Digimon Story: Time Stranger Review: De volta ao mundo digital

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Digimon Story: Time Stranger estabelece um novo padrão para a série ao combinar uma narrativa cativante, criaturas carismáticas e um combate viciante, consolidando-se como um dos melhores RPG de Digimon dos últimos tempos.

Tanto quanto sei, os jogos de Digimon são quase como as linhas de evolução das criaturas digitais: nunca uma linha reta, mas com várias ramificações. O que quer dizer que há um pouco de tudo para todos. A série Digimon World aproxima-se de um simulador de criaturas digitais, com alguma história, quase um Tamagotchi, se ainda se recordarem do fenómeno. Já a série Digimon Story joga-se mais como um RPG tradicional, que tem uma história e uma linearidade, com as duas séries a permitirem o colecionismo e a criação dos Digimon. E depois há Digimon Survive, que é uma aberração no melhor sentido, em formato de novela gráfica de terror que calha envolver a franquia.

Foi com Digimon Story: Cyber Sleuth e Digimon Story: Cyber Sleuth – Hacker’s Memory que me estreei no mundo dos jogos Digimon. Escolhi-os por serem seguros num género que adoro e por estarem disponíveis na Nintendo Switch, a minha consola de eleição para quando tenho de fazer grind sem prestar grande atenção. Gostei bastante dessa duologia tanto pela história como pelo fanservice, mas tinha alguns problemas que só não me maçaram mais pela natureza portátil da consola. O ritmo da história era carregado a fetch quests, com o segmento final mais apressado para atar tudo, a variedade de cenários era pobre, com os mesmos níveis virtuais e a mesma paleta de cores. O final ainda tenta remediar quando finalmente entramos no mundo digital, mas… enfim. A minha tolerância à repetição também é suspeita, admito.

E eis que chega Digimon Story: Time Stranger para resolver os meus queixumes com um orçamento e ambição maiores do que as entradas anteriores. Desta vez, a aventura leva-nos para o mundo digital logo de início, onde cor e variedade não faltam e com uma história sempre a abrir.

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Digimon Story: Time Stranger (Bandai Namco)

Uma boa história pede um bom gancho e Digimon Story: Time Stranger entrega-o, ao abrir com um cataclismo em Shinjuku. O nosso protagonista silencioso é atirado oito anos para o passado com a missão de impedir que esse evento – o Shinjuku Inferno – chegue a vias de facto. Nesta nova realidade, travamos amizade com Inori e Aegiomon e a história torna-se mais linear enquanto exploramos o mundo digital e revelamos a trama. Não abandona os clichés dos animes, mas eu caio sempre.

É pena que o protagonista tenha pouca agência, mesmo com algumas opções de diálogo. O elenco não fala connosco, mas para nós, e isso parece-me chato e redundante, especialmente quando repetem a mesma informação ad nauseam como se fossemos monos. Felizmente, o lado dos Digimon carrega a alma desta aventura com o charme e a irreverência das séries animadas.

Digimon Story: Time Stranger mergulha na mitologia dos Olympus XII, numa oportunidade bem agarrada, pois é qualquer coisa ver estes deuses, não só como figuras imponentes, mas como trapalhões e próximos. E porque o cerne da aventura são as viagens no tempo, saltamos entre passado e futuro, com efeitos interessantes, como as criaturas que conhecemos num momento, vão amadurecendo física e psicologicamente devido às nossas influências.

Como é que obtemos os Digimon? Bem, cada encontro digitaliza automaticamente os Digimon por uma certa percentagem e assim que um tipo específico chegar aos 100%, podemos convertê-lo para se juntar à equipa. Se esperarmos que essa progressão chegue aos 200%, ele surge mais poderoso.

A mecânica única de evolução dos Digimon, chamada de Digievolução, é o coração da progressão em Digimon Story: Time Stranger. Cada Digimon tem várias linhas evolutivas pelas quais podemos constantemente Digievoluir e Des-digievoluir, mas têm de cumprir com certos requisitos, como o nosso nível de Agente; atingir um determinado valor de atributos; ter a personalidade correta; e/ou possuir itens especiais. Esta abordagem mais rápida à evolução é muito mais gratificante, mesmo havendo ainda algum grind envolvido.

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Digimon Story: Time Stranger (Bandai Namco)

Ao longo da aventura, vamos inevitavelmente ter várias cópias do mesmo Digimon, o que é um bom problema de se ter! Por exemplo, se tivermos dois Agumon, podemos Digievoluir um para Greymon e o outro para GeoGreymon para ver como as suas linhas evolutivas divergem. Podemos até dizer que é quase como um gacha divertido sem os elementos predatórios. E quando esgotarmos todas as evoluções possíveis para um tipo específico de Digimon, o jogo ainda permite “desmanchá-los” em materiais ou em dinheiro – embora este último até consigamos com bastante facilidade por outras vias.
Digimon Story: Time Stranger também introduz “Personalidades” que influenciam o crescimento de atributos. Há quatro categorias – Philanthropy, Valor, Understanding e Heart -, cada uma com subcategorias que afetam atributos de formas diferentes, um desses exemplos é o Understanding, que gira à volta do Intelecto e que melhora ataques mágicos. Felizmente, podemos influenciar as personalidades dos Digimon respondendo às SMS que nos enviam, falando com eles no mapa ou na Digifarm.

Do lado do combate, se tiver de o comparar, está mais próximo de um Shin Megami Tensei com a sua gestão de criaturas do que de um Pokémon. Aegiomon é uma das presenças fixas na equipa, mas podemos rodar por três membros ativos e outros na reserva.  Parte do porquê de considerar o combate ótimo é simples: este respeita o nosso tempo com várias opções de velocidade e modo automático para aqueles momentos de grind. E se formos os primeiros a investir, podemos eliminar os inimigos mais fracos logo no mapa.

Mas onde o sistema realmente brilha é no seu puzzle de vulnerabilidades. Já estava habituado a jogos que incentivam à exploração de fraquezas, e Digimon Story: Time Stranger eleva isto a outro nível. Existem três atributos principais – Data, Virus e Vaccine – que funcionam num clássico pedra-papel-tesoura, em que Data vence Vaccine, Vaccine vence Virus, e Virus vence Data. Por exemplo, numa batalha, atacamos com vantagem e tiramos 150% a mais de dano, só que há uma segunda camada elemental (fogo, água, luz, escuridão, etc). E se conseguirmos combinar as duas? Um Vaccine com ataque de luz contra um Virus de escuridão? Limpamos uns valentes 400% de dano. É uma satisfação danada quando conseguimos limpar bosses bem mais fortes do que nós. Não é para trabalhar no duro, mas de forma eficiente.  E mesmo que não tenhamos a combinação perfeita de Digimon, podemos equipar-lhes habilidades fora dos seus atributos naturais para cobrir todas as bases. Assim, o combate nunca se sente monótono ou limitado.

Quando acumulamos Cross Points suficientes, temos a opção de intervir diretamente no combate ao puxar de um revólver. Não só podemos acabar o confronto com um balázio como podemos optar por curar ou suportar a party. O único senão, é que não podemos selecionar estas habilidades durante o combate, mas fora deste. O que nos deixa à mercê do nosso estilo de jogo ou do acaso.

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Digimon Story: Time Stranger (Bandai Namco)

E aqui está o meu maior problema com o jogo: a experiência de utilizador. Navegar entre menus quando temos informação para consultar e cruzar é uma dor de cabeça. A Digifarm – onde colocamos os Digimon para ganharem experiência e treinarem atributos específicos enquanto andamos por aí – não tem qualquer ligação ao menu de Digievolução. O que significa que temos de memorizar (ou puxar do caderno) o que precisamos treinar para não andarmos constantemente a entrar e a sair da Digifarm. São pequenas irritações que se acumulam ao longo de 30-40 horas e fazem-me perder mais tempo do que o backtracking que o jogo já pede por si. Nada que quebre o jogo, mas é frustrante quando tudo o resto está tão bem pensado.

Como bom RPG, Digimon Story: Time Stranger também oferece bastantes atividades secundárias. Embora muitas missões não fujam das fetch quests, permitem explorar o mundo digital e observar um pouco de slice of lifedos Digimon. Ainda assim, são uma melhoria drástica em relação aos jogos Digimon Story anteriores. Aqui, o mundo, e a história, respiram. Também encontramos desafios escondidos que recompensam com dinheiro, sendo algumas das mais difíceis formas divertidas de testar a nossa equipa.

Ao mesmo tempo, estas missões oferecem uma recompensa crucial, os Anomaly Points que consumimos para desbloquear mais Cross Arts ou reduzir certos requisitos de Digievolução. Gastá-los também aumenta o nosso Rank de Agente, que também é um requisito de Digievolução por si só. Em Ranks de Agente mais altos, podemos começar a Digievoluir os Digimon para as suas formas Ultimate e Mega, o que é importante para enfrentar os bosses mais poderosos do final.

E como já começa a ser também tradicional em RPG, Digimon Story: Time Stranger também inclui um jogo de cartas que usa as ilustrações do Trading Card real. Consoante o número de rondas ganhas, podemos roubar a quantidade correspondente de cartas do deck derrotado como prémio. Acabei a minha análise do Digimon Survive com esta confissão: que iria continuar com as séries e com os jogos que continuavam a sair, a arriscar e a aliciar. Desde então, já vi mais séries, estando agora a acabar Xros Wars. Apesar de ter o Next Order no backlog, ainda não tive oportunidade de o começar, mas tive a de analisar esta nova entrada de Digimon Story. Se escrevi a última análise com algum fel e com comparações com a outra série rival, aqui estou mais zen porque sei que terminei um daqueles jogos que me marcou e me deixa feliz por ver mais gente a divertir-se. Há uma nova série, o jogo de cartas nunca foi tão popular e eu voltei a ser aquela criança que faltou às aulas para ver o último episódio da primeira temporada.

Recomendado - Echo Boomer

Cópia para análise (versão PlayStation 5) cedida pela Bandai Namco.

André Pereira
André Pereira
Formado em Tradução, escrevo sobre jogos desde 2008. Ou tento. Respiro RPG e isso é um problema num backlog crescente.
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