Crítica – Pinocchio

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Pinocchio tem um final tematicamente mais impactante comparativamente ao original, mas falha em entregar uma nova versão do famoso conto de infância com a mesma magia e fascínio do passado.

Tendo em conta a tendência dos últimos anos, Hollywood aparenta ter vontade de fortalecer o fenómeno de “filmes gémeos” – obras sobre a mesma história produzidas e lançadas num curto espaço de tempo por estúdios diferentes. Os exemplos são vastos e uma pesquisa rápida pelo termo surpreenderá quem acredita que tal evento só ocorre raramente. De facto, dentro deste conceito, é incomum dois filmes sobre precisamente a mesma narrativa e protagonista serem lançados no mesmo ano. É o caso de Pinocchio, que recebe uma versão de animação de Guillermo del Toro – marcada para fins de novembro – e uma interpretação live-action de Robert Zemeckis, sendo que esta última não impressiona… de todo.

Pessoalmente, Pinocchio (1940) nunca foi propriamente uma obra de animação do catálogo da Disney da qual possua enorme nostalgia, especialmente em comparação com todas as outras histórias que marcaram a minha infância. Isto para esclarecer que não revejo o original desde criança, logo até tinha algumas expetativas para uma nova perspetiva sobre um conto do qual não me recordava assim tão bem. Ao contrário de alguns espetadores e críticos pelo mundo fora, não tenho absolutamente nada contra os remakes live-action que a Disney tem vindo a fazer. Aliás, considero alguns superiores aos originais, por isso, o interesse pessoal era mais do que suficiente para desfrutar de mais um.

No entanto, o argumento de Zemeckis e Chris Weitz peca por alguma falta de criatividade e exploração das personagens, tanto das conhecidas como das novas. Tom Hanks consegue incorporar a personalidade carinhosa, protetora e divertida de Geppetto, mas Pinocchio faz questão de levantar questões intrigantes do seu passado sem nunca oferecer uma resposta mais concreta à audiência mais jovem – é necessário não esquecer o público-alvo deste filme. Cynthia Erivo (The Blue Fairy) e Luke Evans (The Coachman) aproveitam o seu curto tempo de ecrã para demonstrar os seus dotes musicais, ao passo que Giuseppe Battiston parece desfrutar da maluquice do seu papel enquanto Stromboli.

Infelizmente, são praticamente todos tratados como meros cameos. Aqueles com mais tempo para brilhar, acabam mal aproveitados, tal como Kyanne Lamaya, que interpreta a nova personagem, Fabiana, assim como a sua marioneta, Sabina. A atriz entrega uma prestação muito cativante e igualmente dotada de um talento musical que poderá oferecer-lhe uma boa carreira. Pena que a sua personagem seja extremamente subdesenvolvida, usada como uma mera “circunstância” feliz para ajudar o protagonista em apuros. Em relação às performances vocais, são muitos os destaques positivos, sendo que apenas Benjamin Evan Ainsworth fica aquém da importância do papel principal – inexperiência do jovem ator é demasiado percetível.

pinoquio echo boomer 2

É difícil escolher entre Joseph Gordon-Levitt (Jiminy Cricket) e Keegan-Michael Key (Honest John) como a melhor prestação de voz, pois ambos dedicam-se de forma impressionante aos seus personagens. O primeiro quase que fica irreconhecível com a sua mudança de tom e sotaque, enquanto que Key usa toda a sua dinâmica unicamente efusiva para chamar – e bem – a atenção dos espetadores. Os números musicais são lufadas de ar fresco necessárias para criar algum entusiasmo, pois a narrativa não foge muito ao que o público já conhece do filme de 1940. Passados mais de 80 anos desde o original, a magia e fascínio não conseguem ter os mesmos níveis, em parte devido à inconsistência da mistura dos elementos de animação com os fundos reais.

Pinocchio é o elemento CGI mais bem conseguido, sendo uma réplica live-action perfeita da sua versão animada, tal como Honest John. No entanto, Zemeckis coloca as personagens a interagir não só com humanos, mas frequentemente em locais verdadeiros, criando aquela sensação “uncanny valley” onde algo nunca parece propriamente correto. Desde humanos a pegarem em Pinocchio até às sombras destas personagens animadas, os efeitos visuais nunca alcançam um patamar totalmente convincente. Em adição a tudo isto, alguns designs deixam tremendamente a desejar, nomeadamente Jiminy Cricket e o gato Figaro – de longe, o pior elemento animado da obra.

Das poucas alterações ao enredo original, o final é, sem dúvida, a maior mudança de todas. Não contradizendo a falta de imaginação geral do argumento, a verdade é que o fim assenta muito melhor nos dias de hoje, passando uma mensagem ainda mais significante e tematicamente profunda, mantendo o respeito e a admiração pela essência da história do século passado. Sinceramente, Pinocchio é um daqueles casos do qual tenho imensas dúvidas sobre como será recebido. Por um lado, faz o suficiente para entreter o público em que se foca. Por outro lado, não creio que tenha algo de valor inestimável em comparação com o original, pelo que a melhor opção será voltar a 1940 – pelo menos, até sair a versão de del Toro.

Pinocchio tem um final tematicamente mais impactante comparativamente ao original, mas falha em entregar uma nova versão do famoso conto de infância com a mesma magia e fascínio do passado. Tom Hanks e a maioria do elenco de voz incorporam o espírito da obra de 1940 na perfeição, mas as personagens pecam por falta de maior desenvolvimento e alterações imaginativas. A mistura da animação e componentes CGI com humanos e sets reais está longe de atingir níveis convincentes, criando uma sensação estranha durante todo o tempo de execução. Os dotes musicais do elenco e as músicas memoráveis ajudam a manter o interesse, mas, no geral, é uma nova versão algo desapontante.

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