Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings acabou de se tornar num dos meus favoritos absolutos de toda a MCU! Destin Daniel Cretton entrega um filme repleto de tremendo entretenimento com provavelmente a melhor ação alguma vez vista neste universo cinemático.
Sinopse: “Shang-Chi (Simu Liu) é obrigado a confrontar um passado que julgava ter deixado para trás quando é atraído pela teia da misteriosa organização conhecida como os Ten Rings.”
Em Portugal, Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings não parece ter recebido uma grande quantidade de publicidade, algo surpreendente, no mínimo, tendo em conta que se está a falar de um filme da Marvel. Sem qualquer esforço para evitar trailers ou clips curtos, entrei no cinema tão cego como podia. Não tinha conhecimento sobre a história e as suas personagens das bandas desenhadas, logo foi uma experiência pouco comum para mim em relação a conteúdo da MCU. Apesar de praticamente não ter expectativas, Destin Daniel Cretton (Just Mercy) deixou-me arrebatado com um dos meus filmes favoritos de todo o Universo Cinemático da Marvel!
Os fãs guiados apenas por ação adoram esta saga da Marvel não por causa das suas histórias ou heróis, mas sim devido à sua fórmula de sucesso que frequentemente contém um terceiro ato pesado em ação que ajuda a terminar aquele balde de pipocas gigante. Quanto mais ação o filme tiver, mais estes espetadores sairão satisfeitos, independentemente do argumento genérico, do vilão cliché ou dos pontos de enredo repetitivos. Felizmente, este filme agrada a todos os fãs com provavelmente a melhor ação da MCU, isto sem prejudicar o arco do seu protagonista nem a impressionante construção do mundo em redor desta história.
Em primeiro lugar, é impossível não abordar o trabalho de coreografia digno de vários prémios. Esta obra é dedicada a Brad Allan, supervisor/coordenador de lutas, que infelizmente faleceu no mês passado. O trabalho que deixou para trás é simplesmente de fazer cair o queixo. Com uma equipa de atletas fenomenal, Shang-Chi oferece sequências de luta memoráveis, todas filmadas através de cenas inacreditavelmente longas, coreografias de artes marciais incrivelmente rápidas e uso mínimo de CGI. Com toda a honestidade, esta pode muito bem ser a melhor ação (não-CGI) vista na MCU até agora. Para fãs de Dragon Ball, dá-nos esperança de que um bom filme live-action seja realmente possível.
As sequências noturnas são tão fascinantes quanto as cenas em plena luz do dia, o que mostra o cuidado que William Pope e Cretton tiveram em tornar as sequências de ação mais escuras fáceis de se seguirem. É realmente difícil recordar-me de uma única sequência de luta editada abruptamente ou CGI excessivo arruinar um momento em particular. Todos os efeitos especiais são de topo, demonstrando que os grandes estúdios estão a ficar cada vez melhores na produção de blockbusters visualmente deslumbrantes.
Tecnicamente, não posso deixar de mostrar ainda mais apreço pela cinematografia de Pope. Em termos de ação, é tão perfeita como podia ser, mas mesmo fora de situações de combate, são vários os planos largos de tirar o fôlego que me deixaram admirado. Cretton inspira-se nos filmes energéticos de Jackie Chan e a experiência de Pope em The Matrix encaixa-se no mundo de Shang-Chi que nem uma luva. A banda sonora de Joel P. West acompanha lindamente todo o filme, elevando as peças de ação com música de fundo épica. O poderoso trabalho sonoro deste filme é fortemente sentido numa sessão IMAX.
Os argumentistas Dave Callaham (Mortal Kombat), Cretton e Andrew Lanham (The Kid) exploram profundamente quase todos os elementos de narrativa que trazem para a mesa. Da lenda dos Ten Rings à vila de Ta Lo e a sua cultura, passando pelas dezenas de mitos, contos, criaturas e profecias, Shang-Chi carrega mais passado para a sua narrativa principal do que qualquer outro filme do MCU. Embora seja tudo muito interessante, existe uma dependência excessiva e desnecessária de narração, retrospetivas e premonições. Com tanto para explicar aos espetadores, a vasta exposição carrega um peso cansativo.
Narração e retrospetivas tomam conta do leme por diversas vezes em todos os atos. No início funciona surpreendentemente bem: introduzindo um antagonista emocionalmente convincente, Xu Wenwu (Tony Leung), a Marvel continua a dar-nos vilões bem desenvolvidos com motivações compreensíveis. Amor e luto têm sido dois dos temas mais significativos e recorrentes da Quarta Fase da Marvel, por isso, não é de admirar que Shang-Chi os aborde através do seu “vilão”. Leung (Hero) oferece uma prestação brilhante, equilibrando perfeitamente a figura paterna amorosa com o assassino furioso e vingativo.
No entanto, a interminável narração e visitas ao passado de cada personagem mostram-se gradualmente ineficientes. A premonição contínua de todos os componentes de enredo também não abre espaço para surpresas – nem tudo precisa de receber pistas prévias. Além disso, a primeira metade do filme é definitivamente repleta de ação, com várias sequências separadas por curtos períodos de tempo, oferecendo uma hora de entretenimento puro. Já a segunda parte leva demasiado tempo para chegar a outra cena de ação, algo que tendo em mente as questões levantadas atrás, dá a sensação da espera ser mais longa do que realmente é.
Saltando para os atores principais, Simu Liu (Women is Losers) e Awkwafina (Raya and the Last Dragon) formam uma excelente dupla como Shang-Chi e Katy, respetivamente. A atriz é a principal fonte daquele humor da Marvel que, desta vez, não ofusca momentos dramáticos, muito devido à capacidade de Awkwafina em navegar perfeitamente aquela linha entre comédia e drama. Liu tem o seu grande papel de destaque, entregando uma interpretação convincente do novo super-herói que todos os fã vão adorar ver a lutar – elogios extras ao ator por fazer a maioria das suas acrobacias.
Também adoro o facto da relação entre estas duas personagens não seguir o caminho mais cliché. O arco partilhado sobre objetivos de vida e responsabilidade é jogado mais como uma piada ao longo do filme, mas os problemas de identidade que Shang-Chi atravessa são, sem dúvida, o arco principal do filme e que facilmente se relaciona com asiáticos-americanos. Honestamente, não encontro razões para este filme ser menos importante para a comunidade asiática do que Black Panther é para a comunidade negra. Na verdade, devo elogiar o compromisso com a língua asiática, que tem mais tempo de ecrã do que qualquer outra língua não-inglesa num filme da Marvel.
Shang-Chi quebra tantos estereótipos sobre a cultura asiática e a sua comunidade que até espetadores não-asiáticos serão capazes de os reconhecer como preconceitos ridículos. Um, em particular, vai-se destacar, pois é provavelmente o mais comum. Não consigo imaginar os fãs asiáticos da MCU não se sentirem orgulhosos de (finalmente) ter um super-herói asiático digno no grande ecrã para milhões testemunharem. Pode seguir algumas das fórmulas de contar histórias da Marvel, mas Cretton definitivamente tenta entregar algo diferente e acredito que o consegue.
Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings acabou de se tornar num dos meus favoritos absolutos de toda a MCU! Destin Daniel Cretton entrega um filme repleto de tremendo entretenimento com provavelmente a melhor ação alguma vez vista no universo cinemático. Através da excecional mistura de takes longos, coreografias de luta impressionantes e um trabalho de coreografias de fazer cair o queixo, Simu Liu brilha com as suas habilidades de artes marciais, mas também na abordagem aos problemas de identidade do protagonista.
A Marvel ganha mais um antagonista emocionalmente convincente, bem como uma personagem feminina relacionável que incorpora muitos elementos da cultura asiático-americana. Apesar da dependência excessiva de dispositivos de exposição desnecessários e excessivos (narração, retrospetivas, premonições), a história de fundo de todos os contos e lendas nunca perde o interesse.
Desde a quebra de estereótipos a uma representação notável da sua cultura, a maioria dos espetadores asiáticos certamente vai adorar este filme, bem mais do que eu. A Quarta Fase cinemática da Marvel começa bem…