Crítica – Hierro (Primeiros Dois Episódios)

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Hierro entretém e cumpre o seu papel.

hierro

As séries espanholas já são quase tão populares em Portugal como as americanas. As plataformas de streaming, com destaque para a Netflix, fizeram chegar a Portugal e ao resto do mundo séries de qualidade, como é o case La Casa de Papel. Agora, o jogo virou e é o cabo que aposta nestas produções. O AMC traz-nos hoje a estreia de Hierro.

Um cadáver com sinais de ter sido brutalmente assassinado é retirado do mar, ao largo da ilha vulcânica, El Hierro. Diaz, um empresário local com um passado obscuro, é detido como principal suspeito. Candela, uma juíza enérgica e temperamental, que foi sancionada e exilada para El Hierro, toma a sua primeira decisão controversa: libertar Diaz sob fiança. Esta escolha muito impopular desencadeia a desconfiança dos habitantes da ilha. É esta a permissa de Hierro.

O episódio piloto começa bem e ambienta-nos de uma maneira abreviada às principais personagens desta série espanhola, mas o formato não é propriamente inovador. Nos primeiros 15 minutos percebemos que Fran está morto algures no mar e que Diaz, o pai da noiva, pode não ser tão inocente quanto parece… ou pelo menos estará envolvido nesta morte.

Um aspeto interessante foi, sem dúvida, as parecenças com Auga Seca, uma co-produção luso-galega, que já está disponível na HBO Portugal. Temos uma morte que vai ser o mote de todos os episódios e que vai interligar todas as personagens. Não sabemos bem de que maneira e nem como é que isso vai acontecer, mas, sabemos que nem tudo vai ser como parece.

As imagens da ilha

No meio do mistério estão alguns dos planos de corte mais bonitos que vi recentemente. Uma ilha é sempre um local magnífico, mas El Hierro tem algo que a diferencia.

Aliás, a ilha de El Hierro não é das mais conhecidas. Situada no arquipélago das Canárias, podemos ver algumas das paisagens mais variadas desta região espanhola. Ao contrário de Ibiza, demonstrada em White Lines, El Hierro é uma espécie de “aldeia” onde todos se conhecem. E isso tem os seus problemas, como é óbvio.

Hierro

O aspeto visual é um dos mais importantes para o realizador. As imagens utilizadas em cenas de corte estão sempre ligadas à cena anterior e à próxima, quer seja os planos picados ou mesmo a vista da ilha por drone. Este é um pormenor que pode passar despercebido aos espetadores, mas que é, sem dúvida, interessante.

A imagem marca o tom das cenas e foi tudo muito bem jogado pelo realizador que faz com que o espetador acompanhe o ritmo do episódio de acordo com as tonalidades das imagens e diferentes perspetivas.

A personagem principal não convence

Acho cada vez mais importante as séries refletirem a diversidade na sociedade e igualdade de género, pelo que gosto sempre que uma série tenha uma personagem principal feminina. Fora das questões de género, acho que as mulheres como personagens principais costumam ser mais profundas e com mais dimensões por explorar do que propriamente os homens.

Candela Montes é uma juíza que chega a esta pequena ilha espanhola, mas a personagem não me convence. Ainda que apenas os dois episódios a que tive acesso possam ser um pouco injustos para dar uma sentença sobre a personagem, não fiquei convencido.

Hierro

Montes é perspicaz, atrevida, mas falta ali qualquer coisa. Não odiei a personagem. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, já dizia a minha avó. Ainda assim, fiquei com a sensação que poderia, e espero que o seja nos próximos episódios, ser explorado o seu passado. Como é que ela foi parar a El Hierro ou mesmo descobrir pouco do seu percurso, bom, só mesmo vendo os próximos episódios.

Depois de Raquel Murillo ou Lisboa em La Casa de Papel, ainda não encontrei uma personagem feminina tão interessante ou diferente. Apesar das diferenças de posição (inspetora vs. juíza), são duas mulheres com poder. Montes fica muito longe.

O negócio oculto de Diaz é o mais interessante

Tal como Auga Seca, aqui temos uma família rica e importante da ilha. Ao contrário de Vigo, aqui a dimensão é mais reduzida, como era de esperar. O casamento de Diaz com a sua mulher é para as aparências e serve apenas para manter a fachada de um casamento feliz. Aliás, prova disso é mesmo quando Diaz é detido e a sua mulher, que sabe que este passou a noite fora, não lhe confirma o álibi. Bela relação, não?

Mas é no negócio oculto de Diaz que está a linha de ação mais interessante. Sabemos muito pouco ou quase nada. A morte de Fran está, sem dúvida, relacionado com este negócio. Os dois primeiros episódios foram a entrada para este prato que creio que vá ser o principal. Espero que a comida saiba tão bem como o aspeto da sua imagem.

Hierro foi considerada por muitos críticos uma das melhores séries do ano em Espanha, mas vou esperar para ver o resto dos episódios para formular uma opinião final. Quero ver se conseguem aprofundar a personagem principal e, também, entender um pouco melhor o negócio oculto que estará certamente relacionado com a morte de Fran.

Em suma, Hierro entretém e cumpre o seu papel. Se é a melhor série espanhola de 2020? Tenho algumas dúvidas. É caso para esperar e para ver.

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