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The Mauritanian conta uma história verdadeira chocante que todos devemos ver, mais tarde ou mais cedo.

Sinopse: “Baseado no memoir do NY Times, Guantánamo Diary, de Mohamedou Ould Slahi, esta é a inspiradora história verdadeira da luta pela liberdade do autor depois deste ser detido e preso sem acusações pelo governo dos EUA durante anos. Sozinho e com medo, Slahi (Tahar Rahim) encontra aliados na advogada de defesa Nancy Hollander (Jodie Foster) e na sua associada Teri Duncan (Shailene Woodley) que lutam contra o governo dos EUA numa batalha por justiça que testa o compromisso das mesmas com a lei e o seu cliente. A sua defesa controversa, juntamente com evidências descobertas por um procurador militar formidável, Lt. Colonel Stuart Couch (Benedict Cumberbatch), descobre verdades chocantes e, em última análise, prova que o espírito humano não pode ser preso.”

Como já escrevi em inúmeras outras críticas do mesmo género, costumo maioritariamente apreciar filmes “baseados numa história verídica”, visto que estes cumprem com as minhas expectativas principais quase sempre: ensinarem-me sobre um evento ou assunto o qual não conhecia (muito). A história real de Mohamedou Ould Slahi era naturalmente desconhecida no momento da visualização, mas The Mauritanian faz um ótimo trabalho em contar a sua vida chocante, insana e inacreditável no campo de detenção da Baía de Guantánamo. A existência desta prisão fora-da-lei ainda me deixa perplexo nos dias de hoje. Duas décadas após o início do século XXI e a humanidade continua a encontrar formas imorais e ilegais de destruir os direitos humanos mais básicos.

Kevin Macdonald, um realizador que é, provavelmente, mais reconhecido pelos seus documentários do que pelas longas-metragens, oferece uma adaptação direta do memoir do protagonista, focando-se na narrativa principal sem dar muito espaço ao melodrama típico de Hollywood de obter a sua participação genérica e redutora. Segue a fórmula habitual deste tipo de filme e os seus atributos técnicos não distraem ou são visualmente avassaladores, o que é capaz de ser o melhor elogio que tenho para dar a The Mauritanian. A sua história, por si só, é interessante o suficiente, por isso aprecio profundamente que Macdonald tenha aproveitado a sua experiência em documentários para produzir este filme, uma vez que poderia facilmente ter sido um documentário normal – e, em alguns aspetos, é muito semelhante a este tipo de cinema.

The Mauritanian

O argumento escrito por M.B. Traven, Rory Haines e Sohrab Noshirvani é bastante cativante durante a maior parte do tempo de execução, mas perde um pouco de gás devido a algumas sequências desnecessárias e sem grande impacto. Durante muitos momentos, os argumentistas e Macdonald conseguem fazer passar a mensagem que desejam eficientemente, mas estas cenas continuam por alguns minutos extra que realmente não adicionam nada de novo à história, às personagens ou à atmosfera. Apesar da narrativa principal ser sobre Slahi, estes subplots envolvendo personagens secundárias estão longe de ser remotamente interessantes. Se não fosse por um sempre cativante Benedict Cumberbatch e uma encantadora Shailene Woodley, algumas destas linhas narrativas podiam ter prejudicado o filme mais do que o previsto.

Um dos momentos mais importantes do filme ocorre no início do terceiro ato. Embora seja vital para o público experienciar os mesmos horrores que Slahi teve de enfrentar, esta sequência demasiado longa vai de puramente chocante a genuinamente desconfortável, até ao ponto de alguns espectadores realmente saltarem tudo à frente. Cai no problema acima de não saber quando terminar uma cena, estendendo-a em demasia, e aumentando consequentemente o já substancial tempo de duração. No entanto, permaneci totalmente concentrado na história central parcialmente devido às prestações marcantes de Jodie Foster e, especialmente, de Tahar Rahim.

A primeira entrega uma performance verdadeiramente notável, interpretando Nancy Hollander, uma advogada que traz à mesa o dilema moral mais comum na respetiva área de profissão. Será que todos – literalmente todos – merecem os mesmos direitos humanos? Ou existem exceções, como terroristas ou violadores? Foster incorpora lindamente esta tarefa desafiadora de defender um homem que 99.9% do mundo se recusaria a sequer falar com ele, quanto mais arriscar a sua vida e reputação para tal.

Ainda assim, é a prestação física e emocionalmente poderosa de Rahim, digna de prémios, que rouba os holofotes. Desde o seu olhar de desespero nos piores momentos à sua esperança infindável de que justiça seria feita, é impossível não sentir uma compaixão gigante por Slahi e torcer pela sua liberdade.

The Mauritanian é um daqueles filmes “baseado em eventos reais” que permanecerão na minha memória durante bastante tempo. A história imperdível, chocante e verídica de Mohamedou Ould Slahi, que recebeu um tratamento inacreditavelmente injusto, imoral e ilegal pelo governo dos EUA, é contada através de um argumento formulaico, mas eficiente, colocando os holofotes sobre a prestação excecional e digna de prémios de Tahar Rahim.

The Mauritanian

Kevin Macdonald emprega métodos de storytelling e filmmaking não-distrativos, permitindo que o foco principal se mantenha no próprio Slahi em vez de visuais avassaladores ou uma cinematografia estranha. Apesar de ter praticamente sucesso total nesta tentativa, não deixa de perder um pouco da sua energia e interesse geral ao estender em demasia cenas irrelevantes com personagens secundárias. Jodie Foster também entrega uma interpretação incrivelmente cativante de uma advogada que nunca desiste dos seus próprios princípios e regras morais.

Pode seguir a estrutura genérica de outros filmes do género, mas cumpre a sua missão de trazer esta história ao mundo sem quaisquer restrições. Recomendo, mas fica o aviso para uma sequência longa e violenta de tortura que poderá incomodar alguns dos espectadores mais sensíveis.

The Mauritanian deve estrear nos cinemas portugueses no próximo mês de março.

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