Crítica – Black Adam

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Black Adam não impressiona, chegando mesmo a desiludir com o seu argumento formulaico e previsível quando se antecipava algo diferente.

Tal como a maioria dos espetadores, desconheço as histórias originais das bandas desenhadas de grande parte dos super-heróis que, hoje em dia, vão ocupando as salas de cinema. Seja DC, Marvel ou outro estúdio, o género em questão é, sem dúvidas, aquele que mais pessoas leva ao grande ecrã. E não é difícil de perceber o porquê.

Como fã deste tipo de obras, fico sempre mais entusiasmado quando se trata de um novo protagonista com o qual não sou familiar. A campanha de marketing à volta de Black Adam prometeu um filme que iria mudar para sempre a hierarquia de poder da DCEU, assim como deixar um impacto duradouro no próprio género… Cumpriu?

Sim e não. De facto, Black Adam introduz um super-herói que é perfeitamente capaz de combater qualquer ser apresentado no universo cinemático até agora. No entanto, a obra não consegue ultrapassar as barreiras formulaicas que rodeiam o argumento. Desde a estrutura narrativa à história em si, nenhum dos três argumentistas traz originalidade ou imaginação suficiente para escapar aos convencionalismos do género. Para além de previsível e simplesmente genérico, toda a informação essencial é transmitida através de cenas de exposição pesada durante todo o tempo de execução – sejam flashbacks, narração ou diálogos forçados.

Não importa se são óbvias ou importantes, Black Adam entrega revelações tão monotonamente que retira qualquer impacto associado às mesmas. O protagonista Black Adam não é um herói tradicional. Dwayne Johnson incorpora a personalidade aterrorizadora e guiada por raiva do seu personagem, adicionando ao enredo aquele que é o tema principal e mais interessante do filme. As regras morais e éticas de um super-herói moderno não combinam com a conduta mais agressiva e assertiva de Adam, originando conversas genuinamente fascinantes com Hawkman (Aldis Hodge) e Doctor Fate (Pierce Brosnan).

Pena que Jaume Collet-Serra se encontre dividido entre dois tipos de filmes diferentes. Por um lado, Black Adam é uma obra sombria focada num debate intenso entre o “bom” e o “mal”, entre o ser ou não ser misericordioso, entre a “justiça” e o “destino”. Por outro lado, momentos de humor quebram o tom mais dramático não só da obra geral, mas do próprio protagonista que se apresenta como alguém temível e para ser levado a sério. A comédia “à la Marvel” não resulta na atmosfera construída para este filme e a DC parece ter problemas em entender que obras funcionam com este tipo de humor.

Sinceramente, a explicação não é muito complicada. Apesar de ser alguém que começa a ficar cada vez mais cansado da comédia “marvelesca”, grande parte das obras do MCU estão pré-dispostas a receber esse mesmo ambiente mais leve. Desde a clara paleta de cores às personalidades divertidas dos heróis, sem esquecer o próprio tom leviano com que abordam temas mais sensíveis, a Marvel construiu o seu universo assim. Black Adam não devia sequer tentar ser cómico porque o seu protagonista não “está para brincadeiras”, em bom português. Chega a ser cringy uma personagem estar a tentar atirar piadas do nada quando Adam se encontra a processar os seus dilemas morais.

black adam

Assim, cria-se uma sensação estranha onde o espetador não sabe como reagir ao tom discordante de Black Adam. No entanto, o elenco consegue salvar uma boa parte do guião trapalhão. Tal como referido acima, os personagens de Hodge, Brosnan e Johnson possuem conversas interessantes sobre como cada um usa os seus poderes e como os “maus da fita” devem ser tratados. Johnson é um autêntico badass – a sua presença física é um fator de relevo – e Hodge é um excelente contra-parte, mas é Brosnan quem surpreende e rouba os holofotes com uma prestação incrivelmente absorvente. Quintessa Swindell destaca-se dos restantes com um carisma especial.

No que toca ao entretenimento-pipoca, o filme entrega várias cenas de ação repletas de energia e com uma produção sonora poderosa. O combate em si não impressiona – uso excessivo de CGI e slow-motion – mas quando todos os aspetos aparentam estar em sincronia – coreografia, efeitos visuais, banda sonora, trabalho de câmara, montagem – Black Adam brilha e proporciona sequências memoráveis. A música de Lorne Balfe transforma por completo os momentos mais impactantes, sendo o único elemento técnico que posso genuinamente definir como “épico” e “arrepiante”.

Uma última palavra para o departamento de marketing. Black Adam é dos filmes com maior publicidade dos últimos anos – Johnson também fez o seu papel – mas torna-se perigoso “vender” um conteúdo tão genérico como algo “nunca antes visto”. Expetativas altas levam mais facilmente a desilusões enganadoras, isto é, obras perfeitamente decentes sofrem com a opinião pública mais do que merecem precisamente devido ao intenso marketing que elevou em demasia a antecipação para o filme. Junte-se a isto um trailer que spoila o único – e bem eficaz – twist narrativo e criam-se condições para desapontar inúmeros espetadores.

Black Adam não impressiona, chegando mesmo a desiludir com o seu argumento formulaico e previsível quando se antecipava algo diferente. A banda sonora épica de Lorne Balfe e um elenco de luxo – Dwayne Johnson, Aldis Hodge e principalmente Pierce Brosnan são fenomenais – tentam elevar a ação e visuais decentes, mas os níveis de entretenimento razoáveis não compensam a estrutura narrativa antiquada. Exposição cansativa, história com pouca ou nenhuma criatividade e humor inconsistente impossibilitam a DCEU de dar “o próximo passo” de forma verdadeiramente impactante.

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