Crítica – First Cow

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Um filmes simples e com uma ótima mensagem, mas pode não ser para qualquer um.

First Cow

Sinopse: “Um cozinheiro solitário e habilidoso, Cookie (John Magaro), viajou para o oeste e juntou-se a um grupo de caçadores de peles no território de Oregon, embora apenas encontre uma conexão verdadeira com um imigrante chinês, King-Lu (Orion Lee), também em busca da sua fortuna. Depressa os dois colaboram num negócio de sucesso, embora a sua longevidade dependa da participação clandestina de uma vaca leiteira de um rico proprietário que vive nas redondezas.”

Adoro assistir a filmes o mais “cego” possível: sem trailers e com uma quantidade mínima de informações sobre o enredo (ou nenhuma). A A24 tornou-se um estúdio tão popular que nem preciso de saber mais nada sobre o filme, aceito sempre ver. Universal, Paramount, Warner Bros., Disney e Columbia podem ser os “Big Five” dos estúdios de cinema, mas gradualmente as pessoas estão a começar a desviar a sua atenção para estúdios menores e independentes que nos fazem chegar menos filmes por ano, mas com um rácio maior de películas excecionais. Este é, também, o primeiro filme que vejo de Kelly Reichardt. Uma pesquisa rápida demonstra que os seus projetos estão destinados a dividir fortemente críticos e público, logo de que lado fico desta vez?

Não querendo parecer condescendente, mas First Cow pertence à categoria de filmes que o público odeia e os críticos adoram simplesmente devido ao ritmo lento e à história minimalista. O público verá este filme como uma história aborrecida, longa e vazia de quaisquer eventos, enquanto que críticos não só apreciarão os seus notáveis atributos técnicos, mas também a narrativa bonita e simples que entrega uma mensagem bastante importante sobre amizade, lealdade, mas também sobre ganância e poder. Não me encontro em nenhum dos extremos, mas estou claramente do lado positivo. No geral, concordo com os elogios e críticas negativas de cada grupo.

Por um lado, esta pequena história é refrescante e muito relaxante, tendo em conta que Hollywood encontra-se repleto de blockbusters visualmente avassaladores. É um par de horas estranho, mas terapêutico, onde o espetador segue dois amigos a tentar, simplesmente, viver. Cookie tem as habilidades culinárias e ideias inteligentes, enquanto King-Lu usa o seu sentido de oportunidade para dar vida às ideias do seu amigo. A química entre John Magaro e Orion Lee é fenomenal, transformando a amizade das personagens em algo incrivelmente autêntico. Os diálogos são espontâneos e realistas. A edição (também realizada por Reichardt) contém poucos cortes, deixando as conversas fluírem naturalmente e a ação desenrola-se através de um ritmo lento e calmo (na vida real, as coisas não chegam rapidamente umas após as outras).

First Cow

Por outro lado, a narrativa simplista de First Cow também é bastante previsível e perde a atenção do espetador ocasionalmente devido ao constante arrasto de várias sequências onde nada realmente acontece, tanto em termos de história como de personagem. É, sem dúvida, um slow-burn, algo que não tem nada de errado, mas não é capaz de ser eficaz durante todo o tempo de execução. A cinematografia de Christopher Blauvelt é deslumbrante e a banda sonora subtil de William Tyler é particularmente agradável, mas os visuais e a atmosfera não conseguem carregar um argumento inteiro por mais de duas horas. Quando a história entra num ciclo de eventos mais “ativo”, é definitivamente cativante, mas encontra-se presa durante períodos curtos espalhados ao longo de todo o filme.

No final, o argumento bem escrito de Reichardt e Jon Raymond transmite uma mensagem muito simpática desenvolvida através de duas personagens que precisam de encontrar uma maneira de ganhar a vida. As suas personalidades são distintas, equilibrando a amizade com as qualidades e falhas pessoais de cada um. Reichardt pega na narrativa co-escrita e dá-lhe uma excelente direção, o que aparentemente ofereceu a esta dupla grande sucesso nas suas carreiras. Espero que continuem a fazer filmes para todos gostarem, uns mais do que outros.

Assim, First Cow possui uma das marcas registadas do estúdio A24: storytelling não convencional. Kelly Reichardt e Jon Raymond entregam um argumento bem redigido, contando uma história minimalista que provavelmente dividirá críticos e público devido ao seu ritmo propositadamente lento e à narrativa vazia de eventos. Reichardt, que também editou o filme, agarra-se à premissa simples e emprega uma realização realista, terra-a-terra e com várias camadas, caraterizada por conversas genuínas e uma amizade verdadeira. John Magaro e Orion Lee oferecem prestações perfeitas, elevando as personagens com uma química emocionalmente palpável. Uma cinematografia bela e uma banda sonora subtil ajudam o filme a criar uma atmosfera relaxante diferente dos filmes habituais de Hollywood.

No entanto, o tempo de execução de First Cow apresenta momentos que se arrastam em demasia. A história tem um desenvolvimento previsível e, embora a mensagem do filme seja bonita, pode-se tornar uma aventura um pouco aborrecida de se experimentar. No geral, recomendo a qualquer leitor que deseje assistir, em paz e sossego, a um filme simples com uma ótima mensagem sem se importar com quanto tempo demora para chegar ao fim.

Manuel São Bento
Manuel São Bento
Crítico português individualmente aprovado no Rotten Tomatoes com uma enorme paixão pelo cinema, televisão e a arte de filmmaking. Uma perspetiva imparcial de alguém que parou de assistir a trailers desde 2017. Membro de associações como Online Film Critics Society (OFCS), The International Film Society Critics (IFSC) e Online Film & Television Association (OFTA). Portfolio: https://linktr.ee/manuelsbento
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