Crítica – His Dark Materials (2ª temporada)

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His Dark Materials termina a sua segunda temporada com decisões narrativas e de personagem que irão gerar opiniões divisivas.

Sinopse: “A segunda temporada de His Dark Materials começa depois de Lord Asriel (James McAvoy) abrir uma ponte para um novo mundo e, perturbada com a morte do seu melhor amigo, Lyra (Dafne Keen) segue Asriel para o desconhecido. Numa estranha e misteriosa cidade abandonada, conhece Will (Amir Wilson), um rapaz do nosso mundo que também está a fugir de um passado conturbado. Lyra e Will aprendem que estão destinados a reunir Will com o seu pai, mas são constantemente postos à prova enquanto uma guerra se começa a formar em seu redor. Entretanto, a Mrs. Coulter (Ruth Wilson) procura por Lyra, determinada em trazê-la para casa por qualquer meio necessário.”

A HBO está de volta com a série que deveria substituir Game of Thrones como o enorme sucesso do estúdio. A temporada de estreia de His Dark Materials foi um bom começo (crítica aqui), mas as várias histórias complexas não se misturaram muito bem. É uma narrativa extremamente densa que Jack Thorne (o único argumentista da primeira temporada) teve alguns problemas em adaptar. Agora, não só traz Francesca Gardiner, Sarah Quintrell, Namsi Khan e Lydia Adetunji para o ajudar a co-escrever os episódios, mas Francesca chega mesmo a escrever todo o quinto capítulo. A última temporada também teve cinco realizadores diferentes, ao passo que esta tem apenas Jamie Childs e Leanne Welham no controlo de toda a temporada.

Sendo assim, antes de passar para a crítica em si, apenas um pequeno esclarecimento: esta é realmente uma crítica sem spoilers para a segunda temporada, mas pode abordar spoilers da primeira temporada. Também estou a confiar no trailer oficial desta temporada como um guia para o que faz parte do conhecimento geral dos espetadores sobre a narrativa que será desenvolvida ao longo dos próximos sete episódios, incluindo quais atores/personagens aparecem, bem como a premissa básica de cada história. Dito isso, as minhas expetativas eram moderadamente altas para a continuação da aventura de Lyra e a sua conexão com a famosa profecia. Fiz binge aos primeiros cinco episódios numa só tarde… O que significa?

Significa que a segunda temporada de His Dark Materials é incrivelmente cativante. Normalmente, tento assistir a lançamentos de imprensa da mesma maneira que o público a partir do momento em que a série começa a ser transmitida, mas o tempo não me permitiu tal processo, logo encontrei-me com a necessidade de ver todos os episódios de seguida em vez de assistir um ou dois por dia.

No entanto, este método não foi forçado, muito pelo contrário. Todos os episódios encontram-se repletos ou com imensa ação ou decisões narrativas impactantes que fazem o plot avançar. Com exceção de um história secundária aparentemente irrelevante (já lá chego), todas as personagens têm um arco entusiasmante que acaba por afetar a narrativa principal.

Mundos Paralelos

Ao contrário da última temporada, onde Lyra era praticamente a única personagem que controlava o ritmo da série, esta temporada oferece a outras personagens enredos importantes, especialmente a Will Parry e a uma nova personagem do mundo deste último, Dr. Mary Malone (Simone Kirby). Will e Lyra acabam por cruzar-se e trabalhar juntos para descobrir que mistérios se escondem no novo mundo para o qual viajaram no final da última temporada. A sua relação passa pelo build-up e desenvolvimento necessários, sendo o ingrediente-chave do sucesso da temporada. Como protagonistas, Dafne Keen e Amir Wilson partilham uma química palpável, algo vital se a série pretende que o público sinta a sua ligação poderosa.

O papel de Will é muito mais impactante nesta temporada, talvez até mais do que o de Lyra. Se a primeira temporada foi uma introdução agradável e algo lenta ao que Philip Pullman criou na sua saga de livros, a segunda é um beacon de novos dados relevantes não só sobre as personagens, mas sobre as regras do “multiverso”. Desde viajar entre mundos a uma missão chocante que envolve um objeto tão importante como o Alethiometer, passando pela primeira aparição de John Parry (Andrew Scott) e a busca incessante da Mrs. Coulter pela sua filha, não deixo de escolher o arco da Dr. Mary Malone como o mais significativo de toda a série.

Sendo eu próprio um engenheiro, ciência era e sempre será uma área de grande interesse pessoal. Simone Kirby é excelente ao interpretar a física. A sua pesquisa académica atual e o seu passado com a religião acabam por proporcionar uma descoberta que muda o jogo. Apesar da escrita geral da temporada ainda estar focada em exposições desnecessárias e diálogos básicos, os grandes momentos são todos entregues na perfeição. Todos os episódios são notavelmente envolventes e todos terminam de uma forma que deixa os espetadores ansiosos pelo próximo capítulo. A ação está sempre presente, logo esperem algumas situações de fazer roer as unhas e resultados surpreendentes.

Em relação ao elenco, Dafne Keen claramente mostra sinais de melhoria, mesmo apesar de ter começado a filmar a segunda temporada logo após o fim da primeira. Tal como Amir Wilson, ambos carregam muito mais expressividade e emoção agora, mas Amir ainda precisa de melhorar a sua prestação. As suas interações são, no mínimo, divertidas. Ruth Wilson teve a performance de destaque da última temporada e continua a demonstrar o seu talento inegável como a ameaçadora e assustadora Mrs. Coulter (que me mantém a questionar acerca das suas verdadeiras intenções). Ariyon Bakare tem mais tempo de ecrã como Lord Carlo Boreal, alguém que traz muitos problemas para os nossos protagonistas, ao contrário da Dr. Mary Malone, que ajuda Lyra (e os espetadores) a entenderem a razão por trás do nome da série e muito mais.

Estas quatro personagens são as rodas desta temporada e a maior parte do tempo de execução de cada episódio é gasto com as mesmas. As suas histórias individuais acabam por interligar-se e formar a narrativa principal. No entanto, acredito que dois outros subplots podem prejudicar a temporada se os dois últimos episódios não os usarem corretamente. Um deles apresenta Lee Scoresby (Lin-Manuel Miranda) a John Parry. Possuir atores extremamente aclamados numa série de televisão é ótimo para atrair audiência, mas pode ser simplesmente um esquema de marketing enganador.

His Dark Materials temporada

Por exemplo, James McAvoy só aparece em dois episódios durante a primeira temporada e não se vê nesta (embora tenha que reconhecer que a COVID-19 supostamente impactou um episódio standalone com Lord Asriel que não foi possível ser filmado). Uma circunstância semelhante ocorre com Lin-Manuel Miranda, que ainda tem uma história lateral relevante, mas o seu tempo de ecrã é lamentavelmente curto. O outro subplot envolve as bruxas e o Magisterium. Ruta Gedmintas é incrível como Serafina Pekkala, mas todo este drama de guerra com o Magisterium só serve como uma narrativa filler, pelo menos por enquanto. Não achei a mesma cativante em comparação com tudo o resto que está a acontecer, apesar de alguns dos melhores visuais e cinematografia de toda a série sejam demonstrados aqui.

Tecnicamente, a HBO raramente dececiona e a equipa de produção está carregada de pessoas tremendamente qualificadas. Joel Devlin e David Higgs são responsáveis pela linda cinematografia, oferecendo uma espécie de atmosfera cinemática distinta de outras séries de TV. A banda sonora de Lorne Balfe continua notavelmente viciante, não devido à música avassaladora, mas devido à sua subtileza ao longo de toda a série. A mesma também é editada de forma limpa e clara por todos os envolvidos nesta tarefa. Jamie Childs e Leanne Welham claramente trabalharam juntos para tornar esta temporada mais consistente ao longo da mesma, mas ainda acredito que o ritmo precisa de melhor controlo (se a última temporada foi um pouco lenta, a segunda poderá ser um pouco apressada).

Resumindo, His Dark Materials regressa com uma segunda temporada muito mais cativante e repleta de entretenimento. Com visuais impressionantes, uma cinematografia maravilhosa e uma banda sonora excecional, Dafne Keen e Amir Wilson carregam a história principal através de ação constante e surpreendentemente violenta, para além de desenvolvimentos narrativos chocantes, enquanto interpretam os protagonistas encantadores, Lyra e Will, respetivamente. A sua relação é tratada de forma consistente e inteligente, também funcionando como um sinal de STOP para o ritmo ocasionalmente apressado.

Ruth Wilson continua a entregar a prestação mais notável de todas, mas Dr. Mary Malone rouba os holofotes, tornando-se numa das personagens mais interessantes da série devido à sua linha narrativa crucial, que apresenta revelações verdadeiramente de fazer cair o queixo. Tirando um subplot envolvendo as bruxas e o Magisterium, todos os episódios movem-se muito bem através de decisões narrativas impactantes e sequências agitadas. Atores aclamados como James McAvoy, Lin-Manuel Miranda e Andrew Scott raramente aparecem durante os primeiros cinco episódios, mas os dois últimos ainda partilham uma história entusiasmante que poderá ter um grande impacto nos dois capítulos finais da temporada.

Nota ainda para a decisão (acertada) da produção em adicionar três argumentistas a Jack Thorne, assim como a escolha de apenas dois realizadores para comandar a filmagem completa da temporada. Se a primeira não convenceu os leitores na totalidade, a segunda temporada certamente o conseguirá.

Opinião final: Os dois últimos episódios são nada menos que chocantes. His Dark Materials termina a sua segunda temporada com decisões narrativas e de personagem que irão gerar opiniões divisivas. Ninguém sabia que a série iria terminar na próxima temporada no momento da exibição original, logo reagi a certas escolhas questionando fortemente as verdadeiras razões por detrás das mesmas, uma vez que a maioria parece extremamente apressada, vinda do nada e surpreendentemente underwhelming. Agora, sabendo que existe apenas mais uma temporada, tenho dificuldades entre considerar como dececionante ou razoavelmente decente, tendo em conta o status atual da série.

É uma pena que um world-building tão convincente e interessante tenha que terminar tão cedo. Esta série podia facilmente criar novas histórias para durar anos. Com um elenco talentoso e visuais fantásticos, podia realmente tornar-se numa das maiores séries da HBO. No entanto, observando a mesma agora, contratar James McAvoy, Lin-Manuel Miranda e até Andrew Scott não foi nada mais do que um esquema de marketing para obter mais espectadores. Entrar numa terceira e última temporada mal conseguindo ver estes atores, principalmente McAvoy, é uma desilusão profunda e estes últimos episódios não resolvem o problema.

Continua a ser uma melhoria em relação à temporada de estreia e o episódio standalone focado em Lord Asriel que a pandemia global “roubou” certamente melhoraria as peças que faltam de storytelling. Assim, tendo tudo em conta, ainda me sinto bastante satisfeito com a forma como Jack Thorne e os seus colegas co-argumentistas ligaram as várias histórias. Vamos todos esperar por um final excelente!

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