Esta prometia não ser somente mais uma edição do simulador de futebol da Konami. Aliás, o uso do termo eFootball revelava-nos isso mesmo, com a empresa a apostar forte para que o seu PES 2020 venha a ser utilizado em diversos torneios de eSports. Mas será que o conseguiu? É o que vamos descobrir nas próximas linhas.
É certo e sabido que, desde há vários anos, PES deixou-se ultrapassar pelo rival FIFA, da EA Sports. PES andava nas bocas do mundo na altura da velhinha PlayStation 2, mas, algumas edições depois, foi completamente ultrapassado. Embora, para muitos, o jogo da Konami seja mais real e orgânico que o rival, focando-se praticamente e somente na jogabilidade, a verdade é que os jogadores procuram algo mais. E daí a preferência por FIFA, que certamente resultará em vendas muitíssimo superiores.
Começando pelo início de tudo, os menus. Finalmente a Konami criou um novo esquema, deixando a feia apresentação de jogos anteriores. Mas talvez até tenha simplificado demais desta vez. No menu inicial, temos sete ícones diferentes. Isso mesmo, ícones, referentes a Pontapé de Saída, eFootball, Estatísticas, Definições, myClub, Liga Master e Rumo ao Estrelato. Depois basta carregarem no “X” em cada um desses ícones para que surjam as opções que cada um apresenta. No fundo, é como se tivéssemos aquele menu de mosaicos, mas com uma apresentação disfarçada.
Por exemplo, devem escolher o Pontapé de Saída caso queiram fazer uma partida rápida, o eFootball caso queiram jogar online e participar em torneios ou o Rumo ao Estrelato caso queiram transformar o vosso jogador no melhor de sempre.
E antes de analisarmos todos os menus, foquemo-nos naquilo que PES consegue realmente ser forte: a jogabilidade. E mais uma vez, é ótima.
Há sempre aprimorações, é certo. A cada edição que passa vai ficando mais difícil marcar golos. Por exemplo, os guarda-redes tendem a posicionar-se melhor, os defesas são mais inteligentes e até a própria física da bola sofre alterações, tudo para que se crie um ambiente o mais próximo possível da realidade.
eFootball PES 2020 requer alguma dedicação para quem está mais habituado a FIFA devido ao seu ritmo de jogo mais lento, mas quem acompanha PES desde sempre sentir-se-á em casa. E notará diferenças. Por exemplo, existem várias animações novas, e aquele jogador que tem aquele movimento tão característico, seja a rematar ou a passar a bola, aqui surge replicado na perfeição.
Onde notámos maiores alterações foi precisamente no sistema de passes, que não são tão precisos em algumas situações. Ou seja, há que tentar direcionar na perfeição o esférico para o jogador para o qual se pretende passar. Também os toques de primeira ficaram mais difíceis, pelo que serão os jogadores mais dotados tecnicamente que terão maior facilidade em fazê-lo.
Também os dribles foram reimaginados, neste caso com a ajuda de Andrés Iniesta, antiga estrela do FC Barcelona, que prestou, digamos assim, serviços de consultoria. O atual jogador dos japoneses do Vissel Kobe ensinou as melhores formas de estudar os movimentos e o comportamento dos jogadores do campo e como o desenvolver de uma jogada pode gerar situações que muitos poderiam considerar imprevisíveis.
Desta forma, e regressando um pouco ao que tinha dito anteriormente, aqueles jogadores que se destacam individualmente quase que ganharam nova vida neste eFootball PES 2020 graças a estas novas dinâmicas. Aliás, como foi dada especial atenção à técnica, os jogadores mais dotados conseguirão dar nas vistas facilmente.
Claro, nem tudo é perfeito. Os nossos colegas de equipa, por exemplo, preferem, por norma, arriscar mais nos passes do que passar para um jogador que está isolado. Mas, se pensarmos bem, até tem alguma razão de ser, uma vez que o mesmo acontece na vida real. Ou seja, está bem credível.
Não tenho grandes falhas a apontar à jogabilidade, mas irrita-me, por exemplo, que o Estádio José Alvalade seja o único licenciado. Apesar de estar fielmente recriado, o mínimo exigível para eFootball PES 2020 era ter, também, o Estádio da Luz e Estádio do Dragão licenciados.
No que toca aos adeptos, parecem ter alguma vida. Já as faixas que apoiam as equipas… nem por isso. Tiradas como “Queremos gritar gol” ou “Ninguém pode nos parar” soam claramente a traduções brasileiras. E o pior é que aparecem repetidas várias vezes ao longo das bancadas do estádio.
Já no que diz respeito aos replays, fiquei com a sensação de que a qualidade apresentada pelos mesmos é bastante baixa. Parecia que, quando entrávamos na repetição das jogadas, as texturas tinham sofrido uma redução na qualidade.
Em relação aos gráficos, bem… É sempre um ponto muito questionável. A meu ver, eFootball PES 2020 faz um bom trabalho no geral: no desenho dos jogadores, equipamentos, mas, no que toca às faces, é bastante fraco. Somente aqueles jogadores de gabarito, como Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar, entre outros, acabam por ficar bastante parecidos com os seus congéneres da vida real, porque os restantes deixam francamente a desejar.
Aliás, basta jogarem um jogo com a Seleção Nacional ou com um dos três grandes e irão perceber que jogadores como Pepe, Raphael Guerreiro, André Almeida ou Rafa, só para citar alguns, são tudo menos parecidos. Curiosamente, Rui Patrício, por exemplo, guarda-redes titular da equipa das quinas, está realmente muito parecido. É muito estranha esta disparidade entre os jogadores.
Em relação aos comentários, soam-nos como se tivessem sido reaproveitados da edição passada, apenas tendo sido adicionadas algumas linhas de diálogo no que a novos jogadores diz respeito. Há uma clara falta de inspiração.
Outro eterno problema é, já adivinharam, o das licenças. Embora eFootball PES 2020 até se tenha safado relativamente bem em termos de licenciamento de equipas, a verdade é que vai deixar sempre a desejar. Temos licenciadas a Jupiler Pro League (Bélgica), 3F Superliga (Dinamarca), Ligue 1 Conforama (1ª divisão francesa), Domino’s League 2 (2ª divisão francesa), Seria A TIM (1ª divisão italiana), Eredivisie (Holanda), Liga NOS (Portugal), Russian Premier League (Rússia), Ladbrokes Premiership (Escócia), Raiffeisen Super League (Suíça), Sport Toto Super Lig (Turquia), Superliga Argentina (Argentina), Campeonato Brasileiro Série A e B (Brasil), Campeonato AFP Planvital (Chile), Liga Aguila (Colômbia), CFA Super League (China) e Toyota Thai League (Tailândia).
Perceberam aqui o padrão? À exceção das ligas italianas e francesas, a Konami apostou claramente no licenciamento de campeonatos secundários. Ou seja, não deixa de ser triste continuarmos a não contar com as ligas espanhola, alemã e Reino Unido licenciadas. E até percebo as parcerias que a Konami efetuou com alguns clubes, mas não deixa de ser ridículo ver um Barcelona no meio de um Madrid Chamartin B (Real Madrid).
Não é, por isso, de admirar que o próprio jogo nos diga para utilizarmos um Option File, que faz com que se possa “complementar” o título com equipamentos e nomes licenciados.
No que aos outros modos diz respeito, é de crer que os jogadores percam mais tempo na Liga Master ou no Rumo ao Estrelato. Em todo o caso, continuam igualmente desinteressantes.
Na Liga Master podemos começar com a equipa original da Liga Master ou com uma qualquer que escolhamos, sendo que, depois, temos um de 18 treinadores à disposição, onde constam nomes como Diego Maradona, Romário ou Johan Cruyff. Seguidamente devemos moldar a equipa de acordo com os nossos ideiais.
Pelo meio vão existindo cutscenes, mas onde as personagens não só praticamente não mexem a boca, como não têm voz. Ou seja, há somente uma música de fundo. Chega a ser assustador. Também podemos selecionar algumas opções para o futuro da nossa equipa nas reuniões com adjuntos e direção do clube, mas não têm qualquer impacto visível.
Neste modo, podemos depois gerir a nossa equipa (treinar habilidades e apostar nos mais jovens, definir o plano de jogo, vender/comprar/emprestar jogadores), consultar o calendário, ver o orçamento restante do clube, entre outras opções. Parece complexo, mas, na verdade, é bastante básico e pouco interessante para garantir a atenção do jogador durante muito tempo.
O outro modo que destacamos é o Rumo ao Estrelato, onde podemos utilizar um jogador criado de raiz por nós ou um já existente. Neste caso, optei por utilizar um jogador que tinha criado previamente, de nacionalidade portuguesa. Vá-se lá saber porquê, o jogo colocou o meu jogador no Belenenses. E agora vou-vos relatar a minha experiência neste modo.
Embora tenha sido difícil afirmar-me nos primeiros jogos, o treinador acreditou no potencial do meu jogador e, primeiro, colocou-o a suplente e, ao fim de alguns jogos, já era titular indiscutível.
Devo ter sido o melhor goleador do campeonato (ou lá perto) e isto fez com que me quisesse transferir para o estrangeiro. Apostei logo em grande: Manchester United, Barcelona, Juventus, mas nenhum me quis. Até que chegou o PSG. No clube, não fui utilizado em nenhum jogo, mas, ainda assim, o meu jogador foi chamado à seleção nacional. Marcou oito golos em dois jogos, mas isso não fez qualquer diferença no clube, pois continuou sem qualquer minuto somado no campeonato.
No mercado de transferências de Inverno, surgiu o interesse do Madrid Rosas RB (Atlético de Madrid), pelo que foi com felicidade que encarei este novo desafio. Novamente, o mesmo problema: o meu jogador nunca foi utilizado.
Ou seja, qual é a lógica de contratar um jogador para, depois, nunca ser utilizado? Há aqui questões que não fazem qualquer sentido e que nunca aconteceriam na vida real.
Em todo o caso, este é um modo que acaba por ser praticamente igual à Master League, mas sem as opções de treinador. Falta, portanto, um maior dinamismo e maior capacidade para prender o jogador.
No final de tudo, eFootball PES 2020 é um jogo que tem uma jogabilidade cada vez mais aprimorada, aproximando-se a passos largos da perfeição. No entanto, isso hoje em dia não chega, e é necessário que a Konami saiba criar mais opções para prender a preferência dos jogadores, fazendo com que estes nem sequer pensem no rival FIFA.
eFootball PES 2020 já está disponível para PlayStation 4, Xbox One e Steam.
eFootball PES 2020
Nota: 8/10
Este jogo (versão PS4) foi cedido para análise pela Ecoplay.