The End We Start From marca a estreia de Mahalia Belo como uma cineasta a seguir de perto para os próximos anos, apesar da história não ser suficientemente imaginativa e impactante.
O BFI London Film Festival encontra-se perto da meta final, pelo que é costume os últimos dias conterem um calendário mais curto, mas ainda interessante. Sejam obras altamente antecipadas ou oportunidades concedidas a cineastas britânicos, existe sempre algo que continua a puxar por espetadores à entrada para o último fim‑de‑semana. The End We Start From encaixa no último grupo, sendo a primeira longa-metragem da realizadora Mahalia Belo que confia em Alice Birch (The Wonder) para adaptar o livro de título idêntico de Megan Hunter, assim como num elenco bem composto liderado pela estrela em ascensão, Jodie Comer (The Last Duel).
A premissa centra-se numa crise climática que gera inúmeras inundações em Londres e seus arredores, provocando um ambiente quasi-apocalíptico no qual uma mãe e respetivo recém-nascido tentam sobreviver. Com base nesta pequena introdução, é relativamente fácil de prever o caminho que The End We Start From irá percorrer, com mais ou menos semelhanças a outras obras do mesmo género, incluindo os temas sobre natureza, “pegada humana” e maternidade. A verdade é que o elenco é o elemento mais chamativo que convencerá a maioria do público a eventualmente aparecer nas salas de cinema.
Enquanto estreia de Belo no cargo máximo de um projeto cinematográfico, The End We Start From cumpre com o propósito de convencer os espetadores sobre o talento da cineasta. É difícil apontar algo de extremamente original – tal como na vasta maioria dos filmes lançados hoje em dia -, mas os visuais meditativos e contemplativos recheados de simbolismo maternal sobressaem de forma clara. Não creio que a obra possua um público-alvo estritamente feminino, mas mulheres e principalmente mães irão sentir uma conexão emocional e pessoal muito mais pesada com as cenas supostamente mais poderosas do filme.
Belo cria várias sequências com níveis de ansiedade e tensão elevados, nunca deixando de lado o foco temático, mesmo quando The End We Start From navega por fases mais violentas e traumáticas. A cinematografia de Suzie Lavelle (Normal People) destaca-se dos restantes aspetos técnicos, envolvendo a narrativa num ambiente desolado e sem cor correlacionado com os tais tópicos abordados cuidadosamente pelo texto de Birch. A banda sonora de Anna Meredith (Eighth Grade) cumpre com a atmosfera visual da obra, mas creio que devia ter tido maior presença nos momentos mais emotivos.
The End We Start From explora mais a componente espiritual ligada à maternidade, mas fica-se por uma superfície algo desapontante em relação às mensagens ambientalistas. A crise climática serve sempre mais como um dispositivo de enredo de fundo do que um assunto igualmente importante a ser estudado e levado a sério. Não existem diálogos entre as personagens relativos ao que as colocou na situação respetiva e, tirando o facto da poluição ter uma presença significativa na decoração dos locais, é apenas através de notícias na rádio ou televisão que vão surgindo novidades sem impacto narrativo nem temático sobre o que se passa um pouco pelo país.
O sentimento de se estar a assistir a algo visto em outros tantos filmes torna o ritmo lento ainda mais pesado e o terceiro ato peca por falta de um “murro no estômago” ou algum ponto de enredo mais assoberbante. The End We Start From depende muito do seu elenco para manter o interesse dos espetadores e, nesta área, não há qualquer nota negativa para dar. Comer continua a sua onda de prestações extraordinariamente cativantes, lidando com as sequências mais tensas sem grande esforço. Tem a companhia fantástica de Katherine Waterston (Babylon) que surge na altura ideal e traz uma camada de humor surpreendente e efetivo para um mundo tão negro e deprimente. Já Benedict Cumberbatch (The Power of the Dog) e Mark Strong (Tár) possuem pouco tempo de ecrã, mas como sempre, aproveitam cada segundo para demonstrar o porquê de serem atores tão cobiçados.
VEREDITO
The End We Start From marca a estreia de Mahalia Belo como uma cineasta a seguir de perto para os próximos anos, apesar da história não ser suficientemente imaginativa e impactante. Com sentido temático substancial, o simbolismo maternal é retratado através da visão contemplativa de Belo, assim como da cinematografia atmosférica de Susie Lavelle. No entanto, cabe a Jodie Comer e Katherine Waterston carregar a obra aos ombros que, infelizmente, peca por falta de exploração da crise climática que utiliza mais como trigger narrativo. Uma conclusão mais memorável podia ter feito a diferença…