Crítica – Furiosa: A Mad Max Saga

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Furiosa: A Mad Max Saga aprofunda a sua protagonista epónima e o mundo pós-apocalíptico respetivo, oferecendo uma história de origem cativante que enriquece Fury Road, mas cuja duração excessiva, previsibilidade e tempo gasto em colmatar falhas da outra parcela prejudicam a desfrutação da mesma.

Quando é anunciada uma continuação – seja sequela, prequela ou spin-off – de uma obra altamente bem sucedida tanto comercialmente como financeiramente, surge a pergunta do costume: porquê? Porque não deixar o filme inicialmente planeado como apenas e só um filme em paz? Existe necessidade ou sequer história suficiente para criar outra obra no mesmo mundo fictício? O que terá esta nova parcela para oferecer? As perguntas são imensas, mas no fim das contas, as mesmas desaparecem se Furiosa: A Mad Max Saga cumprir com a antecipação tremenda do público geral e críticos pelo mundo fora.

George Miller criou a fraquia Mad Max nos anos 80, mas apesar do seu sucesso tremendo na altura, foi com Fury Road – com a ajuda do seu co-argumentista, Nico Lathouris – que a saga chegou a outro patamar. Considerado pela vasta maioria de espetadores uma verdadeira obra-prima do género de ação, a personagem interpretada brilhantemente por Charlize Theron é frequentemente mencionada como uma das personagens femininas mais poderosas e corajosas do século XXI, pelo que é mais do que natural que Furiosa surja como a história de origem que tantos desejavam ver.

Nesta obra, Furiosa – Alyla Browne (Sting) representa uma versão mais jovem enquanto que Anya Taylor-Joy (The Witch) entra na fase mais adulta – é raptada de um local mítico e fértil: Green Place of Many Mothers. Acaba por cair nas mãos de um senhor da guerra chamado Dementus (Chris Hemsworth), líder de um bando de motociclistas que, ao deambular pela Wasteland, depara-se com a Citadel governada por Immortan Joe (Lachy Hulme). Enquanto que os dois tiranos lutam pelo domínio, Furiosa tenta sobreviver a uma batalha infindável para regressar a casa.

Pessoalmente, fiquei tão impressionado com Fury Road no ano de estreia que nunca tive dúvidas sobre o quanto este merecia o rótulo tão cobiçado de obra prima. No entanto, com o passar dos anos e subsequentes visualizações caseiras, a falta de profundidade das personagens e até dos próprios temas pós-apocalípticos, para lá de um world-building mais guiado por exposição do que propriamente demonstração visual, começaram a tornar-se problemas mais pesados. Abordando exclusivamente a ação? Obra Prima, com certeza absoluta. Mas analisando a pintura completa, faltam algumas pinceladas para me levar ao mesmo nível de adoração de muitos outros fãs, apesar de considerar uma das melhores obras de ação da década respetiva.

Dito isto, as expetativas pessoais eram altas à entrada para Furiosa e, após 24h de muito processamento mental, cheguei à conclusão de que a desfrutação dos dois filmes interligados depende da perspetiva escolhida para os analisar. Olhando para Furiosa como prequela a Fury Road, os problemas em ambas as obras tornam-se mais evidentes, pois cada uma tem o que falta na outra. Olhando para Fury Road como sequela a Furiosa, a maioria destes problemas resolve-se automaticamente. Como? Passo a explicar.

Furiosa encontra-se no seu melhor quando decide focar-se e explorar a fundo a sua protagonista epónima. Miller divide a prequela em cinco capítulos marcados pelos respetivos cartões de fundo preto e título branco, concentrando-se inicialmente numa Furiosa criança já muito capaz e independente. Sem medo de nada nem de ninguém, a personagem principal segue um arco típico de vingança, mas ao contrário de Fury Road, onde a sua jornada de redenção é baseada nas poucas palavras que profere sobre o seu passado e objetivo final, os ingredientes vitais para justificar tal dedicação extrema são apresentados e desenvolvidos durante uma hora inteira.

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Furiosa: A Mad Max Saga

Durante estes primeiros capítulos, Furiosa também contribui para um world-building mais palpável ao percorrer locais apenas mencionados em Fury Road, como se os espetadores já os tivessem visitado no passado. Desde Gas Town até Bullet Town, não esquecendo o tal paraíso verde de onde vem a protagonista, Miller completa visualmente um mundo que o próprio apresentou em 2015 exclusivamente através de palavras. A escala épica ilustrada pela cinematografia belíssima de Simon Duggan (Hacksaw Ridge) é complementada agora pela dimensão narrativa que John Seale – cinematógrafo de Fury Road – não teve.

Assim, assistindo a Furiosa primeiro e Fury Road posteriormente, os problemas relativos à falta de personagens desenvolvidas e world-building são bastante amenizados, pois existe uma obra de 148 minutos de duração que não só aprofunda a personagem dramática central de Fury Road – Max pode ser o protagonista, mas a maioria dos temas principais passam por Furiosa – como, de facto, apresenta visualmente o tal mundo apenas descrito na outra obra. No entanto, nem tudo se resolve…

Furiosa não justifica a sua duração extensiva e sofre imenso com o facto de Fury Road ser constantemente mencionado como uma das obras de ação mais espetaculares de sempre, pois todos vão esperar mais do mesmo quando Furiosa nem devia ser um filme de ação. Aliás, as durações respetivas deviam ser trocadas: a prequela beneficiaria de um tempo de execução mais curto, enquanto que o filme de 2015 podia ir ainda mais longe com a sua ação. Fury Road é uma história pura de sobrevivência, pelo que as inúmeras sequências de ação frenéticas e consecutivas sem deixar espaço para recuperar a respiração acabam por aparecer naturalmente ao longo do filme. Em Furiosa, apesar da menor quantidade de ação e um ritmo mais ponderado, a necessidade de inserir um momento mais energético é mais notória e, por si, mais forçada, pois a vasta maioria do público não entrou no cinema à espera de uma narrativa crescimento ou um drama lento e sem eventos.

É a típica obra de duas metades. Miller gasta demasiado tempo com a criança Furiosa, não só narrativamente – chega a um ponto onde já não se está a acrescentar nada a esta versão jovem da protagonista -, mas igualmente em termos de ação com sequências desnecessárias e, no fim das contas, irrelevantes para o enredo geral. As sequencias de ação não deixam de ser impressionantes, contendo acrobacias com carros e camiões absolutamente fenomenais, mas admito não sentir a mesma aura de Fury Road – o facto de ser tudo muito semelhante tira aquela sensação de novidade entusiasmante.

A narrativa em si acaba também por ser muito previsível devido ao facto de sabermos como termina, o que remove sempre o fator surpresa tantas vezes menosprezado, mas que possui muito impacto. Por outro lado, é um argumento tematicamente mais rico e com um arco de vingança mais convincente do que o arco de redenção de Fury Road. Tom Holkenborg regressa como compositor e volta a complementar bem a ação, desta vez de Furiosa, num trabalho consistente e que transmite os níveis de adrenalina necessários para desfrutar mais das sequências insanas.

Sobram as prestações. Taylor-Joy tinha sapatos bem grandes para calçar, pois a performance de Theron é uma das mais memoráveis dos últimos vinte anos. Apesar de não chegar a esse patamar supremo, a jovem atriz entrega-se de corpo e alma a Furiosa, fazendo-me, acima de tudo, acreditar que esta é a tal mulher badass que marca Fury Road. Com pouquíssimas linhas de diálogo, senti-me igualmente investido no arco da protagonista em muito devido ao tal carisma impactante de Taylor-Joy. Browne também merece inúmeros elogios por uma prestação soberba para os meros 14/15 anos que possui.

Mas eis que surge Hemsworth (Thor) num dos melhores papéis da sua carreira. Para quem assistiu a Bad Times at the El Royale, esta transformação do ator mais conhecido por ser um dos heróis mais adorados da Marvel não será surpreendente. Sempre considerei Hemsworth um dos atores mais subvalorizados de Hollywood e, em Furiosa, o mesmo comprova o seu talento nato para representar este tipo de personagens extravagantes. Apesar da maquilhagem facial necessitar de uns minutos de ajuste – torna o ator tão diferente que se torna genuinamente distrativo -, a sua interpretação de Dementus faz jus ao nome do personagem.

Termino como comecei: desfrutar de Furiosa e, consequentemente, de Fury Road, dependerá da perspetiva escolhida pelos espetadores para analisar as obras respetivas. Pessoalmente, considero que assistir a Furiosa primeiro torna Fury Road num filme mais completo e merecedor do tal rótulo que muitos gostam de lhe atribuir. Ao contrário, os problemas simplesmente tornam-se mais evidentes. De qualquer das maneiras, são dois filmes repletos de entretenimento épico no deserto que não imagino não agradarem à vasta maioria de quem assista aos mesmos.

VEREDITO

Furiosa: A Mad Max Saga aprofunda a sua protagonista epónima e o mundo pós-apocalíptico respetivo, oferecendo uma história de origem cativante que enriquece Fury Road, mas cuja duração excessiva, previsibilidade e tempo gasto em colmatar falhas da outra parcela prejudicam a desfrutação da mesma. As sequências de ação não possuem o mesmo fator novidade nem ritmo frenético, mas as ação mantêm-se impressionante. As performances de Anya Taylor-Joy e Alyla Browne como Furiosa merecem elogios, tal como a interpretação insana de Chris Hemsworth. Dependendo da ordem de visualização escolhida, a perspetiva sobre ambas as obras muda drasticamente, mas no fim de tudo, não deixam de ser recomendações cinéfilas obrigatórias.

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