Crítica – Passing (Sundance 2021)

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Passing contém duas prestações soberbas de Tessa Thompson e Ruth Negga, mas Rebecca Hall necessita de aprender que “menos é mais”.

Passing
Foto de: Sundance Institute | Edu Grau

Sinopse: “Irene Redfield (Tessa Thompson), uma mulher refinada, de classe alta dos anos 1920, encontra um refúgio refrescante num dia quente de verão na grande sala de chá do Drayton Hotel de New York City. Do outro lado da sala, vê uma mulher loira a olhar para ela. Irene planeia um roubo, mas antes que consiga, Clare Kendry (Ruth Negga) corre para impedi-la. Acontece que ambas andaram no ensino médio juntas e, como ambas são mulheres afro-americanas que podem “passar” como brancas, escolheram viver em lados opostos da linha de cores. Agora, a sua relação renovada ameaça as suas vidas.”

Filmes a preto e branco são algo que vou guardar para sempre dentro do meu coração, mas quando essas duas cores se tornam parte da narrativa em si, então só posso esperar um grande filme. Passing aborda o medo de ser uma pessoa de cor devido a razões óbvias do período do filme, mas o que interessa é que o faz de uma maneira necessariamente perturbadora e emocional.

Tessa Thompson (Irene) joga no lado da “cor”, enquanto Ruth Negga (Clare) desfruta dos privilégios de passar como os demais. É uma história cativante que se vai desenrolando à medida que Irene e Clare vão sentindo inveja uma da outra. Se a primeira deseja a felicidade (externa) desta última, Clare sente-se pessimamente por não possuir os mesmos princípios e valores morais que Irene.

Embora sinta muito mais empatia pelo orgulho de Irene em ser uma pessoa de cor, também não posso culpar Clare por ter uma vida melhor sem toda a discriminação associada. Ambas têm os seus próprios problemas pessoais, mas, à medida que a amizade se torna maior e mais significativa, essas questões também se expandem, tornando-se seriamente dolorosas, especialmente para o caráter de Tessa.

A narrativa perde um pouco de força quando começa a concentrar-se nos ciúmes entre mulheres ao invés da questão interracial. Já a passagem do tempo parece, ocasionalmente, muito abrupta e ligeiramente confusa. Finalmente, o final não faz jus ao tema central e ao título do filme, quase esquecendo por completo o que deveria comunicar ao público.

No entanto, ainda é um filme maravilhoso com um propósito significativo de contar histórias. Como esperado, Tessa e Ruth entregam performances brilhantes, partilhando uma química encantadora, dinâmica e até apaixonada, mas André Holland, Alexander Skarsgård e o sempre notável Bill Camp também provam seu valor.

Sendo este Passing a preto e branco, acaba por transmitir uma bela mensagem sobre a falta de importância da cor de alguém (todos parecem iguais a preto e branco) e o valor significativo da moral e dos princípios que realmente definem uma pessoa. Nesta sua estreia enquanto realizadora, Rebecca Hall mostra talento, sem dúvida, mas precisará de perceber que “menos é mais”. Linda e elegante cinematografia de Edu Grau.

Passing é uma estreia sólida da argumentista-realizadora Rebecca Hall, mas tem que aprender a concentrar-se em somente um tema central. Caso contrário, um filme tão bem filmado, com prestações marcantes, acaba por perder a sua mensagem preciosa no meio de tantas “aventuras” românticas irrelevantes e superficiais.

Tessa Thompson e Ruth Negga carregam o enredo para a frente com charme e elegância, tal como todos os outros membros do elenco, mas estas partilham uma química tão palpável que sinto que o ritmo lento até é bastante adequado. Enquanto o plot principal gira em torno do debate “passar por uma pessoa branca”, senti-me constantemente cativado pela narrativa e as suas personagens principais em lados opostos.

No entanto, este tópico fascinante gradualmente perde energia, acabando por desaparecer completamente, dando lugar a uma história de ciúmes entre mulheres e culminando num clímax exagerado e que não tem lugar no filme. Ainda assim, é bem mais interessante do que antecipava e deixa os espectadores com um cenário muito interessante de “e se fosse eu?”.

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