Crítica – Lisa Frankenstein

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Lisa Frankenstein é uma das primeiras desilusões deste ano.

Histórias baseadas em contos do Dracula ou Frankenstein despoletam sempre um interesse especial em mim, apesar das adaptações cinematográficas serem tantas que já se perdeu a conta. No caso de Lisa Frankenstein, é uma mistura de fatores: um elenco principal jovem com imenso potencial, uma premissa coming-of-age com maior vertente feminina, uma atmosfera claramente cómica sem se levar demasiado a sério, uma realizadora estreante em longas-metragens (Zelda Williams) e a argumentista de obras como Jennifer’s Body e Juno (Diablo Cody). Os ingredientes de qualidade estão presentes, mas será que as expetativas foram cumpridas?

Lisa Frankenstein foca-se em Lisa (Kathryn Newton), uma adolescente incompreendida e pouco social na sua escola secundária com uma infância marcada por uma tragédia inesquecível. Após uma série de circunstâncias divertidamente horríveis, a protagonista ressuscita um cadáver (Cole Sprouse) e ambos embarcam numa aventura de auto-(re)descoberta pelo meio de muito amor, sangue, felicidade e morte. Tudo envolvido num ambiente campy estabelecido por Williams desde os primeiros minutos.

O elenco é, sem dúvida, o maior destaque de uma obra que exige compromisso e dedicação totais para com os seus papéis propositadamente exagerados. Lisa Frankenstein é um horror-comédia em todo o seu esplendor, abraçando todas as caraterísticas provenientes da mistura destes géneros. Os elementos de horror encontram-se mais nos aspetos técnicos, tais como a maquilhagem nojenta e asquerosa – bem visível no cadáver e em mortes macabras – no guarda-roupa negro e na produção artística bastante ‘Halloweenesca’.

No entanto, são as prestações de Newton (Freaky), Sprouse (Moonshot) e Liza Soberano (Alone/Together) – interpreta Taffy, irmã de Lisa – que mais contribuem para o sucesso do filme. A performance secundária de Soberano poderá passar ao lado de alguns espetadores, mas a capacidade da atriz em ir do ‘oito ao oitenta’ e vice-versa é, no mínimo, surpreendente. Tal como Newton – que finalmente me convence do seu real talento -, ambas possuem alcance emocional e expressividade perfeitos para um filme campy como Lisa Frankenstein. Devido ao maior tempo de ecrã e ao que a narrativa lhe pede, Newton tem mais oportunidades para demonstrar a sua criatividade e liberdade em explorar vários caminhos.

Sprouse impressiona com uma das melhores performances que vi na sua carreira. Um papel silencioso onde o ator é obrigado a depender exclusivamente das suas expressões faciais e corporais, assim como meros sons com a garganta. Tal como o resto do elenco, entendeu a missão sem problemas, entregando-se de corpo e alma a um personagem que não vai esquecer tão depressa. Nota ainda para Carla Gugino (The Haunting of Hill House) que roubou os holofotes por completo nos poucos minutos que teve.

Infelizmente, o argumento de Cody necessitava do mesmo nível de compromisso dos atores com a atmosfera leve e brincalhona criada. Lisa Frankenstein tem alguns momentos divertidos, mas espalhados sem a estrutura e consistência necessárias para causarem um impacto genuíno em quem assiste. Parece que a cada dez minutos, Williams e Cody ficam com receio de continuar com o tom gerado desde o início, alternando entre cenas mais sérias que não encaixam tão bem na narrativa em questão, pois acabam por nunca ser exploradas profundamente.

De forma geral, existe uma falta de conexão para com as personagens cujos arcos são tão superficiais e genéricos que o sentimento de indiferença predomina durante a conclusão de uma história já por si previsível e formulaica. A falta de uma linha central temática clara sobre esta jornada de auto-descoberta deixa Lisa Frankenstein num limbo de incerteza que simplesmente termina em desilusão.

A pouca evolução das personagens, nomeadamente da protagonista, juntamente com uma determinada decisão fútil no terceiro ato deixaram com um vazio estranho no final. Lisa Frankenstein não é, de todo, um “mau filme”. No entanto, é uma obra que dificilmente ficará na memória dos espetadores, pelo menos aqueles que vierem à procura de ‘algo mais’…

VEREDITO

Lisa Frankenstein é a primeira desilusão deste ano. O elenco jovem dedica-se totalmente aos seus papéis campy, empregando as emoções exageradas e expressividade necessária para um serão repleto de entretenimento leve, mas com os níveis de sangue e macabrismo prometidos. No entanto, o argumento peca pela falta desse mesmo compromisso com o absurdo, perdendo consistência tonal e temática ao longo de uma narrativa menos criativa que o previsto. A indiferença e incerteza perante o ponto e mensagem da obra deixam um sabor final… amargo.

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