Cryptozoo termina com mensagens importantes que desejo que todos levem no coração, mas não compensa a falta de empatia para com as personagens e o propósito principal.
Sinopse: “Cryptozoo é uma parábola fantástica desenhada à mão sobre a sociedade versus o indivíduo. Um zoológico que resgata criaturas mitológicas na cidade psicadélica de San Francisco da década de 60 corre contra o Exército dos EUA para encontrar e salvar um Baku, um ser japonês que come sonhos, para impedir que os militares usem os Baku para comer os sonhos da contracultura e suprimir o movimento anti-Guerra do Vietnam.”
Quando penso em animação 2D, imagino belas histórias contadas através de um estilo de desenho único que permite outro tipo de expressividade e emoções. Lembro-me logo de Wolfwalkers, um dos meus filmes favoritos de 2020. Honestamente, esperava que Cryptozoo seguisse uma fórmula semelhante, ostentando mensagens esclarecedoras sobre a forma como estamos a cuidar da Natureza, crueldade/exploração animal, caça excessiva e, claro, discriminação baseada na aparência de alguém. Dito isto, nunca antecipei uma representação tão chocante, violenta e sangrenta do que parecia ser uma aventura divertida que os pais pudessem mostrar aos filhos.
A menos que os vossos filhos sejam todos adultos, isto, claro, se forem pais, não recomendo que lhes mostrem Cryptozoo. Atenção, não escrevo isto de uma forma negativa. Dash Shaw desenvolve este seu conceito original de uma maneira não convencional, mas cativante, na tentativa de educar os espectadores através de sequências visualmente brutais, pelo que convém deixar um aviso para pessoas sensíveis. O problema é que, apesar do comentário social ser evidente e significativo, é-nos transmitido de uma forma tão desnecessariamente explícita que acaba por impactar negativamente quem assiste ao filme.
Embora o final compense parcialmente este problema, não consigo concordar com a maioria das motivações do personagem principal. Lake Bell oferece um maravilhoso trabalho de voz como a protagonista, Lauren Grey, assim como todos os outros do elenco. No entanto, incomoda-me que Lauren não tenha conseguido entender o que vinha a fazer de errado até que tudo seja demasiado flagrante. Achei quase impossível torcer por qualquer personagem, exceto todos os animais bonitos, o que me leva a terminar esta crítica numa nota positiva.
Mesmo que o estilo de animação seja confuso durante certas cenas de ação, ainda é incrivelmente envolvente e uma das principais razões pelas quais me senti cativado até ao final. Como amante dos animais e firme crente de seus direitos, devo mostrar gratidão pelo final do filme, que, sem dúvida, transmite a melhor mensagem possível sobre a liberdade do reino animal. Os últimos minutos são ainda mais importantes pelo facto de carregarem tantos outros assuntos tabu desenvolvidos ao longo do tempo de execução, o que acaba por educar o público da maneira mais simples. Uma última nota para a belíssima banda-sonora de John Carroll Kirby.
Cryptozoo é, sem dúvida, um dos filmes de animação 2D mais chocantes e violentos que alguma vez vi… e escrevo isto tanto como um elogio como um aviso para os espectadores mais sensíveis. Dash Shaw entrega aquele que pode muito bem ser um dos filmes mais divisivos desta edição do festival Sundance devido ao seu conteúdo visual e às suas escolhas narrativas e de personagens.
O trabalho de voz de todo o elenco merece elogios, nomeadamente o de Lake Bell, mas as personagens que todos retratam são extremamente difíceis de apoiar ou até mesmo concordar com as suas motivações. Apesar do final resolver este grande problema, todo o filme anda à volta de uma missão e um propósito no qual não só acredito que é errado, como a personagem principal também devia ter percebido que o seu sonho não iria funcionar mal o explicou em voz alta pela primeira vez.
A animação desenhada à mão é, por vezes, um pouco confusa, mas eleva um filme bastante complicado de se analisar. Levo as mensagens essenciais sobre a natureza, animais e até discriminação comigo. Espero que todos façam o mesmo.