Crítica – Orion and the Dark

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Orion and the Dark mantém a essência e mensagens do conto original sobre a compreensão e aceitação dos nossos medos como algo que nos carateriza enquanto seres humanos.

Cresci com inúmeros contos infantis, mas curiosamente, Orion and the Dark, de Emma Yarlett, ou nunca foi das histórias mais populares no meu país de origem ou simplesmente passou ao lado dos meus pais. À entrada para a adaptação do realizador Sean Charmatz (estreia em longas-metragens) e do argumentista Charlie Kaufman – razão principal das minhas expetativas elevadas devido a obras inesquecíveis como Being John Malkovich, Eternal Sunshine of the Spotless Mind e até I’m Thinking of Ending Things – não tinha ainda lido o livro original, pelo que me encontrava de mente totalmente aberta para qualquer mudança narrativa.

Dito isto, li o conto de Yarlett após a visualização do filme e, em retrospetiva, era previsível que a adaptação cinematográfica adicionasse mais elementos à história original bastante curta e simples. Afinal de contas, é um livro infantil onde, para além de ter tantas ou mais imagens que texto, os desenhos sobressaem mais que as letras. Adaptações são isso mesmo: transições de histórias do seu meio original para outro distinto com inevitáveis ajustes, sejam estes criações de novas personagens, pontos de enredo diferentes ou simplesmente pormenores visuais. O importante é manter a essência e mensagens originais, algo que Orion and the Dark cumpre na perfeição.

Tanto o livro como o filme contam a história de Orion (Jacob Tremblay), um adolescente completamente consumido por inúmeros medos irracionais como abelhas, cães, alturas, palhaços assassinos, falar com uma rapariga de quem gosta e, principalmente, do escuro. Uma noite, a manifestação física do escuro, Dark (Paul Walter Houser), aparece-lhe no quarto e leva Orion numa aventura de auto-descoberta, onde aprende a enfrentar os seus medos e, acima de tudo, a compreender os mesmos, aprendendo a viver com esses receios em vez de fugir ou ignorá-los.

Orion and the Dark é, naturalmente, uma história com mensagens importantes para o seu público-alvo jovem, mas desengane-se quem pense que transmite exclusivamente a lição genérica de “devemos confrontar os nossos medos”. Kaufman acrescenta complexidade e profundidade a uma narrativa outrora simplificada, incluindo uma perspetiva interessante sobre como o medo deve ser aceite e visto como algo parte da nossa personalidade contrariamente à ideia de que é algo externo, inexplicável e incontrolável.

Pessoalmente, esta mensagem em particular encaixa na perfeição nas viagens de avião. Independentemente do passageiro, o “receiozinho” está sempre presente, mesmo que seja apenas no subconsciente ligeiramente mais nervoso que o habitual. Mesmo assim, uma pessoa entra no avião, faz a viagem com mais ou menos pequenos sustos e acaba sempre por chegar ao seu destino. O resto da vida é igual: com muitos ou poucos medos e receios, acordamos de manhã, vamos para o nosso trabalho ou escola, lidamos com maior ou menor turbulência diária e, no fim, aterramos sempre onde é suposto.

Kaufman torna a sua narrativa mais rica tematicamente com a adição de novas personagens que complementam o escuro e caraterizam a noite, tais como Sweet Dreams (Angela Bassett), Sleep (Natasia Demetriou) ou Insomnia (Nat Faxon) – todos oferecem uma camada de humor à obra. Orion and the Dark é marcado pela sua animação simples mas bonita e, por mais estranho que possa soar, acolhedora. Há algo especial na mistura das personagens 3D e dos desenhos de fundo 2D que torna o filme numa daquelas visualizações caseiras extremamente confortáveis de se assistir num sofá com dezenas de cobertores.

No entanto, a criatividade de Kaufman estende-se em demasia à estrutura narrativa, levando a uma complexidade desnecessária que dificilmente não necessitará da explicação de adultos aos espetadores mais infantis. Orion and the Dark possui uma conclusão que, apesar de ter o seu sentido no contexto da obra, torna-se confusa e levanta questões irrelevantes totalmente desligadas do tema principal. Sinceramente, não sei o quão fácil será para pais explicarem o final de forma simples o suficiente para os filhos entenderem…

Tecnicamente, a banda sonora de Kevin Lax (The First Purge) e Robert Lydecker (Iron Fist) merece elogios, complementando a atmosfera contemplativa de Orion and the Dark, assim como a qualidade de animação acima mencionada. Ninguém se destaca propriamente do elenco de voz, sendo que todos entregam papéis convincentes. Uma estreia de louvar por parte de Charmatz… que prossiga com uma carreira de sucesso!

VEREDITO

Orion and the Dark mantém a essência e mensagens do conto original sobre a compreensão e aceitação dos nossos medos como algo que nos carateriza enquanto seres humanos. Charlie Kaufman expande a história com complexidades narrativas que, tirando detalhes estruturais desnecessariamente confusos, enriquecem tematicamente a obra geral. A mistura de animação 2D e 3D torna a experiência visual cativante e acolhedora, acompanhada de uma banda sonora igualmente bonita e performances vocais competentes. Recomendação fácil para famílias e crianças pelo mundo fora.

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