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Upgraded poderia ter sido uma rom-com inofensivamente formulaica e esquecível que pede emprestado a centenas de outros filmes semelhantes, mas a conclusão frustantemente simplista arruina as esperanças de uma recomendação para fãs do género.

Camila Mendes participa numa das minhas rom-coms favoritas desta década, Palm Springs, e protagoniza juntamente com Maya Hawke uma comédia negra altamente entretida, Do Revenge. Em ambas as obras, a atriz demonstrou ter talento e potencial para a sua idade, pelo que a única expetativa para Upgraded era precisamente de assistir a mais uma prestação de louvar que pudesse elevar um filme que apontava para um serão extremamente formulaico e sem grandes surpresas…

Ana Santos (Mendes) é uma estagiária ambiciosa que sonha com uma carreira no mundo da arte enquanto tenta impressionar a sua rigorosa chefe, Claire Dupont (Marisa Tomei). Após sofrer um upgrade fortuito para a primeira classe de um voo de trabalho, conhece Will (Archie Renaux) que a confunde com a sua chefe – uma mentira inofensiva que desencadeia uma série de eventos, romance e oportunidades de ouro para a protagonista alcançar aquilo com que sempre sonhou, mas obviamente, a sorte não dura para sempre…

Esta premissa é uma mera variação da fórmula mais básica desta mistura famosa de géneros. Mesmo sem ver qualquer minuto do filme, qualquer espetador com um mínimo de experiência com este tipo de obras consegue prever tudo o que irá acontecer quase ao detalhe. Se existirem dúvidas, os primeiros minutos de Upgraded esclarecem totalmente, empurrando a audiência para uma narrativa que se inspira em centenas de outras histórias, mas sem a capacidade de executar os vários pontos de enredo semelhantes com o mesmo interesse e impacto.

Christine LenigJustin MatthewsLuke Spencer Roberts são os três argumentistas de Upgraded e nenhum traz criatividade a um guião desprovido de originalidade, imaginação e, acima de tudo, uma mensagem importante ou um tema principal significante – este último ponto é, aliás, o grande problema da obra. O realizador Carlson Young (The Blazing World) também não consegue trazer uma visão única ou algum tipo de novidade estilística, fazendo com que o seu filme se pareça com tantas outras rom-coms esquecíveis.

Sem aspetos técnicos que sobressaiam, o sucesso de Upgraded encontra-se completamente dependente da sua história, mas tal como referido acima, o argumento genérico peca por falta de inovação e melhor execução. Normalmente, isto seria insuficiente para declarar a obra como um desastre, mas a conclusão tematicamente incoerente e inconsequente deixou-me extremamente frustrado. A protagonista passa pelo arco típico de sucumbir às boas coisas que a mentira lhe traz até inevitavelmente a sorte acabar e esta se ver numa posição de vergonha e arrependimento.

No entanto, a mensagem final de Upgraded é precisamente de que a mentira compensa e que qualquer consequência negativa não dura mais do que alguns minutos de tempo de ecrã. O terceiro ato passa de ser a habitual espiral negativa que ‘acorda’ a protagonista, fazendo-a perceber dos seus erros do passado, para um final que aplaude essas atitudes enganadoras e as premeia com tudo aquilo que Ana sempre desejou, sem nunca ter de lidar verdadeiramente com a severidade do que fez. A resolução rápida e desprovida de sofrimento de todos os seus arrependimentos é ridiculamente simplista.

Mendes e Tomei (Spider-Man: No Way Home) são a salvação de Upgraded, entregando-se de corpo e alma aos seus papéis. A primeira comprova novamente a sua facilidade em ‘selecionar’ as emoções que necessita sem grande esforço, enquanto que a última parece que está genuinamente a divertir-se com uma personagem pomposa e de sotaque elitista – as suas cenas são dos poucos momentos de verdadeiro entretenimento de um filme que nem justifica o seu tempo de duração todo. As atrizes merecem muito melhor.

VEREDITO

Upgraded poderia ter sido uma rom-com inofensivamente formulaica e esquecível que pede emprestado a centenas de outros filmes semelhantes, mas a conclusão frustrantemente simplista com uma mensagem terrível – basicamente passando a ideia de que mentir não tem consequências negativas, muito pelo contrário – arruina as esperanças de uma recomendação para fãs do género. Uma história previsível desde o primeiro segundo sem uma grama de criatividade e com uma resolução complacente para todos os problemas da protagonista. Camila Mendes e Marisa Tomei merecem mais do que o pior filme de 2024 até à data.

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