Crítica – The Expanse (Sexta Temporada)

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As opiniões poderão variar, mas desengane-se quem está à espera de uma nova temporada de The Expanse tão brilhante como as anteriores. Mesmo assim, vale a pena regressar ao espaço com esta sexta ronda, que continua a superar a má ficção científica de outras produções.

Texto por: Graça Pacheco

Talvez fosse difícil fazer melhor, mas depois do entusiasmo e reconhecimento que as cinco temporadas da série The Expanse conquistaram junto dos fãs de ficção científica, superando as já habitualmente diminuídas expetativas em relação a este tipo de produções, era natural que ficássemos à espera de algo mais. De facto, o mínimo que se pode dizer desta sexta e última temporada, com estreia prevista a 10 de dezembro no streaming da Amazon Prime, é que ficou um pouco aquém do impacto criado pelas temporadas anteriores e que deveria ter ido um pouco mais longe. Embora a qualidade geral dos ingredientes tenha sido assegurada (coerência do argumento, efeitos especiais, desempenho dos atores – dos quais não tenhamos dúvidas em destacar Cara Gee – e a banda sonora), a série, desta vez, surpreende pela negativa com a excessiva linearidade do enredo face à intriga dinâmica e cheia de reveses a que estávamos habituados.

Apesar disso, com um ritmo suficientemente interessante, mas não propriamente empolgante, esta temporada baseada no sexto livro da saga de James S. A. Corey, Babylon’s Ashes, vive de intensidade dramática quanto-baste (mais uma vez focada no drama psicológico das personagens principais) e de uma suficiente coesão narrativa, salientando novamente a aposta nos efeitos especiais prolíficos com fulcro em cenas de outerspace e, particularmente, de um novo e exótico cenário proporcionado pela colonização humana de Lacónia, planeta de um dos Anéis, onde proliferam uma fauna luxuriante e animais de novas espécies. De sublinhar que esta componente da história, apesar de lamentavelmente também ficar um tanto aquém do esperado, chega até a adquirir um certo thrill.

The Expanse

O que também não deixa de ser um pouco dececionante é um certo esvaziamento das personagens que outrora nos surpreenderam pela capacidade de serem despojadas de pretensões morais ou ideologias de algibeira. Trata-se de um facto que salta à vista: os caracteres principais ficaram mais mornos e humanizados, como que cristalizados pela falta de novo fôlego. Amos afirma a certa altura: “A guerra é um mau lugar para um bom homem (James Holden)”, ao que Clarissa Mao responde: “A guerra é um mau lugar para qualquer um”. No seguimento destes lugares-comuns e na sombra do seu anterior brilho, Chrisjen Avasarala perde também algum fulgor (mas sem deixar de parte um luxuoso, magnificente guarda-roupa), assumindo-se como representante de uma velha civilização terrena enfraquecida por uma conjuntura desequilibrada.

Há, no entanto, a registar a entrada de novos atores que valeram a pena, como é o caso de Hathleen Robertson, que desempenha o papel da ambiciosa imediato da Pellas, Rosenfeld Guoliang, que nos surpreende pelo seu hábil discernimento e excecional influência junto de Inaros.

Ainda que não muito ajudado por um diálogo aqui e além um tanto frouxo, o elenco consegue dar alma e brilho às cenas o suficiente para nos sentirmos envolvidos numa história que, de certo modo, caracteriza bem a natureza belicosa e frágil de uma humanidade bem real, amargurada e dividida entre discórdias. James Holden (Steven Strait) e Naomi Nagata (Dominique Tipper) dão o seu melhor na tentativa de recuperarem o equilíbrio depois de Naomi ter fracassado a sua tentativa de resgatar o filho, Filip Inaros (Jasai Owens), das mãos do mal. Amos Burton (Wes Chatam) e Roberta Drapper (Frankie Adams), figuras musculadas mas cheias de intensidade psicológica nas temporadas anteriores, assumem agora uma função instrumental num enredo que tem de seguir por um caminho óbvio – a destruição de Inaros e da «Free Navy». Clarissa Melpomene Mao (Nadine Nicole) reveste-se por sua vez de uma aura carinhosa, até, humanizada pelo remorso e pela consciência do passado.

The Expanse

Não é de estranhar, portanto, que uma certa perspetiva ética possa ter estado na ideia dos produtores, ao ponto de resgatarem algumas destas personagens do seu invólucro duro e inflexível para uma visão e capacidade de tomarem a atitude “certa”. À procura de uma redenção que faça sentido na sociedade humana de hoje? Talvez, mas em seis episódios apenas, tudo acaba por se aligeirar e passar demasiado depressa, em direção a um desfecho que se nos afigura um tanto fácil e até precipitado.

Já em relação ao jogo político, aí a história é outra. Nesse aspeto, The Expanse manteve-se fiel ao seu original desígnio de um grande realismo proporcionado pela dose certa de humanidade e imprevisibilidade das personagens e das suas ações, a que se junta um final de narrativa aberta, inesperado e incerto para alguns dos heróis.

De resto, haveria muito mais a explorar com base no argumento desta temporada. Por exemplo, não podemos deixar de nos interrogar se a ação em Lacónia não poderia ter sido mais desenvolvida e intercalada com outros planos da história, ou qual a finalidade dos elementos alienígenas, tornados numa mera ameaça subliminar… Estas, entre outras, são aliás boas razões para perguntarmos: estará de facto uma sétima temporada fora de questão?

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