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Descubram todos os segredos deste jogo de exploração e pesca com fortes inspirações em terror cósmico e na obra de H.P. Lovecraft.

Em Dredge, tudo começou como um sonho. Um sonho em ser pescador, em viver a vida no alto mar – em ser útil. Cheguei a Greater Marrow, a aldeia piscatória envolta em mistério, através de um anúncio de jornal. No pedaço de papel lia-se, em letras grandes e gordas, “pescador precisa-se”. Não hesitei. As nuvens negras não tardaram a surgir no horizonte e mergulharam o meu pequeno barco a motor numa neblina espessa. O ar frio e estagnado deu lugar ao som dos trovões. As ondas abanaram o meu barco com força, como se me quisessem afastar. Lembro-me de pouco, apenas do som de madeira a partir sobre as rochas e de acordar já na aldeia.

O presidente recebe-me calorosamente. Ele estava à minha espera. A vila vive da pesca e o antigo pescador desapareceu. Eles precisam urgentemente de alguém. O presidente descreve o antigo pescador como uma pessoa peculiar, que passou demasiadas noite em branco, no alto mar – algo que me recomenda a nunca fazer. Assim que a noite cair, devo voltar para Greater Marrow. A escolha é minha, mas nada de bom acontece nos mares ao anoitecer.

Depois do aviso, o presidente apresenta-me ao meu novo barco, também ele a motor, pequeno e lento. O meu foi destruído nas rochas, explica o presidente, e agora não tenho outra alternativa senão aceitar a ajuda da aldeia. No entanto, não se trata de caridade, mas sim de um empréstimo. Com o novo barco vem também uma dívida inesperada, que preciso de pagar. Para tal, tenho de pescar. Atirar-me ao mar e pescar o que conseguir. Quando tiver o barco cheio, ou a noite a chegar, basta dirigir-me ao peixeiro e vender a minha mercadoria. Parte dos ganhos serão aplicados na dívida. O resto ficará para mim, para continuar a melhorar o meu barco e a torná-lo mais sustentável. Fica assim delineado o meu trajeto e o que me espera enquanto estiver em Greater Marrow: pescar, melhorar o meu barco e explorar os mares à volta da zona costeira.

Depois de conhecer Greater Marrow e os seus habitantes, que pedem a minha ajuda para tarefas mais simbólicas – como encontrar algum pertence perdido – ou para ajudas mais substanciais – como ajudar uma jovem construtora a encontrar um local para viver –, parto em viagem. Agora sou só eu e o mar. O barco é lento, nem sempre fácil de controlar devido à velocidade da viragem e a um certo peso nos seus movimentos, mas habituo-me rapidamente. O que me assusta mais é a sua fragilidade e basta um toque distraído nas rochas para danificar o casco. Não vou ao fundo, mas perco espaço de inventário com cada batimento e menos espaço significa menos dinheiro no final do dia de trabalho. É necessário voltar a Greater Marrow sempre que encontre um deslize em alto mar – e também ter dinheiro para aplicar os arranjos quando necessitar.


Com um barco tão frágil e lento, não me posso aventurar fora do espaço controlado que é o arquipélago. No entanto, o mapa, que tenho em meu poder, revela um mundo que mal posso esperar para explorar e conhecer melhor, com várias zonas distintas, novos portos para atracar e pessoas para conhecer. Por agora, fico em segurança, sob o controlo da luz do farol, que me guia até quando estou mais longe – sempre visível, sempre a observar.

O dia começa às 6H e estende-se até às 19H, quando o sol cai e a noite começa. Agora é pescar. Ao longo da baia vejo as sombras e os salpicos do peixes que nadam e saltam próximos à superfície. Rapidamente descubro que não posso pescar tudo o que quero, ainda estou limitado. Para já, consigo apenas pescar peixes costeiros devido às canas que tenho instaladas no meu barco. Para pescar algo maior e mais valioso, preciso de melhorar as canas e combinar os seus vários tipos para conseguir variar as apanhas diárias – se calhar até comprar uma rede, que soltarei no mar, e armadilhas para caranguejos que me permitem capturar o que a cana não consegue apanhar. Mais um objetivo para a minha lista crescente de tarefas: comprar novas canas, descobrir mais espécies de peixes e aumentar o meu rendimento. A progressão está definida e já sinto que vai ser satisfatória assim que começar a ver a minha conta a aumentar.

A linha salta para a água. Não estou com esperanças de encontrar um peixe enorme, pesado, que valha mais do que os outros todos. Pelo reflexo do sol, consigo ver os peixes a sondar o isco que cai lentamente pela água. Lá vai ele. Quando era mais novo, o meu pai ensinou-me um truque para pescar. Eu ainda ficava nervoso com a antecipação do peixe morder o meu anzol, com receio de puxar demasiado cedo ou quando já era tarde de mais. Então o velho pescador disse-me “imagina que tudo isto é um círculo, onde o tempo certo é marcado por zonas que tens de acertar em cheio. Quanto mais depressa acertares nas zonas certas, imagina que são verdes, mais depressa terás forças para puxar o peixe até à superfície”. Sempre que atiro o anzol e ele é puxado pela boca de um peixe, eu imagino esse círculo, esse 1-2-3, que tenho de acertar para garantir que o peixe é apanhado. E como sempre, lá vem o meu primeiro peixe em Greater Marrow.

O dia é passado assim, de sombra em sombra, de peixe em peixe. Blue Mackerel, Cod e Gulf Flounder são alguns dos peixes que já apanhei, mas a promessa para maiores pescas está sempre à vista e a relembrar-me que tenho de comprar novas canas o mais rapidamente possível. Com o dia a terminar, apercebo-me que o meu maior desafio, mais do que pescar, está na arrumação do meu inventário. O convés é limitado, pelo menos para já, e não consigo ter espaço para tudo o que a minha ganância ambiciona. Pescar é uma profissão de organização, nunca me posso esquecer disso. Então agarro nos meus peixes e posiciono-os como posso. Cada peixe tem o seu tamanho e posicionamento, que tenho de combinar para conseguir organizar melhor o espaço disponível. É um puzzle em si, ainda que muito simples, mas sempre satisfatório de fazer à medida que o dia avança e encontro novas espécies de peixes.

O sol começa a cair. A tentação de continuar a explorar é enorme. Quanto mais nos dizem para não fazer algo, mais nós a queremos fazer, assim é a curiosidade humana. Noto que a noite é muito mais escura que o normal, como se existissem sombras espessas à minha volta, que a luz do meu barco mal consegue cortar – também tenho de comprar melhor iluminação para o barco. A tentação aumenta quando percebo que existem espécies aquáticas que só saem à noite, algumas bastante valiosas, até raras. O risco valerá certamente a pena, mas o meu barco ainda é demasiado fraco e desajeitado para grandes aventuras. A promessa de melhorias está também no horizonte e o armador já me mostrou planos para aumentar a força, tamanho e velocidade do meu barco.

A noite continua a cair. Quando estou a regressar a Greater Marrow, penso que vejo outro barco, a aproximar-se de mim, mas quando penso que vamos embater, o outro barco desaparece; como se nunca estivesse lá. Estou a ver coisas, a minha pele está arrepiada, parece que estou a ouvir algo a arranhar o casco. Chego finalmente à vila, assustado, mas também curioso, como se o perigo chamasse por mim. Vi estruturas estranhas, luzes inexplicáveis no horizonte e outros pesadelos – quero ver tudo por mim e compreender que mistérios escondem.


A venda é feita, parte da dívida é paga e o resto do dinheiro vai para as melhorias do meu barco. Talvez compre um novo motor, canas de pesca, iluminação ou algo mais inesperado como a rede que tanto quero. Quanto mais navego, mais conheço sobre o mar. O meu conhecimento do mar faz-me pedir à armeira para fazer alterações e melhorias específicas no meu barco, que ela disponibiliza na sua loja para quem quiser comprar. O próximo dia será mais aventureiro, estou a senti-lo. O meu barco começa a ganhar personalidade e cada moeda é aplicada em melhorias que me possibilitam pescas mais arrojadas – ainda melhor, agora consigo recuperar destroços, como madeira e pedaços de metal, que posso aplicar na personalização do meu barco. Este mundo é um motor muito bem oleado, onde todos os recursos são aplicados da melhor forma possível: os peixes são transformados em dinheiro, o dinheiro é aplicado em novos acessórios e os acessórios permitem-me navegar até às zonas mais longínquas do mapa. Sinto-me cada vez mais motivado em explorar todas as regiões e desvendar os mistérios que surgem à noite.

A vida de pescador requer também alguma paciência. Os dias passam e as tarefas são sempre as mesmas – apanhar e vender peixe. Só assim conseguirei continuar em frente e alimentar-me. Esta rotina é intercalada pela exploração, claro, e já descobri novas zonas que não estão sequer marcadas no mapa. À noite, já tentei ficar acordado até tarde, mas senti a minha sanidade a esvair-se ao longo das horas e até imaginei ter encontrado peixes mutantes, disformes e alienígenas. O peixeiro parece ter adorado a minha descoberta, mas seriam aqueles peixes reais? Já não sei o que pensar, já não me importa desde que consiga descobrir mais sobre esta zona e o dinheiro continue a entrar.

As minhas viagens também permitem-me conhecer novas pessoas, algumas muito peculiares. Um historiador quer-me pagar para descobrir amuletos misteriosos. Também conheci uma peixeira, que vive na zona de Ingfell, muito mais simpática e prestável do que o peixeiro de Greater Marrow. Consegui ajudar dois irmãos que já não se falavam há décadas, chateados por disputas do passado. Eles eram antigos caçadores de baleias. Com o assunto resolvido, um dos irmãos deixou-me utilizar explosivos para criar atalhos, que me ajudam bastante a encurtar certas distâncias ainda mais à noite.

As minhas habilidades evoluem com o passar dos dias. Sinto-me mais forte, mais arrojado e curioso para desbravar os mares. Já não tenho receio de ficar acordado durante vários dias. Existem tesouros para encontrar, anéis de ouros caídos ao mar, que posso vender para ter lucro. Também sou atraído pelas novas regiões que encontro e pelos mistérios da noite. As criaturas que vejo já me são naturais. Os peixes mutantes não são um sonho, mas sim lucro – quanto mais estranhos, mais valiosos são. Sinto-me a mudar, como se já não fosse inteiramente eu ao volante, mas alguém que me é estranho e que não consigo ver ou compreender – alguém que me observa do céu e que comanda como se eu fosse uma máquina a vapor.

É impossível parar Dredge agora, tudo é tão divertido, imediato e intuitivo. Estou demasiado envolvido nos mares. Quando parto para mais um dia, às 6H como sempre, penso que posso desaparecer a qualquer momento e ser engolido pelas ondas, passar a ser mais uma história como aquelas que encontro espalhadas pelo mar em mensagens deixadas em garrafas vazias. E mesmo assim, lá vou eu, com medo e com curiosidade. O barco sempre a funcionar.

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Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Team17.

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