Crítica – The Great (1ª temporada)

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A nova aposta de época da Hulu tem tudo para fazer justiça ao nome e ser mesmo fantástica.

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Numa época em que as séries ganham cada vez mais mercado, conseguindo, de certa forma, começar a saturá-lo de conteúdo repetitivo e, muitas vezes, de qualidade duvidosa (a maioria com o selo da Netflix – que é claramente Bollywood da televisão), chega-nos The Great, a nova série da Hulu que prima pela criatividade e abordagem.

The Great é uma série de comédia histórica com base na monarquia do Império Russo, na segunda metade do Século XVIII, que aborda a ascensão de Catherine (nascida na Prússia, atualmente parte da Polónia) a Imperatriz da Rússia. Ainda em tom de contexto histórico, Catherine The Great foi a Imperatriz com o reinado mais longo da história do Império, conhecido como “A Era de Ouro da Rússia”, não só devido às conquistas geográficas e diplomáticas, mas sobretudo graças à proliferação da cultura e educação que passou também a abranger as mulheres (até então eram fortemente negligenciadas).

Se gostaram do humor do filme The Favorite (2018), vão gostar tanto ou mais de The Great, visto que ambos os trabalhos partilham a escrita de Tony McNamara. Dito isto, é fácil perceber que esta série tem uma forte componente de ficção indexada, tratando a transformação de uma jovem Catherine (Elle Fanning), sonhadora, fantasiosa e apaixonada, numa mulher corajosa, determinada e idealista. Essa transformação dá-se graças ao choque de realidade, brutalidade e loucura a que é exposta quando se torna na esposa de Peter III, o Imperador da Rússia (Nicolas Hoult).

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Com base no 1º e 2º episódios, temos a sensação de que o ritmo da narrativa é um pouco acelerado, sendo que o romance entre Catherine e Peter podia ter sido mais desenvolvido de forma a decompor por “etapas” a transformação ideológica de Catherine que referi acima.

No entanto, o desenvolvimento pós-mudança ideológica da Imperatriz compensa a rapidez inicial, até porque nem sempre querer é poder, e os passos não podem ser maiores do que as pernas. Esta decisão de explorar mais o pós do que o pré é o setup perfeito de McNamara para criar aquele desconforto e nervoso miudinho já familiar para quem viu The Favourite. Para além disso, pode-se constatar que o ritmo acelerado inicial não prejudica em nada a perceção da história ou o desenvolvimento das personagens (que foi explorado de forma consistente e cuidada).

Já conhecida por inúmeros papéis durante a sua infância/adolescência que lhe valeram alguns prémios, Elle Fanning (de 22 anos) pode ter aqui o papel que precisa para fazer renascer a sua carreira enquanto atriz, que estagnou de há cinco anos para cá. Os maneirismos e a sua expressão corporal trazem valor acrescentado ao seu papel de monárquica e o carisma muito próprio oferece um cariz mágico à sua performance como atriz, que mostra ter estofo para ser protagonista nesta série.

Nicolas Hoult foi extremamente bem aproveitado e tem aqui uma boa oportunidade para ganhar ainda mais espaço e nome na indústria, encarnando um Peter com um humor muito distorcido, em sobressalto, com vontade de se afirmar como Imperador, mas sem saber muito bem como. Quem viu Hoult em Skins e o vê agora pode constatar que há talento e que a evolução foi bastante positiva.

Em nota de rodapé, é interessante comparar os papéis de Skins e The Great, visto que ambos são bastante semelhantes no que toca a egocentrismo e manipulação característica da personagem, mas sua a naturalidade e à vontade são bem superiores atualmente.

Quero ressalvar ainda alguns atores secundários, visto que The Great não tem o potencial que tem graças a singularidades e a maioria do elenco assenta que nem uma luva, criando uma simbiose bastante agradável e dinâmica.

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Phoebe Fox (no papel de Marial), nunca teve um papel que a destacasse ao longo da sua carreira, mas se o desenvolvimento dela em The Great lhe continuar a dar o protagonismo que tem dado, esta pode vir a ter visibilidade que precisa para futuros trabalhos. Marial é sarcástica, tem uma boa amplitude a nível de visão geral e apesar de ter uma postura mais progressiva, não é descuidada.

Douglas Hodge e Adam Godley (na pele de Velementov e Archie respectivamente), como veteranos na representação, trazem a experiência e a maturidade ao elenco, consolidando-o.
Sacha Dhawan, veste a pele de uma personagem bastante incomum (como Count Orlov), no entanto a sua prestação é bastante refrescante.

A nível técnico, nota para toda a caracterização espacial. Grande parte da temporada foi filmada entre o Royal Palace de Caserta, em Campania (Italiá), onde também foram gravadas as cenas do Palácio de Naboo nos dois primeiros episódios de Star Wars, e Hatfield House, em Hertfordshire (Reino Unido), conhecido por The Crown ou Batman: Begins.

O guarda-roupa prima pela fidelidade à época, mas com pequenas adaptações ao dinamismo da narrativa. Ressalvar ainda os diálogos que, estando ajustados à época, são dotados de nuances e mentalidade muito atual (tanto a mais liberal como a mais conservadora/retrograda).

Nota especial para a fotografia, que consegue captar emoções, pensamentos ou sentimentos sem ser preciso as personagens os exprimirem verbalmente ou exagerar no uso da narrativa de exposição.

Terminada a temporada, conclui-se que não só este novo trabalho de McNamara é uma das melhores estreias de TV deste ano, como tem material e premissa para garantir a sustentabilidade de temporadas futuras.

Posto isto, aconselho a verem The Great (“an occasionally true story”), que podia facilmente ser chamada de The Awesome. Sem mais a acrescentar, “Huzzah!” (vão perceber isto quando virem a série).

A primeira temporada completa de The Great já está disponível na HBO Portugal.

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