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The Garfield Movie pode não ser uma obra-prima de animação ou um filme que provoque profundas reflexões, mas cumpre de forma eficaz o seu propósito de entreter com uma história genérica mas repleta de momentos divertidos.

O ano de 2024 tem sido marcado por pouca quantidade e boa qualidade em termos de ofertas de animação até à data. Desde o rico e complexo Orion and the Dark até ao divertido e comovente IF, tenho desfrutado de todas as obras animadas – híbridas ou totais – até à data. Apesar de ter crescido com o personagem mundialmente reconhecido, nunca tive uma ligação pessoal muito forte com o gato sarcástico, preguiçoso e anti-segundas-feiras que é Garfield. Dito isto, entrei para The Garfield Movie com expetativas simples de uma sessão diurna leve e divertida organizada pelo realizador Mark Dindal (Chicken Little), pelos argumentistas Paul A. Kaplan & Mark Torgove (The Late Bloomer) e David Reynolds (Finding Nemo), assim como Chris Pratt (The Super Mario Bros. Movie) e companhia no elenco de voz.

A apreciação e subsequente partilha de opiniões sobre cinema contém várias armadilhas nas quais todos os fãs da arte já caíram uma e outra vez. Muitas originam da circunstância específica de pertencer a uma minoria. Seja porque gostamos de um filme que ninguém gostou ou vice-versa, é comum assistir-se a um comportamento bastante previsível por parte de muitos espetadores da tal minoria: a tentativa de justificar porque é que os outros não viram a obra da mesma maneira. “As pessoas já não se sabem divertir”, “(não) gostaram porque não perceberam“, ou “a obra é para crianças, tomara adultos não gostarem” são apenas alguns exemplos de inúmeras frases proferidas na missão de “provar” que os outros estão “errados”.

Outra armadilha que nunca deixará de existir passa pela análise de adaptações cinematográficas de fontes originais. Sejam livros, videojogos, eventos reais ou até uma narrativa original mas baseada numa personagem icónica já conhecida (caso de The Garfield Movie), existe uma variedade gritante de rigor e critérios relacionados com o impacto que alterações à obra/personagem original têm no espetador. O espetro vai de quem lide incrivelmente mal com a mais minúscula, irrelevante mudança até aos que se sentem genuinamente indiferentes com modificações admitidamente importantes.

Porquê todo este prefácio? Porque, após assistir a The Garfield Movie e aperceber-me da receção negativa que rodeou a obra, senti vontade de cair nas tais armadilhas mencionadas acima. O problema nunca foi, nem é, nem será a diferença de opinião, mas sim a forma como esta é expressada. A maneira agressiva, incessante e até, em alguns casos, desrespeitosa com que determinados críticos abordam um filme de animação destinado a crianças e famílias, cujo objetivo único passa apenas e só por entreter com uma história admitidamente genérica, previsível e repleta de clichés, é extremamente frustrante de evidenciar.

Ainda mais quando se observa uma dificuldade em simplesmente seguir em frente e passar para a próxima obra, tal a quantidade exaustiva de vezes que a opinião negativa é repetida pelas redes sociais, como se se tratasse de um filme criminoso que passasse mensagens horríveis. É perfeitamente natural desejar uma melhor história ou aspetos técnicos mais apurados, mas existe espaço para as tais obras-primas que tanto se procura e para filmes cujo único propósito é ser precisamente aquilo que pretendem, nem mais, nem menos: um par de horas inofensivas, leves e bem-humoradas para entreter um público infantil.

E The Garfield Movie é exatamente isso. Dindal mistura eficientemente o humor sarcástico do seu protagonista com o heist central da premissa narrativa – a vida perfeita de Garfield é interrompida quando se vê na obrigação de ajudar num assalto a uma “fábrica de lactose” – não aprofundando o tema sensível sobre abandonamento familiar e consequente adoção, mas também não tentando simplificar algo bastante complexo. É uma história claramente mais focada no entretenimento infantil do que em oferecer algo também aos adultos, mas surpreendentemente, soltei mais gargalhadas sozinho do que é normal em obras deste tipo. A banda sonora de John Debney (The Passion of the Christ) destaca-se com melodias comoventes, mas também com um acompanhamento energético das sequências de ação – o uso de tracks populares de Mission: Impossible ou Top Gun são utilizadas de forma hilariante.

A animação 3D não impressiona, mas é um trabalho sólido por parte dos artistas envolvidos, tal como o elenco de voz que é competente de uma forma geral. Existe sempre um ator cujo nome me causa espanto ao ver nos créditos de obras deste estilo. Em The Garfield Movie, foi Nicholas Hoult (X-Men: First Class) e uma interpretação vocal que me deixou às aranhas a tentar decifrar quem era o ator por detrás de Jon, dono de Garfield. De resto, nota para a excelente alocação da voz grave de Ving Rhames (Pulp Fiction) a um touro e para uma performance irrepreensível de Pratt enquanto mais uma personagem icónica, desta vez, da história dos cartoons.

Em relação a Garfield, não entendo as críticas às ditas “mudanças” na sua personalidade, visto que as caraterísticas que sempre marcaram o felino se mantêm intactas até ao fim do filme. Mantém-se um amante de pizza, lasanha, queijo e tudo o que envolve massa – ou comida no geral, sinceramente. Continua a usar ironia e sarcasmo para lidar com qualquer situação do dia-a-dia. Mesmo fisicamente, permanece o gato laranja adoravelmente rechonchudo. The Garfield Movie nem lhe oferece um arco de auto-descoberta onde ele muda completamente quem é, focando-se apenas em reunir o protagonista com o seu pai e deixar que a aventura juntos os reaproxime naturalmente.

Não é um filme da Pixar para nos deixar a contemplar a vida durante meses a fio. Não é uma obra de animação visualmente épica ou inesquecível. Mas é um filme que recomendo a todas as famílias com crianças desejosas de se rirem e entreterem por pouco mais de hora e meia numa sala de cinema com pipocas, gomas e outros doces à mistura.

VEREDITO

The Garfield Movie pode não ser uma obra-prima de animação ou um filme que provoque profundas reflexões, mas cumpre de forma eficaz o seu propósito de entreter com uma história genérica mas repleta de momentos divertidos. Com o humor sarcástico clássico do gato protagonista, um enredo leve e momentos de ação bem orquestrados, é uma escolha ideal para famílias que procurem uma experiência agradável com umas boas gargalhadas. Serve de lembrete de que, por vezes, um filme pode ser apreciado apenas e só pelo que sempre quis ser – uma forma de entretenimento simples e despretensiosa, perfeita para uma sessão ao lado dos mais pequenos.

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