Crítica – Rebecca

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A versão da Netflix de Rebecca perde-se ao tentar equilibrar tantos géneros em apenas um filme.

Rebecca

Sinopse: “Depois de um romance turbulento em Monte Carlo com o belo viúvo Maxim de Winter (Armie Hammer), a jovem recém-casada (Lily James) chega a Manderley, a imponente propriedade da família do seu novo marido, na costa inglesa varrida pelo vento. Ingénua e inexperiente, começa a habituar-se à sua nova vida, mas vê-se a lutar contra a sombra da primeira esposa de Maxim, a elegante e sofisticada Rebecca, cujo assustador legado é mantido vivo pela sombria governanta de Manderley, a Mrs. Danvers (Kristin Scott Thomas).”

Rebecca, da Netflix, é baseado no livro homónimo de 1938 da autora Daphne du Maurier, mas não é sua primeira adaptação cinematográfica, o que me leva à seguinte declaração vergonhosa: nunca vi a famosa versão de Alfred Hitchcock (nem li a fonte original, mas defendo firmemente que isto não importa). É o único filme da filmografia de Hitchcock a receber o Óscar de Melhor Filme, logo admito que estou muito em falha nesta situação.

No entanto, Ben Wheatley não realizou um remake do filme original, mas sim outra adaptação do também incrivelmente popular livro. Fiquei intrigado com a premissa e o elenco é definitivamente interessante, por isso, como correu esta visualização? Se tivesse que escolher uma palavra para descrever Rebecca neste momento, provavelmente seria… estranho. Mas já lá vamos.

Começo pelos pontos positivos. Armie Hammer e Lily James partilham uma química tão vívida que eleva a ligação surpreendentemente convincente que as personagens formam. Escrevo “surpreendentemente” pois não sou facilmente envolvido na maioria dos relacionamentos românticos em filmes, sejam estes últimos simplesmente romances ou misturados com outros géneros, como comédia ou, como neste caso, horror/thriller. No entanto, Lily e Armie são capazes de capturar perfeitamente o crescente interesse amoroso um pelo outro ao longo do primeiro ato, que é inteiramente dedicado a desenvolver e nutrir a relação-chave do filme.

Rebecca

Isto leva-me a algo que aprecio: quando os cineastas sabem como controlar o ritmo e quanto tempo uma determinada personagem ou enredo deve receber de build-up. Wheatley faz um trabalho impressionante durante a primeira metade do filme, movendo as personagens e o plot para a frente no momento exato em que precisam. Permite que o espetador entenda o que as personagens estão genuinamente a sentir e o porquê de algumas decisões narrativas, que mudam o curso da história, serem eventualmente tomadas. Lily James oferece uma prestação notável, tal como Armie Hammer. Kristin Scott Thomas também é excelente, embora a sua personagem seja parte dos meus problemas com o filme. No entanto, é a produção artística que se destaca!

As cores belas e paisagens deslumbrantes da Riviera Francesa enchem o ecrã de luxo e harmonia durante o início apaixonado da relação. Quando a narrativa se move para Manderley, o tom muda para um ambiente gradualmente mais deprimente e sombrio, acompanhado por uma banda sonora creepy (Clint Mansell) e pesadelos assustadores. O guarda-roupa adequado também ajuda a estabelecer a atmosfera, mas o início da segunda parte é onde o filme começa a ficar extremamente estranho.

Desde o primeiro momento em que o espetador se instala em Manderley, nota-se claramente que algo não está certo. Todos referem a falecida esposa, Rebecca, como o ser humano mais perfeito que alguma vez existiu, recebendo mesmo elogios divinos numa clara tentativa de tentar criar o clichê “esposa anterior era incrível, a nova é horrível, vamos fazer da sua vida um inferno”. Um desenvolvimento esperado com comentários exageradamente positivos por parte do staff da casa.

Porém, é a vibe de horror que abraça a mansão que me deixa com os cabelos em pé. Wheatley estabelece um ambiente escuro, misterioso e até sobrenatural em volta da casa, um aspeto intrigante que leva a uma conclusão extremamente dececionante, vazia e nada satisfatória.

Do primeiro ao segundo ato, o género em exibição muda de um romance divertido e leve para um horror/thriller numa mansão “assombrada”. A mudança de tom está longe de ser suave. Contudo, o terceiro ato guarda uma mudança drástica em praticamente tudo: tom, género, história e até mesmo personagens. Não posso entrar em detalhes, mas é a decisão mais incompreensível de todo o filme. O último ato não só segue um caminho que surge do nada como é incrivelmente apressado, concluindo a película da maneira mais desarticulada e atrapalhada possível.

Rebecca

Levanta questões relacionadas com eventos e personagens do ato anterior, trata Mrs. Danvers muito mal e termina com uma última imagem enganadora que faz o espetador pensar “será que perdi alguma coisa?” quando a resposta é um claro “não, é apenas um final estranho”. A banda sonora de Clint Mansell é cativante, mas o timing da sua utilização sai completamente ao lado.

É este sentimento de falsa incerteza que me deixa frustrado. Com que objetivo é que se tenta fazer um filme sobre algo que não é suposto? Para quê tentar dar uma vibe de horror a Rebecca se não leva a nenhum resultado impactante? Terminei o filme com dúvidas que não têm razão para existir, simplesmente porque as perguntas nunca deveriam ter sido feitas pela história em primeiro lugar…

Para concluir, a versão da Netflix de Rebecca perde-se ao tentar equilibrar tantos géneros em apenas um filme. Ben Wheatley faz um ótimo trabalho relativamente ao controlo do ritmo, oferecendo tempo suficiente ao desenvolvimento das personagens principais e da sua relação. Todavia, as mudanças de tom estão longe de serem bem executadas, levando a um último ato totalmente absurdo, apressado e confuso, surgido do nada, levantando questões lógicas e deixando o espetador com uma falsa sensação de incerteza.

Rebecca tem uma primeira metade bem estruturada e divertida, compensando parcialmente a estranheza que engloba a segunda parte. Lily James e Armie Hammer entregam prestações notáveis, assim como Kristin Scott Thomas, mas a produção artística (apoiada por um guarda-roupa fantástico) rouba os holofotes. A banda sonora de Clint Mansell não passa despercebida, mas o seu uso e timing são excecionalmente ineficientes. No final, a tentativa de criar uma atmosfera de horror com o enredo da mansão “assombrada” é tão anti-climática que não consigo propriamente recomendar este filme…

Acesso ao filme via NetflixRebecca já está disponível na conhecida plataforma de streaming.

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2 Comentários

  1. Gos de sua análise, eu senti o mesmo que você. Na última parte , tive que voltar várias vezes porque sentia que não havia entendido algumas coisas e ainda assim, fiquei com dúvidas. Não posso dizer se gostei do filmes.

  2. Eu schei o filme bem dirigido e como nao se tratsa de uma nova versao. Achei muito bacana. Na verdade lembra muuto os fimes do hitchcook aquele suspense leve. Mais empogante. Quem. Nao se lembra de os passaros. Quer suspense. Mais eniguinatico. Do aquele.

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