Crítica – Ghostbusters: Frozen Empire

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Ghostbusters: Frozen Empire fica bem aquém do seu antecessor, mas os membros do elenco clássico e do novo injetam energia, charme e emoção suficiente para compensar as inconsistências narrativas e problemas de ritmo.

Começo com um aviso importante para todos os leitores, pois é natural que a próxima opinião desencadeie reações fortes. Como alguém nascido em 1994 e proveniente de um país europeu pequeno, Ghostbusters (1984) nunca foi um clássico marcante da minha infância ou adolescência, pelo que não sinto qualquer nostalgia que muitos outros possuem sobre a obra original, apesar de desfrutar da mesma. Dito isto, (re)assisti à mesma, Ghostbusters II e Ghostbusters: Afterlife nesta semana de preparação para Ghostbusters: Frozen Empire e – aí vem o hot take – considero a sequela de 2021 o meu filme favorito da famosa franquia. Aliás, comparando diretamente com o original – mais um hot take – para lá dos inevitáveis melhoramentos visuais, Afterlife contém mesmo melhor humor, personagens e elenco.

Entendo que desejem fechar a página após ler este último parágrafo, mas a verdade é que todos nós olhamos para o mundo de forma diferente e temos vidas inseridas em culturas totalmente distintas, pelo que é mais do que normal existirem opiniões completamente opostas sobre clássicos lançados há 40 anos atrás. Evidentemente, existe sempre uma espécie de aura protetora de obras culturalmente impactantes, como se fosse proibido alguém apenas “gostar” em vez de “idolatrar” as mesmas, quanto mais genuinamente não apreciar tais filmes. Importante voltar a referir que gosto de Ghostbusters, apenas não tanto como Afterlife.

Independentemente de qualquer opinião sobre os filmes anteriores, Frozen Empire continua a história principal, situando a sua ação dois anos depois dos eventos do último filme. Desta vez, o antagonista fantasmagórico provém dos tempos antigos dos deuses, obrigando o realizador e co-argumentista Gil Kenan – que troca papéis com Jason Reitman – a reunir as duas gerações de Ghostbusters para combater um novo inimigo e salvar a humanidade de uma nova Idade do Gelo.

Se existe elemento comum em todos os Ghostbusters é a atmosfera leve, cómica e abertamente tonta que rodeia os filmes. Naturalmente, a adição de um elenco mais jovem e o foco maior em Phoebe Spengler (Mckenna Grace) – é, sem dúvidas, a personagem mais próxima de ter um tratamento de protagonista – altera ligeiramente o público-alvo das piadas, mas o tipo de humor é semelhante. Frozen Empire brinca com a química entre membros do elenco clássico e do novo, sendo as interações entre as personagens um destaque positivo do filme, apesar de não ter o mesmo impacto do seu antecessor.

Porquê? Pergunta mais complicada do que parece, pois Frozen Empire até acaba por resolver um problema que já vem desde a primeira sequela. Finalmente, o enredo deixa para trás Zuul e Gozer para trazer Garraka, um Deus demónico capaz de controlar outros fantasmas e literalmente congelar tudo em que toca. Obviamente, o terceiro ato segue a fórmula que marcou a franquia, mas desta vez, existe este aspeto refrescante de não saber exatamente como a ação se vai desenrolar. Infelizmente, a inconsistência narrativa e até em termos de entretenimento retira alguma imersão e desfrutação geral.

Contrariamente a Afterlife em que Bill Murray, Dan Aykroyd e Ernie Hudson apenas aparecem no fim numa espécie de cameos prolongados, Frozen Empire utiliza-os como personagens secundárias com tanto tempo de ecrã como outras – tirando Murray que aparece mais espaçadamente – obrigando Kenan e Reitman a vários malabarismos para conseguirem dar algo que fazer a cada um. Inevitavelmente, o foco narrativo, temático e de entretenimento puro encontra-se constantemente a mudar, levando inclusive a uma primeira metade desnecessariamente lenta e com pouca informação relevante, tanto a nível de enredo como de personagem.

O arco de Phoebe é, de longe, o mais interessante. Aliás, tudo o que gire à volta da prestação fenomenal de Mckenna Grace (Gifted) e do turbilhão de emoções que a sua personagem enfrenta em Frozen Empire é extremamente cativante, sendo mesmo a personagem mais completa de toda a franquia por larga margem. Phoebe sozinha levanta temas sobre a importância de uma figura parental, o sentimento avassaladoramente isolador de não pertencer em lado nenhum, a solidão provocada por falta de amizades mais profundas e, até, um despertar do sentido sexual típico da puberdade. O problema é que colocar tantos enredos distintos aos ombros de uma única personagem leva não só a que outras não possuam tanto interesse, como não permite explorar a fundo nenhum dos tópicos em questão.

Dito isto, Frozen Empire cumpre com os requisitos mínimos, mesmo sendo um passo atrás relativamente a Afterlife. Paul Rudd (Ant-Man) e Carrie Coon (The Leftovers) possuem mais tempo de ecrã juntos, levando a uma dinâmica engraçada entre dois atores talentosos e com charme natural. Finn Wolfhard (Stranger Things) nunca me conquistou enquanto ator e continua sem impressionar nesta saga ao interpretar um personagem sem rumo – passa mais tempo a lidar com um fantasma aleatório no sótão que com outras personagens. Kumail Nanjiani (Eternals) não começa muito bem, mas com o desenrolar da narrativa, acaba por ter algumas das linhas de diálogo mais cómicas de todo o filme ao representar um novo personagem sobre quem prefiro manter o silêncio de forma a prevenir spoilers. E, claro, os membros do elenco original mantêm aquela aura nostálgica em volta das personagens icónicas que representaram inicialmente há quatro décadas atrás.

Tecnicamente, Frozen Empire não se destaca muito. É sempre divertido ver os velhos aparelhos com que caçam fantasmas de volta e, obviamente, alguns novos que levam a sequências bastante entusiasmantes, mas no geral, os melhoramentos audiovisuais não se notam. A banda sonora de Dario Marianelli (Atonement) também não fica propriamente na memória. Sinceramente, o guarda-roupa é capaz de ser o elemento técnico que mais se destaca por razões óbvias.

VEREDITO

Ghostbusters: Frozen Empire fica bem aquém do seu antecessor, mas os membros do elenco clássico e do novo injetam energia, charme e emoção suficiente para compensar as inconsistências narrativas e problemas de ritmo. A prestação notável de Mckenna Grace carrega a obra aos ombros, mas colocar os pesos narrativo, temático e emocional numa só personagem gera problemas inevitáveis. Dificilmente se tornará na sequela favorita dos fãs da franquia, mas não deixa de ser uma aventura com entretenimento mínimo para satisfazer famílias um pouco por todo o mundo.

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