combate e detalhes, não significa que existiu um processo de modernização. Encontramos aqui uma adaptação aos comandos, já influenciada pela versão Xbox, e pouco mais. Os movimentos robóticos, os saltos pouco seguros, o combate caótico, quase dependente de RNG e nem tanto da destreza dos jogadores – muitos golpes parecem falhar os inimigos e não ter grande impacto –, continuam presentes e agora muito mais difíceis de ignorar.

Mas o que podemos esperar de uma remasterização, que apenas se propõe a disponibilizar um videojogo clássico em novas plataformas e com uma cara semi-lavada para um público que talvez nunca tenha tido a oportunidade de o jogar durante o seu auge? Enclave HD continua a ser o mesmo jogo lançado em 2002 com os seus problemas e méritos. É um jogo que se destaca dos restantes pela sua aposta numa campanha dividida por missões que podem ser repetidas sempre que queiramos. De facto, arrisco-me a dizer que é um dos focos dos designers, com o sistema de ouro a servir dois propósitos: como colecionáveis, indicando o nível de conclusão, e como método de adquirir novos equipamentos, armas e itens para as personagens. Os checkpoints não são equilibrados, alguns níveis obrigam-nos a repetir enormes trechos sem encontrarmos um único ponto de gravação, mas apresentam uma penalização interessante tendo em conta o foco na descoberta e utilização de ouro. Se voltarmos ao checkpoint não perdemos apenas progresso, mas também ouro.

Enclave HD também se destaca pelas suas duas campanhas, que procuram dar ao jogador ambos os lados do conflito em torno do mundo de Celenheim, mas sinto que o desbloqueio de novas personagens acaba por ser um maior ponto de destaque para um jogo que não se destaca pela sua jogabilidade. O facto de termos acesso a um leque variado de personagens, dentro dos tropes da fantasia, dá-nos a possibilidade de adaptarmos as nossas abordagens a diferentes missões. Podemos utilizar a caçadora para uma missão que requer combate à distância ou então encontrar um ponto de equilíbrio com o cavaleiro, ainda que saibamos que provavelmente estaremos indefesos contra arqueiros. Como não existe um sistema de evolução tradicional, as diferenças físicas e habilidades únicas são mais sentidas em combate, com a compra do equipamento e a preparação pré-combate a serem absolutamente essenciais.

Com um preço acessível e um trabalho aceitável no que toca à sua remasterização, Enclave HD cumpre o que se propôs a fazer. Um clássico de cara lavada, adaptado para o comando das consolas, com algumas boas ideias e uma jogabilidade que não esconde a sua idade. É um portal para outra era, tão nostálgico, como frustrante.

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela ÜberStrategist PR.

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