Mistério, drama e romance. White Lines, a nova produção de Álex Pina, tem um pouco de tudo.
White Lines era, provavelmente, uma das séries que mais esperava este mês na Netflix. Não só por ter Nuno Lopes, o ator português, no elenco, mas também por ser a primeira produção de Álex Pina, o criador de La Casa de Papel, para a Netflix, e ter ainda o carimbo dos produtores de The Crown, uma das minhas séries preferidas. E não desiludiu.
O corpo de um lendário DJ de Manchester é descoberto 20 anos depois do seu misterioso desaparecimento em Ibiza. Quando a sua irmã regressa à bela ilha espanhola para descobrir o que aconteceu, a sua investigação leva-a a um emocionante mundo de discotecas, mentiras e encobrimentos, forçando-a a confrontar os lados mais escuros do seu próprio carácter num lugar onde as pessoas vivem a vida no limite. O diálogo é uma mistura de inglês e português.
Uma série bilíngue na vida noturna de Ibiza
Não sou um grande apologista de se falar duas línguas ou mais numa série, especialmente porque raramente conseguem ser coerentes. Ainda assim, White Lines conseguiu um equilíbrio raro entre o inglês e o espanhol, que muitas poucas séries o conseguem fazer. São poucas as vezes que nos apercebemos que a série é falada em duas línguas, pelo que tudo flui muito bem.
Ibiza é o cúmulo da vida noturna, mas também da mistura do inglês com o espanhol, tendo em conta a quantidade de artistas e turistas ingleses que costumam visitar esta ilha espanhola. Nesta série, toda a parte visual é bem conseguida. Os planos de Ibiza estão muito bem feitos e transportam-nos para este pequeno paraíso no Mediterrâneo. Os tons da imagem estão de acordo com a ilha, mas também da narrativa.
Não há propriamente muitas semelhanças a La Casa de Papel, com a exceção de se passar em duas linhas temporais. No entanto, acho que, em White Lines, não foi tão bem conseguido. Embora as cenas passadas em 1992 sejam importantes, teria gostado que tivessem seguido uma ordem cronológica de eventos e não serem apenas aleatórias entre episódios.
O papel de Nuno Lopes em White Lines
Não é só a trama de White Lines que chama a atenção. A presença de Nuno Lopes é outro dos pontos mais positivos nesta produção. O ator português tem um papel de destaque e entende-se, então, todo o furor que se tem vindo a fazer em relação à sua presença na série. Nuno Lopes consegue ter uma personagem bem construída e que foge ao cliché do típico chefe de segurança de uma família dona da noite de Ibiza.
Ao longo dos episódios simpatizamos com Boxer, a personagem de Nuno Lopes, e vemos a sua evolução enquanto pessoa. Além disso, há outro português no elenco. Paulo Pires faz uma aparição breve na série, aparecendo em alguns episódios.
[A partir de aqui contém spoilers]
Ainda que o piloto desta produção não seja o melhor ou até o mais interessante, acho que acaba por funcionar bem. Introduz-nos a este universo e explica, ainda que de uma maneira resumida claro, como é que vai funcionar a história. Começamos por ver Zoe ainda magoada com o desaparecimento do seu irmão há 20 anos. Podemos culpá-la? Claro que não. Acho que qualquer um de nós teria perdido a cabeça. E se não havia propriamente muitas respostas até ao aparecimento do seu corpo (bem caraterizado, diga-se de passagem), há ainda menos agora.
É neste ponto que se dá a viragem e percebemos que a Zoe não vai desistir até saber realmente a verdade. Não a verdade que lhe querem contar, mas a verdade sobre a morte do seu irmão. Junta-se a Boxer, que atrevo-me a dizer que é uma das personagens mais bem construídas nesta série, e a química entre os dois desenvolve-se ao longo dos episódios. Sempre com um toque de humor, claro.
No decorrer dos episódios, vemos que Zoe não está apenas a tentar descobrir a verdade, mas também a tentar descobrir-se e perceber quem realmente é.
A resolução do mistério
É aqui que acho que a série se perde um pouco. Não é que não seja interessante esta narrativa, mas a procura pela verdade sobre a morte de Axel fica de parte. De repente parece que estamos a assistir uma temporada diferente e onde já sabe quem matou o jovem. E ainda não se sabe.
Não há problema nisso, atenção. Eu gostei deste rumo. Mas teria sido muito mais interessante se tivesse sido tomado quando houvesse mais informações sobre o desaparecimento do irmão de Zoe. Ainda que se perceba o porquê, gostaria que o mistério tivesse sido desvendado aos poucos durante os episódios.
Porém, nos episódios finais começamos finalmente a perceber o mistério no desaparecimento de Axel e posso dizer que não fiquei totalmente surpreendido. Não é que a morte não tenha sido explicada de maneira correta (porque o foi), mas já estava à espera que o assassino fosse um dos seus amigos. Talvez veja demasiadas séries deste género.
Se gostas de algum mistério, drama e romance, White Lines é o prato que junta estes três ingredientes. O resultado é bastante positivo e candidata-se a ser uma das melhores séries da Netflix este ano.
White Lines já está disponível na Netflix.